LIÇÃO DE AMOR
Não adjetivo o amor
Para não dizer sempre
Do amor infinito.
Não verbalizo o amor
Para não repetir sempre
Amei, amo, amarei.
Não uso pronome no amor
Para não substituir o teu nome
E dizer que é meu o teu amor.
Não substantivo o amor
Para nomeá-la unicamente
A mulher do meu amor.
Não sei do advérbio no amor
Porque sei que não existe
A negação e a dúvida no amor.
Na verdade, de todo esse amor
Que sinto e rudemente expresso
A gramática só me ensinou
A escrever amor.
Rangel Alves da Costa
SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...
A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.
sábado, 9 de janeiro de 2010
A TI, DIANTE DOS TEUS OLHOS...
A TI, DIANTE DOS TEUS OLHOS...
Rangel Alves da Costa*
Venha cá, sente perto de mim que vou contar uma história. Primeiro vou lhe fazer cinco perguntas, mas não precisa responder agora: O que você espera encontrar quando abre qualquer porta? O que você procura enxergar quando olha o horizonte? O que você fica imaginando quando a chuva vai batendo e molhando sua janela? A noite, o silêncio e as lembranças o que representam pra você? Você já viveu hoje?
Calma, não responda agora, primeiro procure ouvir atentamente.
Um dia, havia uma menina muito triste, assim como você, vivia amedrontada e com muito medo de enfrentar as realidades da vida. Essa menina parecia estranha. Acordava, ficava trancada no quarto e só ia para a escola porque era preciso, não tinha outro jeito, mas mesmo assim fazia tristemente seu percurso. Na volta da escola pouco conversava com os pais; se alimentava no quarto e depois se trancava, passando as tardes entre pensamentos e divagações que somente ela sabia quais eram. Um dia, já bastante preocupada com aquela situação, a mãe não suportou mais e perguntou-lhe porque vivia assim. E de pronto a menina respondeu: “Só me sinto bem trancada no meu quarto e toda vez que abro uma porta para entrar ou para sair é como se fosse encontrar coisas ruins. A única porta que gosto de abrir e entrar é a do meu quarto.”
Outro dia, havia outra menina muito triste como você, mas esta vivia olhando para as distâncias do azul do céu, mirando os horizontes, viajando com o pensamento, indagando e vivenciando situações que somente ela sabia. Sempre que podia, ficava na janela do alto da casa e ali pregava os olhos nas distâncias, nas lonjuras até onde podia enxergar. Sonhava em estar no cume de uma montanha bem alta e de lá ficar fitando as paisagens sem fim. Seu maior desejo era mesmo poder voar sem destino pelos céus, só pelo prazer de estar vendo as coisas que somente lá no alto existem. A mãe dessa menina também vivia preocupada com esse “mundo da lua” que a filha vivia, e perguntou porque ela procurava estar quase o tempo todo olhando pra longe, viajando sem sair do lugar. E a menina imediatamente respondeu: “O que foi que a senhora perguntou? Pergunte de novo porque meu pensamento tava longe.”
Um dia, havia ainda outra menina, assim como você, tristonha e melancólica, que adorava ficar próxima da janela em dias de chuva, olhando fixamente para as gotas que batiam e iam escorrendo. Quando o vidro ficava embaçado, ela ia logo passar a mãozinha com gestos desenhados, e assim iam se formando, a cada vez, um coração, seu nome, uma lua. Quando não chovia, ela pegava o batom e ia para a vidraça da janela desenhar o que gostava. Há tempos que sua mãe vinha percebendo isso, mas um dia entrou no quarto e perguntou: “Minha filha, por que você desenha sempre as mesmas coisas, um coração, seu nome, uma lua”. E ela respondeu: “Não se preocupe, já que se a senhora se preocupa com o que faço na próxima vez vou colocar também o seu nome”.
Contou ainda a história de duas outras meninas, muito parecidas com ela. A primeira vivia justificando qualquer instante da vida para lembrar e falar do que passou, parecendo viver somente de lembranças e recordações. A segunda passava o dia inteiro se perguntando intimamente se as ações que já tinha feito até aquele momento já seriam suficientes para justificar o seu dia. Suas mães também indagaram sobre isso e as respostas ouvidas não foram bem entendidas. Uma respondeu que era preciso lembrar para guardar o que foi bom; a outra disse que procurava construir toda a vida a cada momento.
