SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Destino (Poesia)


Destino


Porque o meu sentimento
reconhece o que necessito
e clama para eu ir buscar
aquilo que tanto acredito

porque a minha razão
escolhe entre o bem e o mal
e ao atender o coração
propõe seguir seu ritual

porque o meu destino
não me coube escolher
mas creio que desde menino
minha escolha foi você

porque não posso negar
nem ao destino nem a mim
só me resta acreditar
ser você princípio e fim.


Rangel Alves da Costa


PALAVRAS SILENCIOSAS – 385


Rangel Alves da Costa*


“O Graal guarda um segredo dourado...”.
“O cálice tocado pelo lábio da vida...”.
“Vinho sorvido na Última Ceia...”.
“Sangue derramado pelas vastidões...”.
“A Távola Redonda espera os seus cavaleiros...”.
“Os doze honrados cavaleiros a serviço do rei...”.
“Outras terras não precisam ser conquistadas...”.
“Mas a fé precisa ser mantida pela espada...”.
“Os cruzados marcham contra os infiéis...”.
“A bandeira de luta é a da Igreja...”.
“A espada não peca se a cabeça não é convertida...”.
“Tudo será perdoado por a fé justifica a morte...”.
“Há um silêncio no distante deserto da Galiléia...”.
“Ainda perdura o silêncio de quarenta dias e quarenta noites...”.
“Nenhuma tentação foi capaz de trair a divina convicção...”.
“E desse silêncio o mundo sentiu o seu grito...”.
“Há um povo temeroso e descrente...”.
“Há uma fé que abre as águas dos mares...”.
“Há uma fé que multiplica pães e peixes...”.
“Há uma fé que faz curar e ressuscitar...”.
“Mas não há fé que cure a descrença...”.
“Há mistérios a serem explicados...”.
“Querem ainda saber quem e como construiu as pirâmides...”.
“Querem saber que traçou as linhas de Nazca...”.
“Querem compreender a engenharia das civilizações perdidas...”.
“Querem descobrir os mistérios atrás dos mistérios...”.
“Porque os mistérios continuam existindo...”.
“Nem o homem nem a ciência são capazes de explicar...”.
“Tantos mistérios cada vez mais instigantes...”.
“O que realmente existe no Triângulo das Bermudas?”.
“A Civilização Atlântida realmente existiu?”.
“Por que as grandes civilizações do novo mundo simplesmente desapareceram?”.
“Por que as tantas e imensas construções megalíticas nas culturas antigas?”.
“Eram realmente deuses os antigos astronautas?”.
“Qual o real significado do Calendário do Sol asteca?”
“Por que as águas do Mar Morto existem daquele modo?”.
“Os extraterrestres estão entre os humanos?”.
“Os extraterrestres foram os engenheiros e artífices nas antigas civilizações?”.
“Como surgiram as imensas figuras em pedras da Ilha de Páscoa?”.
“Qual o real significado das pedras de Stonehenge?”.
“São verdadeiras as marcas encontradas no Santo Sudário?”.
“Existirão outras civilizações noutros planetas?”.
“A fé permite o sacrifício humano nas antigas civilizações?”.
“Por que os deuses do Olimpo eram tão importantes na antiguidade?”.
“Existe vida além da morte?”.
“O que há além, muito além do universo?”.
“Não adianta perguntar ao homem...”.
“A ciência da guerra evoluiu demasiadamente...”.
“A ciência da descoberta continua acanhada...”.
“Nem todas as doenças podem ser curadas...”.
“O homem ainda não sabe como salvar vidas...”.
“Mas sabe muito bem como inovar para matar...”.
“Mas no homem não há mistério...”.
“Apenas o seu instinto...”.
“Apenas o mal prevalecendo sobre o bem”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

