SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

Minha doce namorada (Poesia)



Minha doce namorada


Minha
minha amada
doce minha
namorada

porque poderia dizer mil coisas
dizer da existência que se ergue em ti
dizer da razão e da essência na vida
dizer do amor celebrado no templo
dizer da eternidade a cada momento
dizer do lindo poema escrito no coração
e dizer tudo do amar como devoção
mas que são palavras aladas em voo
apenas palavras levadas no vento

por isso
digo pouco
quase nada
como minha
minha amada
doce minha
namorada.

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 176


Rangel Alves da Costa*


“Menino e seu destino...”.
“Bola de meia, bola de gude...”.
“Cavalo de pau, galope no vento...”.
“Peteca baleadeira...”.
“Fazenda de ponta de vaca...”.
“Carrinho de madeira...”.
“Boi de barro, estrada de chão...”.
“Jogador de botão, chuteira no dedo...”.
“Arapuca e armadilha...”.
“Caju maduro no pé...”.
“Uma goiaba no quintal...”.
“Um araçá na mataria...”.
“Subindo no pé de pau...”.
“Menino não para nunca...”.
“Cativa passarinho no ar...”.
“É amigo do espinho...”.
“Pedra é pra atirar...”.
“Traquina, moleque, menino...”.
“Tanta vida, seu destino...”.
“Moleque todo sonsinho...”.
“Na soltura um desatino...”.
“Chutou a bola...”.
“A vidraça estilhaçou...”.
“Adeus roupa no varal...”.
“Dá-lhe palmada na mão...”.
“Dá-lhe chinelada na bunda...”.
“Menino finge chorar...”.
“Moleque de reinação...”.
“O gato corre medroso...”.
“O cachorro já conhece...”.
“Deixe o menino passar...”.
“Deixe o traquina ir brincar...”.
“Uma pipa pelo ar...”.
“Moleque na vida a rodar...”.
“Roda festeiro na vida...”.
“Menino a rodopiar...”.
“Do silêncio e do grito...”.
“Do galope sem parar...”.
“Menino estava aqui, já foi pra outro lugar...”.
“Foi tomar banho no tanque...”.
“No riacho se banhar...”.
“Foi entrar nalgum quintal...”.
“Fruta madura chupar...”.
“Menino, deixe o menino...”.
“Menino tem de brincar...”.
“Quando cansar do brinquedo...”.
“Quando a mãe lhe procurar...”.
“Menino se torna homem...”.
“Menino vai estudar...”.
“Caderno de pouca folha...”.
“Sonho imenso a lhe guiar...”.
“Um dia quer ser doutor...”.
“Muito dinheiro ganhar...”.
“Mas sem deixar de ser menino...”.
“Pois coisa melhor não há...”.
“Doido que toque a sineta...”.
“Pra casa logo voltar...”.
“Ainda é muito cedo...”.
“Ainda dá pra brincar...”.
“Vai correndo em disparada...”.
“Corcel da infância no ar...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O LIMITE DO ELÁSTICO (E DA VIDA) (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


