SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 2 de junho de 2018

Lá no meu sertão...


Num sertão






Dizer que te amo (Poesia)



Dizer que te amo


E assim tanto escrever
nas páginas do meu coração
tudo o que sinto por você

mas apenas dizer
que te amo
que te amo
e te amo

e do escrito aprender
toda palavra do meu coração
tudo que diz sobre você

e apenas dizer
que te amo
que te amo
e te amo.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta – sangue derramado como um brinquedo qualquer



*Rangel Alves da Costa


Muito sangue é derramado como um brinquedo qualquer. Por causa de um celular, a vida é retirada como um papel de bala que se joga fora. Por causa de uma bicicleta, a vida é lançada fora como um pedaço amassado de papel. Por causa de um tênis, a vida é dizimada como se uma barata pisoteada. Tudo simples assim na maldade, na barbárie, na violência sem fim. Pais ou mães de família, pessoas compromissadas com a existência, jovens estudantes, sonhos e esperanças ainda florescentes, mas de repente simplesmente de vidas ceifadas pelo brinquedo da morte. O mais terrível é a motivação para a morte, para simplesmente matar. Um telefone que vale mil reais é roubado e seu dono morto para depois o celular e a vida não ter a valia além de uma porção de droga, de vinte reais ou de qualquer coisa banal. O rastro de sangue é deixado pra trás por causa de nada, do ínfimo perante a grandeza e a nobreza de uma vida. Mas é assim que acontece. Dois dias atrás perdi uma prima pelas mãos de um marginalzinho de apenas treze anos, mas com perversidade de adulto já entravado no mundo do mal. O bandido quis o celular, ela reagiu e foi morta. Uma esposa e mãe, uma pessoa que tão cedo se foi pelo modismo do sangue como um brinquedo qualquer.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

sexta-feira, 1 de junho de 2018

APRENDER A LER



*Rangel Alves da Costa


O ato da leitura, do entendimento e da decifração das palavras, é muito mais difícil do que se imagina. Difícil por que a leitura não é só saber o que está escrito. Difícil por que a leitura sempre quer dizer além do que está escrito.
Difícil também pelo fato de que uma simples frase ou mesmo um texto pode ser lido de diversas formas. Significa que as palavras formam não só a intencionalidade de quem a escreveu como a ou as intencionalidades de quem a lê e a decifra.
Explico. Vejam uma frase simples e corriqueira: “Maria ama João”. Num breve olhar sobre a frase, todo mundo vai compreender que Maria possui afeto por João. Sim, a conclusão que se terá é que Maria gosta de João, que possui um sentimento diferenciado por ele.
Mas somente isso? Tal leitura se basta para compreender apenas o amor sentido por Maria com relação a João? Ou será que tal leitura pode ser feita de diversas formas e maneiras? Sim, Maria ama João, eu sei. Mas o pensamento pode ser estendido para indagar: Será que João também ama Maria?
Desse modo, aquela simples leitura logo se amplia, pode alcançar outros universos. E quanto mais a pessoa busca compreender o amor sentido por Maria também vai querer saber que tipo de amor, vai mentalmente indagar se é amor duradouro ou passageiro, se é amor verdadeiro ou apenas para demonstração.
Assim o mundo da leitura. O que se lê nunca se contenta em ser apenas aquilo que foi lido. Se alguém escreve, por exemplo, que a população brasileira é escravizada pelos governantes, certamente que não está dizendo que o povo vive em senzala, amarrado no tronco e levando chibatada.
Escreveu de uma forma e quis dizer muito mais. Quis dizer que a população é vítima de abandono pelos governantes, que o povo é massacrado pelos impostos cobrados pelo governo, que a sociedade vive pisoteada pela omissão do governo na saúde, na educação, na segurança, etc. E principalmente que vive sacrificada por aqueles que deveriam ser os responsáveis pelas melhorias de suas vidas.
Vejam a seguinte frase: O homem deve sempre estar preparado para a guerra. Será que quem a escreveu quis dizer apenas que o homem deve sempre estar armado para enfrentar o inimigo ou que deve procurar se defender perante os ataques? Logicamente que uma leitura despretensiosa, só pelo ato de passar os olhos sobre as palavras, poderá até levar à conclusão que se trata realmente de uma escrita falando em guerra, em conflito armado, em confronto de inimigos.
A leitura que deve ser feita, contudo, pode levar a horizontes muito mais realistas. O autor não quis falar em guerra de armas e trincheiras, em tiros e estampidos, mas no intuito de dizer que o homem deve sempre estar pronto para enfrentar as dificuldades da vida, que o homem sempre deve estar apto para saber enfrentar as ventanias e as tempestades da existência.
Tempestades e vendavais? Sim, mas num sentido figurado, metafórico, para significar os percalços e os tormentos que cada ser humano está propenso a enfrentar. Desse modo, esse cuidado com a decifração das palavras, tornando-as o seu entendimento ajustado ao próprio pensamento, é a melhor forma de se praticar a leitura.
Outro aspecto importante diz respeito à leitura como ato de desvirtuamento do que está escrito. Isso ocorre muito quando o senso crítico da pessoa busca forjar uma leitura que lhe traga algum proveito pessoal. Neste caso, não importa o que está escrito em si, mas a serventia que a escrita pode passar a ter.
Exemplificando o que foi dito acima, toda escrita, por mais inocente que seja, passa a ter uma função crítica. E muitas vezes política mesmo. Se alguém lê “Trabalhadores, uni-vos!”, logo a leitura captará somente que os trabalhadores devem estar unidos contra as injustiças, contra o capitalismo, contra todas as formas de exploração.
Daí a força e o maravilhamento que é a leitura, ou as leituras que se possa fazer de uma só escrita. Tudo depende de cada um. Poucas letras e a multiplicação segundo o mundo que se deseja produzir a partir de uma única frase.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