À SOMBRA DAS GRANDES ÁRVORES


Rangel Alves da Costa*


As grandes árvores não existem mais. Ao menos no sertão elas não existem mais. O sol de todas as horas, principalmente dos momentos mais escaldantes e calorentos, desce abrasador e sem ter um sombreado que acolha um proseado de compadres, amigos e velhos conhecidos. O bicho que ia chegando mansinho, todo esperançoso de um cochilo reparador, agora tem de ruminar seu desalento.
Tardes sertanejas e que tão belas tardes de miragens surgindo no olhar. E nestes momentos nada melhor que a acolhida de um sombreado no meio do tempo. Enquanto a fornalha aquece o mundo ao redor, a tudo abrasa e desanima, embaixo da copa e indo até onde a sombra alcança, eis que as folhagens se deitam como sombreiros balouçantes para animar o homem diante do seu mundo.
Não há abanador ou lugar protegido da casa que traga conforto igual a estar debaixo de uma árvore frondosa, de uma figueira antiga, larga, imensa, se mantendo sempre imponente pelos arredores das moradias. Amendoeira de folhas largas, umbuzeiros baixos e aconchegantes, suntuosos flamboyants sertanejos que convidam o homem para o diálogo despreocupado ou para o descanso depois da labuta.
O tamarineiro se eleva esguio e depois permite que os seus galhos se abram em braços imensos e em cujos dedos se sobressaem as tantas folhas e os tantos frutos. A baraúna grande, de tronco reto e largo, parece nunca querer ficar distanciada da terra, pois suas folhagens descem quase rente ao chão. O umbuzeiro, também conhecido como árvore sagrada do sertão, é a grande amiga do sertanejo nos tempos de sequidão, pois local de repouso e repasto para bicho e gente.
As amendoeiras eram mais cortejadas pelas praças, nos centros urbanos. Muitas floresciam no final do inverno e na despedida espalhavam uma imensa colcha de folhas secas pelos canteiros, sendo recolhidas e servindo de caderno de poesia para o sertanejo apaixonado pela linda mocinha à janela. As folhagens grandes, de um marrom envernizado pelo fim de seus dias, formavam um lençol que se movia pelo chão ao sabor da ventania.
Vento quente, acompanhado de sopro também calorento, mas somente até o sol fragilizar suas brasas. Quando o fogaréu lá de cima amainava, quando a lâmina acesa desbotava sua cor, então o sombreado se alongava e uma aragem boa começava a chegar pelos lados das montanhas agrestinas. E trazendo sempre um perfume de esperança por dias melhores.
Verdadeiramente, não havia terreiro digno de ser sertanejo se não houvesse ao menos uma grande árvore enfeitando a paisagem árida. Tantas vezes, em meio ao desolamento, ao cinzento das pastagens e a murcheza da mataria, somente a grande árvore para preservar a esperança do homem. Pela cor, fragilidade ou balanço das folhagens, cada um sabia o que devia esperar naquele e nos dias seguintes. E quando a árvore entristecia, então era um deus nos acuda.
Tempos outros como se fossem agora, mas tudo diferente. Ali a velha senhora manda colocar sua cadeira de balanço e depois começa a chorar de saudade, lembrando os quadrantes idos, sentindo vozes no vento e feições pelos varais que valsam pelos quintais. O velho caboclo senta no tronco ali fincado a vida inteira, lança mão da palha seca de milho e do fumo já desfiado, ajeita tudo no dedo, fecha o cigarro nos beiços e depois se põe a mirar aquela imensidão. Só Deus sabe o que lhe surge à mente.
O vizinho aproveita e vai se achegando para uma pergunta ou notícia. E da palavra primeira chega uma boiada de coisas interessantes. Falam da seca que não vai demorar a chegar, do compadre adiante que teve de vender sua melhor cria, do sumiço de vez das frutas próprias da mataria, da carestia que toma conta de tudo. E chega mais um falando mal do político, da política e de um bando de desavergonhados. Então a conversa desanda de não acabar mais.
E logo mais as nuvens escondendo o sol por trás de suas asas e rumando além da serra. O tempo já está mais ameno, um sopro de aragem começa a chegar e as sombras da noite logo estarão por ali. A velha vai preparar seu cuscuz para comer com tripa de porco ou ovos de capoeira; o cheiro forte e encorpado do café já começa a se espalhar pelo ar; ouve-se um grito pra trazer lenha, e outro pra não se esquecer de tirar os panos do varal. E aquele anel dourado que surge é o que chamam de lua. Só que ali é diferente, maior, mais bonita, pois sertaneja.
Mas tudo conversa de tempo, de um tempo saudoso do próprio tempo passado. Idos das grandes árvores pelas matarias, quintais, jardins e defronte aos casebres e casas mais requintadas. Um tempo onde as grandes árvores eram amigas do homem, lhes dava sombra e refrescância, frutos e aconchegos. Portentosas espécies que acolhiam viajantes, comboeiros, vaqueiros, bandos cangaceiros e volantes, e em cujo tronco o apaixonado procurava eternizar sua paixão. Mas onde estão agora as grandes árvores?
As grandes árvores, suas tardes e sombreados, agora restam somente no pensamento. Ou naquela moldura na parede da memória. E como dói, como diria Drummond.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com  