A máxima é de Vergílio Ferreira: “A razão é um elástico. Vê se consegues não a esticar muito para não rebentar”. Mas, sem medo de errar, diria que tal elasticidade serve como cuidado de manuseio para todas as situações da vida.
Verdade é que muitos conhecem mais o elástico do que a vida. E vão puxando, esticando, forçando, alongando, até... Ora, tudo tem um limite. O normal afina, a plasticidade definha, o fio se parte em si mesmo.
O grande erro humano é imaginar que a vida puxada e repuxada, esticada, forçadamente estendida, voltará ao normal assim que a ponta elastecida for solta. Imagina que tudo pode ser igual ao elástico.
Com efeito,  o elástico é um tipo de tecido com propriedades plásticas que retorna, quase identicamente, à sua feição inicial após ser deformado, esticado ou comprimido. Retorna de modo parecido, mas nunca igual ao que era antes.
E isto porque o simples elastecer já transforma as propriedades da matéria, já corrompe ou afrouxa sua estrutura. Os olhos, erroneamente, imaginam que o elástico retorna da mesma forma ao ponto de partida. Mas nunca acontece assim.
Do mesmo modo acontece com a vida daqueles que a tem como brincadeira, como borracha de esticar e fazer voltar, como objeto para testar sua suportabilidade. Não se contentando em elastecer-se apenas nos momentos de precisão, insistam em brincar, em puxar de lado a outro, em ver até onde a borracha vai.
E toda borracha vai até o instante de se romper. Todo elástico se estende até um determinado limite. Daí em diante é certeza que sua estrutura não suportará e irremediavelmente romperá, quebrará. Algo parecido com a morte, ou não?
Um dia ouvi: Tudo tem início e chegada, começo e fim; a estrada sempre dá em algum lugar; o distante um dia será avistado. Mas um dia eu quis revirar tudo, dilatar a estrada, trazer pra bem perto o que estava distante. Puxando, trazendo, soltando, um dia descuidei. E nunca mais me encontrei ziguezagueando pela vida.
Transformar a vida em feição de elástico é pretender que tudo se irrompa a qualquer instante. Ora, o balão se enche, se arredonda, engrandece, até estourar. A peteca é esticada até onde se pretende que a pedra alcance, senão o arremesso sai descontrolado. O ioiô tem um limite de ir e voltar.
Tudo acontece assim, ou respeitando o limite ou sabendo que perderá o controle. Por consequência, ninguém imagine que a borracha biológica suporta muito tempo em tanto ser esticada, voltada, forçada novamente. Aparentemente forte demais, o corpo é estrutura plástica das mais vulneráveis.
Não precisa ser especialista para entender o seu funcionamento, tanto do corpo como de qualquer matéria elástica. Os demasiados impulsos enfraquecem a estrutura. Quando retorna já está mais frágil; quando puxada novamente não alcançará com segurança a mesma distância que antes. Do contrário se romperá.
Ainda que a vida fosse de ferro exigiria cuidados de manutenção e conservação, e um dia teria o seu fim. O ferro estraga, corrói, enferruja, vai desaparecendo com o tempo. Ainda de objeto resistente que fosse, um diamante inquebrantável, sem cuidados a vida é orvalho ao sol.
Orgânica e biologicamente, a vida possui a flexibilidade adequada para cada situação. É forte, potente, capaz, já demasiadamente elástica na sua normalidade e perante o seu tempo. E perdurará o tempo certo se o homem não se juntar às  adversidades para corroê-la, romper suas forças, dilacerar.
E ela, a vida, existe para ser vivida dentro de limites. Nem ferro nem orvalho, apenas uma estrutura que precisa ser conservada. E torná-la fio elástico, peça de borracha, cordel de látex, sempre significará fragilizá-la para antecipar o seu rompimento, o seu fim.
E a brincadeira acaba de vez no exato momento que a pessoa estava gostando tanto de jogá-la lado a outro, puxando e soltando, fragilizando a si mesmo. E elástico rompido sempre tende a tomar impulso inesperado. Algo assim como a morte.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Ouça, veja, sinta... (Poesia)



Ouça, veja, sinta...


Há uma canção na brisa
ouça...
há uma fotografia na tarde
veja...
e um reviver na memória
sinta...

ouça, veja, sinta
pois tudo de nós e entre nós
nossas vidas chegando assim
como recordações amorosas
de amantes que se separaram
até os erros serem apagados
até o perdão desatar os nós
até um procurar o outro
e num olhar de palavra
dizer te amo...