Assim eram as cinco meninas: uma triste e amedrontada, que só se sentia bem trancada no seu quarto; uma que se realizava quando estava viajando em pensamentos; outra que tinha por amigos os desenhos na vidraça da janela; outra que sentia prazer em estar recordando o que passou; e uma que procurava realizar num só instante aquilo que validasse o seu dia.
Todas são pessoas como você, com seus jeitos e formas de buscar alegria. E você, como você é? E a menina respondeu: “Sou igual às cinco meninas. A gente faz de tudo para que os outros percebam que a gente existe. Só que sou mais triste que todas, pois não tenho mais minha mãe para se preocupar comigo”.
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@ hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Rangel Alves da Costa*
Venha cá, sente perto de mim que vou contar uma história. Primeiro vou lhe fazer cinco perguntas, mas não precisa responder agora: O que você espera encontrar quando abre qualquer porta? O que você procura enxergar quando olha o horizonte? O que você fica imaginando quando a chuva vai batendo e molhando sua janela? A noite, o silêncio e as lembranças o que representam pra você? Você já viveu hoje?
Calma, não responda agora, primeiro procure ouvir atentamente.
Um dia, havia uma menina muito triste, assim como você, vivia amedrontada e com muito medo de enfrentar as realidades da vida. Essa menina parecia estranha. Acordava, ficava trancada no quarto e só ia para a escola porque era preciso, não tinha outro jeito, mas mesmo assim fazia tristemente seu percurso. Na volta da escola pouco conversava com os pais; se alimentava no quarto e depois se trancava, passando as tardes entre pensamentos e divagações que somente ela sabia quais eram. Um dia, já bastante preocupada com aquela situação, a mãe não suportou mais e perguntou-lhe porque vivia assim. E de pronto a menina respondeu: “Só me sinto bem trancada no meu quarto e toda vez que abro uma porta para entrar ou para sair é como se fosse encontrar coisas ruins. A única porta que gosto de abrir e entrar é a do meu quarto.”
Outro dia, havia outra menina muito triste como você, mas esta vivia olhando para as distâncias do azul do céu, mirando os horizontes, viajando com o pensamento, indagando e vivenciando situações que somente ela sabia. Sempre que podia, ficava na janela do alto da casa e ali pregava os olhos nas distâncias, nas lonjuras até onde podia enxergar. Sonhava em estar no cume de uma montanha bem alta e de lá ficar fitando as paisagens sem fim. Seu maior desejo era mesmo poder voar sem destino pelos céus, só pelo prazer de estar vendo as coisas que somente lá no alto existem. A mãe dessa menina também vivia preocupada com esse “mundo da lua” que a filha vivia, e perguntou porque ela procurava estar quase o tempo todo olhando pra longe, viajando sem sair do lugar. E a menina imediatamente respondeu: “O que foi que a senhora perguntou? Pergunte de novo porque meu pensamento tava longe.”
Um dia, havia ainda outra menina, assim como você, tristonha e melancólica, que adorava ficar próxima da janela em dias de chuva, olhando fixamente para as gotas que batiam e iam escorrendo. Quando o vidro ficava embaçado, ela ia logo passar a mãozinha com gestos desenhados, e assim iam se formando, a cada vez, um coração, seu nome, uma lua. Quando não chovia, ela pegava o batom e ia para a vidraça da janela desenhar o que gostava. Há tempos que sua mãe vinha percebendo isso, mas um dia entrou no quarto e perguntou: “Minha filha, por que você desenha sempre as mesmas coisas, um coração, seu nome, uma lua”. E ela respondeu: “Não se preocupe, já que se a senhora se preocupa com o que faço na próxima vez vou colocar também o seu nome”.
Contou ainda a história de duas outras meninas, muito parecidas com ela. A primeira vivia justificando qualquer instante da vida para lembrar e falar do que passou, parecendo viver somente de lembranças e recordações. A segunda passava o dia inteiro se perguntando intimamente se as ações que já tinha feito até aquele momento já seriam suficientes para justificar o seu dia. Suas mães também indagaram sobre isso e as respostas ouvidas não foram bem entendidas. Uma respondeu que era preciso lembrar para guardar o que foi bom; a outra disse que procurava construir toda a vida a cada momento.