Canção de abraço e beijo (Poesia)


Canção de abraço e beijo


Aquela música dos lábios
emudeceu no último outono
cantou a última ária na minha boca
e depois partiu como folha seca

hoje faço silêncio profundo
porque não tenho outro lábio
para dele ouvir a suave melodia
e ecoar a doce canção do beijo

meu lábio tremula sem voz
nenhuma música resta a ouvir
e no vão do silencioso instante
apenas a brisa ecoando o passado

e eu querendo ouvir novamente
a doce música saindo do teu lábio
os sons de tantos beijos e abraços
e depois repetir que te amo tanto.



Rangel Alves da Costa


PALAVRAS SILENCIOSAS – 384


Rangel Alves da Costa*


“O povo de outros tempos...”.
“Com suas lições de outros tempos...”.
“Tudo tão moderno...”.
“Mas sem ninguém para ouvir...”.
“Não somente as lições...”.
“As antigas sabedorias...”.
“Mas todo um modo de vida...”.
“Que deveria ter se tornado costume...”.
“E prevalecer até hoje...”.
“Comer o que tem...”.
“Plantar e colher o próprio alimento...”.
“Encher a barriga pelo esforço...”.
“Respeitar o próximo...”.
“Ser temente a Deus...”.
“Ter sempre boa conduta...”.
“Fazer amizades para ter amigos...”.
“Mas amigos bons de amizades boas...”.
“Colher o remédio no quintal...”.
“Ter sempre hortelã e erva cidreira...”.
“O pomar é a sobremesa da mesa...”.
“Em todo lugar dá mamão...”.
“Floresce a goiabeira...”.
“Comida em panela de barro é apetitosa...”.
“Fogão de lenha cozinha melhor...”.
“Na falta da carne o toucinho...”.
“Na falta da farinha o fubá...”.
“Na falta do fubá o pão...”.
“Qualquer coisa na falta do pão...”.
“Queijo de coalho de quintal...”.
“Bolo de macaxeira e de puba...”.
“Todo mundo gosta de cuscuz...”.
“Melhor ainda quando ralado...”.
“É o café coado...”.
“Negro e cheiroso feito noite boa...”.
“Doce de leite com bola...”.
“Doce de coco e cocada...”.
“Pé-de-moleque e beiju...”.
“Uma canjica de milho verdoso...”.
“Melancia de ramagem...”.
“Melão de cerca de pau...”.
“Leite quentinho do peito da vaca...”.
“Com farinha e em prato de estanho...”.
“E também a buchada gorda...”.
“O sarapatel de porco ou de carneiro...”.
“O mocotó ensopado...”.
“Carne no feijão com toucinho...”.
“Feijão de corda com ovos de capoeira...”.
“Capão de mulher parida pra lamber os beiços...”.
“E também as coisas simples da vida...”.
“Como apreciar a lua sertaneja imensa...”.
“Não reinar com o sol que também é de Deus...”.
“Acordar bem cedinho...”.
“Caminhar pela mataria ao redor...”.
“Recolher os ovos ad chocadeira...”.
“Viver assim...”.
“Pois maravilhosamente viver...”.