  
Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 175


Rangel Alves da Costa*


“Menina dança ciranda...”.
“A outra brinca de roda...”.
“Quem roda pastora é bonita...”.
“Quem pula na roda é tão bela...”.
“Lá em cima a lua cheia...”.
“Uma lua de cirandar...”.
“Rodar na roda dançando...”.
“Rodando no clarão do luar...”.
“Dê-me a mão...”.
“Pule adiante...”.
“Chegou a vez de rodar...”.
“A ciranda está chamando...”.
“Pra menina cirandar...”.
“Laço de fita azulado...”.
“Enfeite vermelho e branco...”.
“Na bochecha uma pintura...”.
“A roupa toda florida...”.
“Parece moça a menina...”.
“Na noite parece estrela...”.
“Da lua um raio brilhoso...”.
“Vaga-lume a bailar...”.
“Cirandeira cirandar...”.
“Porque o menino adiante...”.
“Querendo também cirandar...”.
“Quer também entrar na roda...”.
“Para a menina olhar...”.
“Depois pegar na sua mão...”.
“E a roda-gira girar...”.
“Como roda a esperança...”.
“De um dia namorar...”.
“Segurar a cirandeira...”.
“E na face dela beijar...”.
“Um beijo ainda criança...”.
“E beijo melhor não há...”.
“Se ela disser que sim...”.
“Se o menino aceitar...”.
“Ele vai entrar na roda...”.
“E a mão vai logo estirar...”.
“Pegar em mão tão macia...”.
“Seda na luz do luar...”.
“Seguir o passo da dança...”.
“Da roda na contradança...”.
“Até alguém ser escolhido...”.
“Para entrar no meio da roda...”.
“E ali tomar decisão...”.
“Quem vai escolher pra ser par...”.
“Pra dança juntinho dançar...”.
“Colar um rosto no outro...”.
“Até a roda girar...”.
“E depois de rodar tanto...”.
“Noite que vai além...”.
“E a ciranda desfazer...”.
“Cada um segue o seu passo...”.
“Tão cansado de rodar...”.
“Mas o menino quer mais...”.
“E vai atrás da menina...”.
“E como quem não quer nada...”.
“Pergunta se algum dia...”.
“Os dois podem cirandar...”.
“Ali embaixo da lua...”.
“Com a roda da vida rodando...”.
“E os dois a namorar...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A MÃO DO HOMEM (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Se há um instrumento terrível, devastador, covardemente destruidor, este é a mão do homem. Aonde o seu passo chega, seu braço alcança, sua mão toca, ali estará o fim.
A mão que tocou a maçã proibida no Paraíso, a saudação nazista e sua mão arrogantemente estendida, a mão cujo dedo polegar gesticula a destruição, a mão onde as linhas do destino se transformam no arrebatamento do destino do próximo.
Não se cogita aqui de ver a mão humana pelo lado humanista, defendendo-a nas suas virtudes. Seria raridade apontar uma mão que se volte única e exclusivamente para fazer o bem, para a benção, para doar o pão.
Logicamente que existe a mão do carinho, do afago, do conforto. Contudo, tal órgão anatômico ao repousar afetuosamente sobre o outro está despido de intencionalidade própria, pois obedecendo aos sentimentos de afeição e talvez de amor. E tudo parte do coração, órgão aliás que poucos parecem ter. 
Contudo, a grande verdade é que não existe mão santa, inocente, imune às tentações tão próprias do homem. Assim, a mão que doa continua estendida esperando receber; a mão que entrega a flor dá um tapa na cara, e muitas vezes logo após entregar a flor. A mão que desenha a pomba da paz assina a ordem de ataque, da guerra, da devastação.
O que sobreleva na mão é o seu poder de ser tão verdadeira. Ela não volta atrás, até porque o estrago já foi feito ou a intencionalidade cumpriu seu objetivo. Com o dedo em riste, aponta, indica, sinaliza, gesticula, sentencia de vida ou de morte. E na carícia que faz é para sentir o valor que tem e se apoderar.
Lógico que a mão não é membro que age sozinho. Toda a ação que vier a praticar é comandada pelo querer da pessoa, pelos seus sentidos, pelo seu objetivo mental. E neste poderia afirmar que não se deveria culpabilizar a mão, mas o homem em si.
Contudo, o recorte que se faz é no sentido de, essencialmente, mostrar o poder de ação, e como age, desse pequeno órgão da extremidade dos membros superiores, que também é responsável pelo tato, um dos sentidos humanos.
A mão deveria ser vista no mesmo patamar dos outros órgãos humanos. Contudo, os outros são praticamente inocentes e ineficazes diante do poder que uma mão possui. Os olhos, por exemplo, veem, sentem, sofrem, mas não podem modificar nada. Com a mão é diferente, pois vai lá e transforma tudo.
Por mais que pretendam inocentar a mão pela prática de crimes, atrocidades, violências, destruições, não há como deixar de vê-la segurando os instrumentos que provocam tudo isso, levando com segurança aquilo que mais tarde provocará terríveis consequências para o seu próprio dono.
É ela, a mão sedenta de sangue, que puxa a arma, aponta e aperta e gatilho; e a mesma que coloca o objeto assassino no mesmo lugar, e como se nada demais tivesse acontecido. Ora, uma vida talvez não valha mesmo nada. É ela, a infame mão, que amola e recolhe a pedra, amola a faca, coloca-a na bainha e depois na cintura. E no momento certo retalha o que bem entender.
É ela, a abjeta mão, que aponta o local na mata, indica árvore que deve ser derrubada, segura a motosserra e depois, como num sopro, dá um leve empurrão para a morte da natureza. E é também ela que cuida de cortar a madeira, colocá-la no transporte, indicar o destino final para a transformação. Satisfeita, é exatamente ela que recolhe o dinheiro com a venda.
É ela, a mão assassina, que de facão em punho vai abrindo a floresta, cortando a mata, até encontrar os ninhos dos pássaros, a moradia das onças, dos veados, dos caititus, das antas, das seriemas, de tudo que for bicho ainda existente. E depois é ela que aponta a arma, aperta o gatilho e em seguida vai recolher seu troféu. E também é ela que sangra o bicho de estimação para fazer molho pardo para o refestelo das gulodices.
É ela, a mão covarde, que coloca o copo na boca e faz a cachaça se derramar goela abaixo. É a mesma que empurra a porta de casa, esbofeteia a esposa, agride os filhos, levanta violentamente as tampas de panelas e depois atira uma a uma no quintal. E aponta o dedo para ameaçar, quando não procura violentar novamente.
É ela, a mão insensível, pusilânime, desumana, que desenha o mapa da guerra, aponta os locais de ataques, escreve nas estatísticas o número de mortos. E sem falar que é também ela que rouba, furta, lesiona, atira pedra na vidraça do outro.
Quem dera que a mão só servisse para dar adeus. E adeus para sempre àqueles que fazem das mãos a vergonha da vida, a desonra humana.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Lua do dia (Poesia)



Lua do dia


Ah, meu amor
desde o arrebol
a todo instante
sob o sol
tudo que irradia
nada impede
essa lua no dia

sob minha cabeça
no meu coração
dentro do olhar
no meio da rua
e essa lua
essa lua
essa imensa
lua...

é como se a noite
trouxesse você
o beijo e o abraço
o doce perfume
fico com saudade
mas sinto alegria
com essa lua
essa lua do dia
e todo dia...

  
Rangel Alves da Costa