No sertão, pinga da boa



Flor de tudo (Poesia)



Flor de tudo


Beijo-te
e no beijo
o jasmim

abraço-te
e no abraço
a pétala

chamo-te
e no chamado
a flor

sinto-te
e no prazer
a rosa

a flor
em flores
na flor de tudo.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta – quando Cirineu endoidou



*Rangel Alves da Costa


Cirineu, cabra sertanejo, cabra valente, homem de fibra e de tenacidade, com tudo na feição dizendo de sua normalidade. Conforme costumava dizer, pessoa de sorte por nunca ter sentido sequer uma dor de cabeça ou qualquer tipo de dor. Resfriado sequer chegava perto dele, mais parecendo uma rocha protegida de todos os malefícios do mundo. Contudo, de hora pra outra endoidou, enlouqueceu, abilolou de vez. Há de se indagar como um cabra sãozinho, bonzinho da silva, e num instante perde a razão, fica desajuizado, a maluquice em pessoa. Como tudo se explica perante o povo, então as motivações para o abilolamento do homem foram se espalhando de boca em boca, como uma ventania de fuxicos, maldades e um desregramento de asneiras sem igual. Sabe o que disseram sobre o endoidamento do cabra? Que a culpada tinha sido a saia curta demais de uma sirigaita novinha que passou rebolando a bunda. Que tinha sido uma ida ao mercadinho: entrou bonzinho e maluqueceu diante dos preços. Que tinha sido um tal lobisomem que havia entrado pela janela do quarto e deixado sua esposa nuazinha e toda tremelicando. Que tinha sido um vento mal que passou quando ele abriu a boca pra falar mal de quem nunca tinha se importado com a sua vida. Que tinha sido por causa do preço do gás de cozinha. Que tinha sido quando avistou o carro de desligamento da energia e ele estava com conta atrasada. Um monte de coisas. Mas nada que seja verdadeiro, pois bem outro o real motivo do seu endoidamento: Totonha, a boazuda. Boazuda e destruidora de lares. Ela olhou duas vezes pra Cirineu e se maliciou todinha. Passou a língua nos beiços e piscou o olho. Então o coitado deixou a esposa, pintou os cabelos, comprou calça justa de menino novo, e depois endoidou. Totonha passou com outro e ele endoidou.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com