Poeta e cronista
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domingo, 22 de setembro de 2013

SERTANEJAS VESTIDAS DE SOL


Rangel Alves da Costa*


Aura ensolarada e tez envernizada pelo calor do dia; olhar meigo e distante e sorriso sempre acenando; uma sertaneja, uma mulher vestida de sol. Os romances, as novelas, a poesia e até as conversas de boca a boca sempre reconheceram a beleza simples e singela da mulher sertaneja.
E uma passagem bíblica, logicamente expressa noutro contexto, servirá muito bem para sintetizar tal reconhecimento. Diz o Livro do Apocalipse, 12,1 que:  Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça.
Ora, a mulher vestida de sol não era outra senão Maria, mãe de Jesus. E Maria, mais que qualquer outro, é nome que simboliza a mulher sertaneja. E estar revestida de sol, tomada pelos seus raios, também não deixa de remeter ao sol sertanejo pairando sobre suas belas filhas.
E mais. No contexto sertanejo, ter a lua debaixo dos pés pode muito bem significar a procura por momentos de paz e felicidade e também os instantes propícios para a caminhada em busca de dias melhores. Tendo o sol sobre sua cabeça, símbolo de luz mas também de padecimento, tem a lua sobre seus pés simbolizando a paz tão almejada.
E o que seria a coroa de doze estrelas sobre a cabeça da mulher sertaneja? Na Bíblia, as doze estrelas representam os doze apóstolos, aqueles escolhidos para semear as palavras de Deus. Perante a realidade sertaneja, cujo aprendizado é fruto da vivência no seu chão, a coroa de doze estrelas seria o diadema refletindo as singularidades dessa mulher também singular.
Tais singularidades podem ser encontradas em algumas características sempre existentes na verdadeira mulher sertaneja. Desse modo, as doze estrelas seriam: simplicidade, humildade, perseverança, amizade, destemor, honestidade, singeleza, religiosidade, beleza, meiguice, cordialidade e força.
Eis, assim, a mulher sertaneja vestida do sol de seu mundo, caminhando em busca de reconhecimento e conquistas, sempre ornada com as características básicas que lhes dão singularidade e encanto. E não haverá alguém que tenha bons olhos para ver, sincero coração para sentir e razão para discernir, que não veja em cada uma a mais pura expressão da singela e encantadora feminilidade.
E não importa se mora numa tapera de barro e cipó, nos escondidos da mataria distante, nas margens empobrecidas dos centros urbanos ou nas cidades. Não importa se usa chinelo de dedo ou sapato enfeitado, se usa vestido de chita e flor no cabelo ou roupa comprada em butique. Não importa se pobre ou rica, bastando que se revista daquele sol sertanejo para ser reconhecida na sua beleza.
Contudo, mesmo o sol sertanejo, reconhecido pela sua força e fulgor, deixa de brilhar sobre aquelas cabeças que, falseando sua vivência e seu meio, insistem em transgredir as características e conceitos próprios da mulher sertaneja. Tomadas pelos modismos, tantas vezes omitindo o seu próprio chão, acabam se desvirtuando nas tentativas de ser aquilo que, por destino e escolha divina, não lhes foi permitido.
Mas as ovelhas desgarradas logo deixam de ser reconhecidas pelo rebanho. E naquelas que continuam abraçando sua terra com orgulho e prazer, que permanecem com hábitos e costumes próprios de seu mundo ou que se tornam modernas sem ser diferentes, nestas sempre será avistada toda a beleza cabocla.
Pois, repetindo sempre, beleza sem igual é a desta mulher. Desde aquela mocinha que ao entardecer fica sonhando na sua janela, aquela outra que se respinga de lavanda para atrair olhares sempre apaixonados, ou ainda aquela outra que simplesmente passa e os olhares se enchem de graça e a paisagem agrestina agradece por existir assim tão majestosa. E também a já envelhecida, calejada pelas labutas tantas. Uma flor, ou flores sertanejas. Simplesmente isso.
A bela flor do cacto e do inexistente jardim sertanejo. Inexistente pela aspereza da terra e pela sequidão do tempo, mas quando existir ali garantida já estará sua flor: bela flor que é essa mulher vestida de sol.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um amor é tanto (Poesia)


Um amor é tanto


Um amor é tanto
que se divide e multiplica
pelo amor sentido
um amor é tanto
que nunca é demais
para quem do amor quer mais
um amor é tanto
que nunca se avista o fim
senão desejo de eternidade
um amor é tanto
que quanto mais se ama
mais se deseja amar
um amor é tanto
que mesmo quando acaba
ainda pode ser avistado
um amor é tanto
que significa tudo
e muito mais a descobrir
um amor é tanto
que todo amor que amo
é grão no amor desejado.



Rangel Alves da Costa