Assim eram as cinco meninas: uma triste e amedrontada, que só se sentia bem trancada no seu quarto; uma que se realizava quando estava viajando em pensamentos; outra que tinha por amigos os desenhos na vidraça da janela; outra que sentia prazer em estar recordando o que passou; e uma que procurava realizar num só instante aquilo que validasse o seu dia.
Todas são pessoas como você, com seus jeitos e formas de buscar alegria. E você, como você é? E a menina respondeu: “Sou igual às cinco meninas. A gente faz de tudo para que os outros percebam que a gente existe. Só que sou mais triste que todas, pois não tenho mais minha mãe para se preocupar comigo”.
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@ hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Outro amar (Poesia)
Outro amar
E havia pensado que o amor
Nascesse simplesmente do lampejo,
Do olhar, do abraçar, do beijo,
Sem que a razão de querer amar
Fosse maior que o desejo
De simplesmente estar.
E me disseram que o amor
Forjado pelo desejo do corpo,
Sem amor, sem paixão, sem razão,
Nasce num dia e dura uma noite,
Até que o sexo, o orgasmo, a traição,
Alcance a realidade como açoite.
E assim aprendi que o amor
Que silenciosamente grita mas sabe esperar
Procura sozinho caminhar seu destino
Sem que tenhamos de guiá-lo
Pela fragilidade do que somos,
Pela incerteza do que queremos.
Rangel Alves da Costa
E havia pensado que o amor
Nascesse simplesmente do lampejo,
Do olhar, do abraçar, do beijo,
Sem que a razão de querer amar
Fosse maior que o desejo
De simplesmente estar.
E me disseram que o amor
Forjado pelo desejo do corpo,
Sem amor, sem paixão, sem razão,
Nasce num dia e dura uma noite,
Até que o sexo, o orgasmo, a traição,
Alcance a realidade como açoite.
E assim aprendi que o amor
Que silenciosamente grita mas sabe esperar
Procura sozinho caminhar seu destino
Sem que tenhamos de guiá-lo
Pela fragilidade do que somos,
Pela incerteza do que queremos.
Rangel Alves da Costa
Chuva (Poesia)
Chuva
Procurei entristecer
E molhei os meus olhos
Com pingos da chuva
Que caía lá fora
Assim de olhos molhados
Procurei inventar um sorriso
Na beleza da tarde chuvosa
Entristecida lá fora.
Quis enxugar os olhos
Para ver o sorriso
Inventado no espelho
E na imagem que encontrei
De solidão e saudade
Chorei...
Rangel Alves da Costa
Procurei entristecer
E molhei os meus olhos
Com pingos da chuva
Que caía lá fora
Assim de olhos molhados
Procurei inventar um sorriso
Na beleza da tarde chuvosa
Entristecida lá fora.
Quis enxugar os olhos
Para ver o sorriso
Inventado no espelho
E na imagem que encontrei
De solidão e saudade
Chorei...
Rangel Alves da Costa
Quadrante (Poesia)
Quadrante
Na parede dos meus olhos
Nudez adormecida
Em quatro partes
Que percorro parte a parte
Alimentando a sede de ter
E que se reparte
Para enxergar
Nessa arte
A luz
A sombra
A perfeição
O mistério
Teu corpo...
Rangel Alves da Costa
Na parede dos meus olhos
Nudez adormecida
Em quatro partes
Que percorro parte a parte
Alimentando a sede de ter
E que se reparte
Para enxergar
Nessa arte
A luz
A sombra
A perfeição
O mistério
Teu corpo...
Rangel Alves da Costa
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Quando estive lá...
Quando estive lá...
Rangel Alves da Costa*
No final de novembro de 2008, por uma dessas circunstâncias em que a morte fica atentando contra a vida, comecei a me sentir indisposto, fui buscar atendimento médico numa unidade emergencial de saúde e só lembro que estava com dificuldades de respirar em cima de uma maca, rodeado por enfermeiros e médicos, e depois apaguei de vez. De lá fui transferido com urgência para a UTI do Hospital João Alves Filho, onde fiquei durante treze dias em estado de coma induzido.
