SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Minha namorada

Despertar e anoitecer assim,
lembrando de minha namorada.
A infância do menino
já querendo amar e amando
a doçura de uma morena e triste,
e desejando essa menina triste
como se a minha vida inteira
dependesse somente desse amor.
E de tanto amar essa mulher
com cheiro de sol e de chuva,
com feição de alegria e dor,
nem pude perceber que ela
tinha outros, centenas, milhares
de amores sofridos quanto eu.
A mulher dividiu-se em muitos
e eu fiquei sozinho em outro lugar,
por uma vontade própria
de continuar amando
e de saudade chorando em outro lugar.
Aceito tudo que me digam sobre ela
e gosto de ouvir falar sobre ela,
pois a distância não consegue
fazer esquecer MINHA TERRA!

Rangel Alves da Costa
PUXA-SAQUISMO DEVERIA SER CRIME, E HEDIONDO

Rangel Alves da Costa*


Infelizmente, nossos legisladores e os ilustres juristas responsáveis pela elaboração de projetos legislativos nunca tiveram a preocupação de incluir nos textos codificados a espécie de crime que seria tipificado como puxa-saquismo. A Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90), que trata dos crimes tidos como alarmantes, pavorosos, que causam indignação moral e repulsa da sociedade, também não cuidou de criminalizar a figura dessa abominável qualidade de gente que é o puxa-saco. É uma pena; deveria.
A tipificação do crime de puxa-saquismo seria simples: “É crime utilizar-se dos meios de comunicação, do diálogo pessoal com as demais pessoas ou de qualquer meio de escrita, com o intuito exclusivo de forjar a criação de uma imagem positiva de outra pessoa, instituição ou ente governamental. I – a pena será agravada e triplamente cominada se o beneficiado for algum político, com ou sem mandato; II – incorrerá na mesma pena aquele que denegrir a imagem de uma pessoa em benefício de outra. Pena: Reclusão, de 20 a 30 anos.”
No estado de Sergipe, por exemplo, teria que ser construído um cadeião, de segurança máxima, exclusivamente para comportar os puxa-sacos. E são tantos os bajuladores que espalham-se por aí que, à primeira vista, torna-se até difícil apontá-los perante características específicas. Agem como pessoas comuns, e até parecem comuns; comportam-se como pessoas normais, e até são normais em muitos aspectos. Contudo, são indivíduos perigosíssimos, com um desvio comportamental que há muito desafia a ciência, mas que muitos chamam de “baba-ovismo”.
Conceitualmente, o puxa-saco aquele que bajula a outrem, é a pessoa extremamente subserviente, lacaia; é o indivíduo adulador, “baba-ovo”, que “mata e morre” por um político com mandato - e até sem cargo eletivo -, pelo seu superior; é aquela pessoa que vive elogiando o seu idolatrado sob qualquer circunstância, ainda que esse o humilhe ou o trate mal; é ainda aquele que, para agradar o outro, só falta lamber-lhe os sapatos ou outras coisas.
É bastante característico do puxa-saco ser um indivíduo extremamente mentiroso. Cria uma imagem tão irreal de quem bajula que de repente não sabe mais onde termina a verdade e até onde vai a enganação. Contextualiza uma falsa noção sobre as coisas que o distancia da compreensão da realidade. Porém, distingue imediatamente e com perfeição se ouve pelas ruas ou principalmente pelo rádio alguém falando ou ao menos tencionando falar mal daquele que adula. Nesse momento, ataca a crise de bajulice e o único remédio para acalmar a safadeza é bater boca ou pegar o telefone para ligar para a emissora de rádio.
O rádio, por sinal, é talvez a única coisa que tem o dom de fazer com que o puxa-saco tenha espasmos de prazer e de ódio ao mesmo tempo. Sempre sentado perto do telefone, ele vai passando de emissora a emissora para ouvir se alguém está falando mal do político ou da autoridade. Nervoso, com vontade de saciar a fome da bajulação logo cedinho, o ouvido fica em alerta e na primeira oportunidade estará ele, como que automaticamente, telefonando para a emissora. Aí é a glória! E todos terão que ouvir “mas não é bem assim...”, “a oposição não tem o que fazer e fica...”, “ninguém nunca fez tanto quanto...”. Alguns chamam esse tipo de bajulador de rato de rádio, mas certamente seria melhor denominá-lo simplesmente de safado e mau caráter.
Mesmo que muitos insistam em não perceber – certamente porque também são puxa-sacos - alguns dos jornais impressos que diariamente circulam por aí estão recheados, folha por folha, palavra por palavra, de “partidarismo jornalístico”, que é uma forma disfarçada do puxa-saquismo explícito. O que diferencia tais jornais e os jornalistas que neles trabalham das demais espécies de bajuladores, é que estes se humilham e vendem a alma ao diabo na expectativa de ganhar alguma coisa a mais, enquanto que a imprensa geralmente é paga – e bem paga - para defender com unhas e dentes determinados políticos ou partidos, e da mesma forma para esculhambar com a imagem dos outros que estão na oposição. O pior é que tais jornais trabalham com dupla mentira: mentem escancaradamente para defender e agradar alguns e inventam deslavadamente para destruir os outros. Nesse caso, não seria rato de jornalismo, mas sim prostituto(a) da mídia.
O “baba-ovismo”, anomalia decorrente do puxa-saquismo, não é contagioso, mesmo que os seus portadores façam tudo para contaminar as demais pessoas. Os portadores dessa deficiência crônica geralmente são encontrados nos escritórios de políticos, nas ante-salas dos gabinetes de autoridades, políticos e vereadores; são sempre vistos sentados nas assembléias e câmaras, nas prefeituras e nas casas dos chefes políticos; contudo, o que mais gostam de fazer, e até imploram pra fazer isso, é carregar a pasta da autoridade, abrir a porta pra ela passar e acompanhá-la nas suas andanças. Gostariam de fazer muita mais coisas, e só não fazem porque algumas dessas autoridades ainda se sentem envergonhadas.
Como observado, o puxa-saquismo pode ser infinitamente caracterizado, possui inúmeras subespécies e está enraizado por todos os lugares e setores. Contudo, o que realmente mais impressiona é a característica mutável, ou seja, que pode mudar de posição de adulação num segundo, que sempre está presente na maioria dos puxa-sacos. Exemplos disso estão aí pra todo mundo ver, basta que o resultado de uma eleição aponte os vencedores para que ocorra uma debandada de puxa-sacos saindo de um lado e indo para o outro, passando a elogiar apaixonadamente aquele que ontem não valia nada. Isto é mais comum do que se imagina e tem a duração máxima de quatro anos ou de uma reeleição.
Farei, contudo, uma defesa de um tipo especial de puxa-saco, que é aquele que é pago exclusivamente para ficar telefonando para as emissoras durante os programas jornalísticos. Sem citar nomes, direi que trabalham exercendo o ofício que lhes foi permitido pela natureza – Deus sabe o que faz -, tanto é que ganham por tarefa, mas também direi que os seus trabalhos são tão honestos quanto fabricar moeda falsa. É tudo falso.



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
Poço Redondo – A Saga de um povo

Obra do historiador Alcino Alves da Costa, reúne em suas 349 páginas a história, fatos da política local, além da trajetória de grandes políticos sergipanos do maior município do Estado de Sergipe: Poço Redondo.
Constituído por narrativas com relatos sobre a vida do povo da região, Poço Redondo – A Saga de um povo também conta o seu passado ligado a história do Cangaço, um doloroso episódio vivido pelo seu povo durante os anos do banditismo, comandado por Lampião.