Nessa época eu tinha 45 anos e esse ano irei completar 47. Tudo isso ocorreu bem próximo ao período natalino e quando recebi alta pude acompanhar ainda a vida festiva que é o final de ano, entre o natal e a virada. E nesse último final de ano, quando completou um ano dessa experiência que me foi imposta pelo destino, não me permiti exagerar comemorações por estar vivo, não fiquei mais triste por recordar o que passei e o que alguns sofreram comigo, não fiquei mais pensativo e reflexivo porque os momentos a isto convida. Apenas pautei minhas tardes de solidão para buscar respostas para uma simples indagação: Por que Deus me permitiu continuar aqui?
Sou agraciado por Deus, sou; a mão divina estava sob o meu leito, sei; Ele não deixou que eu partisse, sim. Mas por que meu Deus? Ele bem sabe que a minha religião mora somente em mim, que a minha fé se expressa somente através da igreja no meu coração, que não preciso de outras religiões, outras igrejas e as muitas fé que se compra barato. Ele sabe e conhece a minha bíblia, vê quando minhas rudes mãos procuram o Salmo 23, quando meus olhos leem Josué, se encantam com Enclesiastes, prolongam-se fixamente na oração que o Senhor nos ensinou.
Por tudo que me fizeste, desde a minha raiz sertaneja até o momento presente, é que preciso Te encontrar para agradecer, para Te dar um abraço, para Te convidar a morar eternamente ao meu lado, dentro da minha igreja, e é por isso mesmo que vivo trilhando os caminhos da minha inabalável religião em meu ser, da minha fé própria, da minha igreja/coração cada vez mais persistentemente. Continuo cada vez mais procurando, mas sinto na alma Tua presença cada vez mais forte, mais próximo e dentro de mim. Estás aqui, sei, ao meu lado, e é por isso mesmo que irei Te procurar ainda, cada vez mais, sempre, porque também sei que minha vida se tornará vã sem essa contínua busca.
Minha amizade contigo talvez tenha se fortalecido naqueles treze dias em que eu estava viajando, em coma, pelas brumas da indecisão entre o voltar ou caminhar para cada vez mais longe. Não tenho certeza, não sei, não pude ver, mas a intuição me diz que me chamastes a sentar embaixo duma árvore frondosa, onde conversamos por todos aqueles dias e me ensinastes um monte de coisas que não posso nomear com palavras. Me chamava de filho, me falou sobre a vida e, para que eu não pudesse esquecer daquelas lições, me ordenou novamente a viver.
Quem dera todo irmão sertanejo ser tudo que eu sou e ter tudo que eu tenho. Fui moleque correndo pelos campos, caçando passarinho, jogando bola de gude, soltando pião. Fui e continuo estudante da vida, trilhando pelos caminhos da História e do Jornalismo e hoje atuando como advogado. Sou poeta, pintor, sonhador, tenho livro publicado e outros ainda a serem. Tenho os meus, tenho quem amo, tenho precisão de ter mais. Mas também tenho aqueles dias na minha vida que são mais do que tudo. Neles é que Viestes a mim e Dissestes: Dou-te ainda a vida para que mereças tê-la.
E diria mais: “Enquanto viveres, ninguém te poderá resistir; estarei contigo como estive com Moisés; não te deixarei nem te abandonarei”, pois “Isto é uma ordem: Sê firme e corajoso. Não te atemorizes, não tenhas medo, porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde vás.” E diria muito mais, sei, porque Ele é meu amigo.
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Rangel Alves da Costa*
No final de novembro de 2008, por uma dessas circunstâncias em que a morte fica atentando contra a vida, comecei a me sentir indisposto, fui buscar atendimento médico numa unidade emergencial de saúde e só lembro que estava com dificuldades de respirar em cima de uma maca, rodeado por enfermeiros e médicos, e depois apaguei de vez. De lá fui transferido com urgência para a UTI do Hospital João Alves Filho, onde fiquei durante treze dias em estado de coma induzido.
Nessa época eu tinha 45 anos e esse ano irei completar 47. Tudo isso ocorreu bem próximo ao período natalino e quando recebi alta pude acompanhar ainda a vida festiva que é o final de ano, entre o natal e a virada. E nesse último final de ano, quando completou um ano dessa experiência que me foi imposta pelo destino, não me permiti exagerar comemorações por estar vivo, não fiquei mais triste por recordar o que passei e o que alguns sofreram comigo, não fiquei mais pensativo e reflexivo porque os momentos a isto convida. Apenas pautei minhas tardes de solidão para buscar respostas para uma simples indagação: Por que Deus me permitiu continuar aqui?
Sou agraciado por Deus, sou; a mão divina estava sob o meu leito, sei; Ele não deixou que eu partisse, sim. Mas por que meu Deus? Ele bem sabe que a minha religião mora somente em mim, que a minha fé se expressa somente através da igreja no meu coração, que não preciso de outras religiões, outras igrejas e as muitas fé que se compra barato. Ele sabe e conhece a minha bíblia, vê quando minhas rudes mãos procuram o Salmo 23, quando meus olhos leem Josué, se encantam com Enclesiastes, prolongam-se fixamente na oração que o Senhor nos ensinou.
Por tudo que me fizeste, desde a minha raiz sertaneja até o momento presente, é que preciso Te encontrar para agradecer, para Te dar um abraço, para Te convidar a morar eternamente ao meu lado, dentro da minha igreja, e é por isso mesmo que vivo trilhando os caminhos da minha inabalável religião em meu ser, da minha fé própria, da minha igreja/coração cada vez mais persistentemente. Continuo cada vez mais procurando, mas sinto na alma Tua presença cada vez mais forte, mais próximo e dentro de mim. Estás aqui, sei, ao meu lado, e é por isso mesmo que irei Te procurar ainda, cada vez mais, sempre, porque também sei que minha vida se tornará vã sem essa contínua busca.
Minha amizade contigo talvez tenha se fortalecido naqueles treze dias em que eu estava viajando, em coma, pelas brumas da indecisão entre o voltar ou caminhar para cada vez mais longe. Não tenho certeza, não sei, não pude ver, mas a intuição me diz que me chamastes a sentar embaixo duma árvore frondosa, onde conversamos por todos aqueles dias e me ensinastes um monte de coisas que não posso nomear com palavras. Me chamava de filho, me falou sobre a vida e, para que eu não pudesse esquecer daquelas lições, me ordenou novamente a viver.
Quem dera todo irmão sertanejo ser tudo que eu sou e ter tudo que eu tenho. Fui moleque correndo pelos campos, caçando passarinho, jogando bola de gude, soltando pião. Fui e continuo estudante da vida, trilhando pelos caminhos da História e do Jornalismo e hoje atuando como advogado. Sou poeta, pintor, sonhador, tenho livro publicado e outros ainda a serem. Tenho os meus, tenho quem amo, tenho precisão de ter mais. Mas também tenho aqueles dias na minha vida que são mais do que tudo. Neles é que Viestes a mim e Dissestes: Dou-te ainda a vida para que mereças tê-la.
E diria mais: “Enquanto viveres, ninguém te poderá resistir; estarei contigo como estive com Moisés; não te deixarei nem te abandonarei”, pois “Isto é uma ordem: Sê firme e corajoso. Não te atemorizes, não tenhas medo, porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde vás.” E diria muito mais, sei, porque Ele é meu amigo.
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Manual Prático da Vida
MANUAL PRÁTICO DA VIDA
Rangel Alves da Costa*
Acredite e confie no destino. Você nasceu porque estava premeditado, já estava escrito nas estrelas, e nada tem a ver com aquele presente caríssimo que seu pai mandou pra sua mãe quando queria conquistá-la. Se enviasse uma lembrancinha qualquer de camelô daria na mesma coisa. Acredite...
Já que você nasceu e não tem jeito mesmo, não pode voltar atrás, ao menos aprenda a viver. Todo mundo sabe como viver bem e é por isso que todos dizem que faz mal fumar, que não se deve olhar a mulher do outro, que falar alto é feio, que jogar papel e cuspir na rua é ridículo, que inveja é pecado, que não se deve votar em político ladrão, que é crime maltratar a natureza e destruir o meio ambiente, que basta uma saladinha no almoço e pronto. Todo mundo sabe disso e segue tais princípios religiosamente. Você gostaria que os outros achassem que o que faz é feio? Então faça como eles. É por isso que a vida é cheia de pessoas saudáveis, educadas, alegres, magras e com a consciência limpa. Acredite...
Na sua adolescência, que dizem ser entre os 11 e18 anos, por aí, tenha em mente que este é o momento de passagem, como num ritual de mudança e iniciação, quando você sai da criancice e adentra num momento de afirmação enquanto ser humano. É uma fase crucial, quando a maioria começa a negar totalmente o que realmente é ou gostaria de ser, simplesmente para satisfazer o falso puritanismo dos outros. Você não pode ir de encontro aos princípios da ética, da moral e dos bons costumes, pois irá de encontro à pureza de uma sociedade que não finge, não mente, não faz nada às escondidas, não satisfaz entre quatro paredes os instintos mais bestiais e os desejos oprimidos. Acredite...
Com o tempo passando e você já sabendo o que realmente quer na vida, mesmo assim, nem em sonhos, demonstre que tem um comportamento diferente por natureza. Jamais veja o outro como ser humano que merece respeito, afeto, afeição e carinho. Dirão que você está alimentando feras. Jamais dê bom dia, boa tarde, boa noite, muito obrigado, peça desculpa, abra a porta para alguém passar, levante para um idoso sentar ou esboce um sorriso para o próximo. Dirão que você perde tempo, que não há lugar para educação num mundo de espertos. Jamais queira amar romanticamente, beijar e abraçar ainda, falar de amor ainda, sentar no banco da praça e ler ainda de olhos brilhantes um poema para a amada. Dirão que ela está te traindo com um moleque qualquer, e isso pode ser verdade. Jamais discorde das pessoas quando discordam de tudo isso que você faz, pois todos é que agem corretamente e somente você faz tudo errado. Basta ver as pessoas impolutas que são, sem nenhuma mácula na vida, beatificados sem ir para os céus. Acredite, eles fazem tudo certo, jamais erraram e seria até pecado falar em pecado. Pelo que dizem e por você ter simplesmente um comportamento verdadeiramente humano, não se admire se lhe assegurarem uma fogueira no reino dos mortos. Acredite...
Na trilhar de sua vida adulta, quando a gente tem que entregar muito mais do que partilhar e tenha que ser forçado domador no circo de feras, mais uma vez a fera a ser abatida será você. Se não casou ainda ou não pretende, é porque você é um irresponsável por natureza, já que nessa idade ainda não quis ter as responsabilidades de esposo e pai. Dizem isso porque cumprem religiosamente com seus deveres, são exemplares na vida familiar, nunca deixaram faltar absolutamente nada em casa, vivem na bonança, fazem dos compromissos do lar algo que lhes dão contínuo e eterno prazer. Para ser igual a eles, irremediavelmente terá de casar, mesmo que você saiba e tenha plena consciência de que o pouco que tem não pode ser transformado em sofrimento para os outros. Acredite...
Se mesmo com as críticas, os ataques, as mentiras e os achincalhamentos, você conseguir chegar à velhice, é neste momento que todos os seus conceitos deverão ser revistos, ou não. Revistos porque você achava que nesse entardecer chuvoso da vida os idosos não eram tratados com dignidade, que não tinham seus direitos respeitados, não eram abandonados por familiares em asilos, não tinham uma vida jogada ao léu e ao sopro das circunstâncias. Não, precisa rever porque você estava totalmente enganado. Envelhecer no Brasil é coisa bonita de se ver. E não deve rever conceitos porque não adianta. Os sofrimentos que terá e passará serão totalmente seus, pois os outros nem estarão aí, principalmente porque nos tempos idos você quis ser apenas você. Se fosse como eles, que insistem em não enxergar a realidade, diria que é uma maravilha morrer aos poucos com dignidade. Acredite...
Acredite só mais em uma coisa. Querem sempre levar você para o seu meio e não vá. Até que vá, aprenda o que for lição e vá seguindo adiante, sem olhar para trás. Não olhe porque já estarão falando mal de você e certamente dizendo: Esse aí nunca prestou pra nada...
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Rangel Alves da Costa*
Acredite e confie no destino. Você nasceu porque estava premeditado, já estava escrito nas estrelas, e nada tem a ver com aquele presente caríssimo que seu pai mandou pra sua mãe quando queria conquistá-la. Se enviasse uma lembrancinha qualquer de camelô daria na mesma coisa. Acredite...
Já que você nasceu e não tem jeito mesmo, não pode voltar atrás, ao menos aprenda a viver. Todo mundo sabe como viver bem e é por isso que todos dizem que faz mal fumar, que não se deve olhar a mulher do outro, que falar alto é feio, que jogar papel e cuspir na rua é ridículo, que inveja é pecado, que não se deve votar em político ladrão, que é crime maltratar a natureza e destruir o meio ambiente, que basta uma saladinha no almoço e pronto. Todo mundo sabe disso e segue tais princípios religiosamente. Você gostaria que os outros achassem que o que faz é feio? Então faça como eles. É por isso que a vida é cheia de pessoas saudáveis, educadas, alegres, magras e com a consciência limpa. Acredite...
Na sua adolescência, que dizem ser entre os 11 e18 anos, por aí, tenha em mente que este é o momento de passagem, como num ritual de mudança e iniciação, quando você sai da criancice e adentra num momento de afirmação enquanto ser humano. É uma fase crucial, quando a maioria começa a negar totalmente o que realmente é ou gostaria de ser, simplesmente para satisfazer o falso puritanismo dos outros. Você não pode ir de encontro aos princípios da ética, da moral e dos bons costumes, pois irá de encontro à pureza de uma sociedade que não finge, não mente, não faz nada às escondidas, não satisfaz entre quatro paredes os instintos mais bestiais e os desejos oprimidos. Acredite...
Com o tempo passando e você já sabendo o que realmente quer na vida, mesmo assim, nem em sonhos, demonstre que tem um comportamento diferente por natureza. Jamais veja o outro como ser humano que merece respeito, afeto, afeição e carinho. Dirão que você está alimentando feras. Jamais dê bom dia, boa tarde, boa noite, muito obrigado, peça desculpa, abra a porta para alguém passar, levante para um idoso sentar ou esboce um sorriso para o próximo. Dirão que você perde tempo, que não há lugar para educação num mundo de espertos. Jamais queira amar romanticamente, beijar e abraçar ainda, falar de amor ainda, sentar no banco da praça e ler ainda de olhos brilhantes um poema para a amada. Dirão que ela está te traindo com um moleque qualquer, e isso pode ser verdade. Jamais discorde das pessoas quando discordam de tudo isso que você faz, pois todos é que agem corretamente e somente você faz tudo errado. Basta ver as pessoas impolutas que são, sem nenhuma mácula na vida, beatificados sem ir para os céus. Acredite, eles fazem tudo certo, jamais erraram e seria até pecado falar em pecado. Pelo que dizem e por você ter simplesmente um comportamento verdadeiramente humano, não se admire se lhe assegurarem uma fogueira no reino dos mortos. Acredite...
Na trilhar de sua vida adulta, quando a gente tem que entregar muito mais do que partilhar e tenha que ser forçado domador no circo de feras, mais uma vez a fera a ser abatida será você. Se não casou ainda ou não pretende, é porque você é um irresponsável por natureza, já que nessa idade ainda não quis ter as responsabilidades de esposo e pai. Dizem isso porque cumprem religiosamente com seus deveres, são exemplares na vida familiar, nunca deixaram faltar absolutamente nada em casa, vivem na bonança, fazem dos compromissos do lar algo que lhes dão contínuo e eterno prazer. Para ser igual a eles, irremediavelmente terá de casar, mesmo que você saiba e tenha plena consciência de que o pouco que tem não pode ser transformado em sofrimento para os outros. Acredite...
Se mesmo com as críticas, os ataques, as mentiras e os achincalhamentos, você conseguir chegar à velhice, é neste momento que todos os seus conceitos deverão ser revistos, ou não. Revistos porque você achava que nesse entardecer chuvoso da vida os idosos não eram tratados com dignidade, que não tinham seus direitos respeitados, não eram abandonados por familiares em asilos, não tinham uma vida jogada ao léu e ao sopro das circunstâncias. Não, precisa rever porque você estava totalmente enganado. Envelhecer no Brasil é coisa bonita de se ver. E não deve rever conceitos porque não adianta. Os sofrimentos que terá e passará serão totalmente seus, pois os outros nem estarão aí, principalmente porque nos tempos idos você quis ser apenas você. Se fosse como eles, que insistem em não enxergar a realidade, diria que é uma maravilha morrer aos poucos com dignidade. Acredite...
Acredite só mais em uma coisa. Querem sempre levar você para o seu meio e não vá. Até que vá, aprenda o que for lição e vá seguindo adiante, sem olhar para trás. Não olhe porque já estarão falando mal de você e certamente dizendo: Esse aí nunca prestou pra nada...
Advogado e poeta
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