SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Com laço de fita (Poesia)


Com laço de fita


Se é para ti
meu amor
que tenha asa
que alce voo

se é para ti
meu amor
que seja doce
melhor sabor

se é para ti
meu amor
que seja pétala
de bela flor

se é para ti
meu amor
que seja prece
seja louvor

se é para ti
meu amor
que seja eu
e o que sou.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 832


Rangel Alves da Costa*


“Só sei amar assim...”.
“Sendo ainda criança...”.
“Sendo ainda inocente...”.
“Procurando descobrir...”.
“Em busca de encontros...”.
“Só sei amar assim...”.
“Declamando versos...”.
“Desenhando no ar...”.
“Falando coisas simples...”.
“Sorrindo de vez em quando...”.
“Entristecendo quando for preciso...”.
“Só sei amar assim...”.
“Com a verdade na voz...”.
“Com a certeza no olhar...”.
“Com amor no coração...”.
“E uma boa surpresa...”.
“Para quebrar o silêncio...”.
“Só sei amar assim...”.
“De mãos dadas por aí...”.
“Caminhando pelas estradas...”.
“Colhendo flores do campo...”.
“Dialogando com pássaros...”.
“Subindo à montanha...”.
“Deitando na relva molhada...”.
“Só sei amar assim...”.
“Oferecendo lembrancinhas...”.
“Maça do amor e picolé...”.
“Algodão doce e araçá...”.
“Caramelo e cocada...”.
“Queijo com goiabada...”.
“Só sei amar assim...”.
“Como criança feliz...”.
“Criança rodando na roda...”.
“Sonhando sob o luar...”.
“Fazendo o olhar viajar pelas nuvens...”.
“Soltando bolha de sabão...”.
“Cantando canção de ninar...”.
“Só sei amar assim...”.
“Sem cara feia ou tristeza...”.
“Sem arrogâncias ou friezas...”.
“Sem distâncias e partidas...”.
“Sem lenços dizendo adeus...”.
“Sem janelas fechadas...”.
“Só sei amar assim...”.
“Como manhã de primavera...”.
“Como jardineiro contente...”.
“Como colibri esvoaçante...”.
“Como o aroma e o perfume...”.
“Por que o amor não será verdadeiro...”.
“Se não for um amor assim...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

ANO APÓS ANO


Rangel Alves da Costa*


Há um ditado popular asseverando que a cantiga da perua em uma só. Quer dizer, na calmaria ou na tempestade, em tempo bom ou ruim, o gluglu ouvido será o mesmo. Tudo se repete do mesmo jeito, tudo acontece exatamente como em outras situações. O gluglu da perua, ou seu canto mesmice, não se diferencia muito de outras situações na vida, onde tudo se repete como praga ruim. E mesmo que todas as promessas do mundo sejam feitas para um canto novo.
Tal preâmbulo para dizer que ano após ano e tudo acontece como um calendário fixo aonde a pessoa vai apenas mudando a data e não os dias. Desse modo, nada de novo parece acontecer, e raramente acontece, pois as previsões são de que os mesmos eventos de anos anteriores se repitam, mudando somente o contexto e os envolvidos. Infelizmente é assim mesmo que se observa. Aquilo que aconteceu no passado e todo mundo esperava que jamais se repetisse, eis que repentinamente desponta como manchete televisiva.
Tudo isso causa espanto porque o ser humano dividiu o tempo em anos e não quis reconhecer que a existência é uma continuidade só, sem intervalos ou diferenças. Existe a ideia de passado e presente, de ontem e hoje, quando tudo deveria ser visto como prosseguimento, como ininterrupção. Desse modo, não teria cabimento dizer que o homem moderno age com bestialidade primitiva ou que a sociedade moderna não evoluiu em muitas situações. Ora, apenas repete o já conhecido, só isso.
O mesmo se diga com relação à ideia de ano velho e ano novo. Não há ano velho nem ano novo, apenas um tempo contínuo, uma repetência desde que mundo é mundo. O ano que vai nascer vai apenas seguindo os passos de um calendário desde muito vivenciado. E a prova maior é que mesmo daqui a dois, três anos ou mais, e tudo parecerá como se fosse neste ou no ano passado. A não ser no envelhecimento do ser humano, efetivamente não há mudança nenhuma.
Ademais, não há qualquer ano dito como novo que traga coisas novas, pois tudo se copiando com um ou outro aprimoramento, ou até mesmo regredindo. Daí ser errôneo se imaginar que a cada alvorecer de janeiro a vida e o mundo se abrem para novas perspectivas. Não, pois o homem não quer. E não deseja que aconteça porque acostumou com o conhecido e calejado e não se permite qualquer transformação. A verdade é que foge ao reconhecimento dos erros e por isso mesmo nada busca modificar. Contudo, o pior é que vai prosseguindo dando validade a um fardo de coisas ruins.
Sem transformação a partir do ser humano, o mundo – e a qualquer tempo – nada mais será que uma mesmice. Tudo se repete, tudo irrompe quando se tinha como já morto e enterrado. Não há modernidade que mude a mente humana, não há tecnologia que transforme seu modo de ser e agir. Continuará como primitivo, bárbaro, bestial, e somente assim reconhecido porque se esperava ao menos que agisse diferente num tempo onde não há mais que enfrentar o perigoso e desconhecido para sobreviver. O homem de hoje ainda vive de tocha à mão, machadinha de pedra e lança de bambu desafiando feras.
Parece ainda distante, pois 2014 ainda se despede e o dito ano novo só está com as chaves à mão, mas não será exercício de futurologia antecipar o que terá acontecido quando dezembro de 2015 chegar. A verdade é que nos despedimos de 2013 esperançosos demais com o ano que agora se finda. E o que aconteceu realmente na política, na nação, na vida do povo? E assim ano após ano, com cada dezembro representando a fuga das tristezas e absurdos acontecidos ao longo dos meses passados.
Desse modo, não será difícil avistar o final de ano de 2015, na perspectiva de conquistas sociais, da moralidade nas instituições e nos homens públicos, nas ações dos governantes, nas manchetes que estarão rotineiramente estampadas nos jornais e disseminadas pela televisão. A cada início de ano sempre ressurge a esperança que enfim tudo vai melhorar, que os erros cometidos já foram suficientes para não serem reincididos, que as corrupções já foram tamanhas que não há mais espaço para o seu cometimento. Mas ao final de cada ano e a triste certeza de que tudo aconteceu novamente, e de forma mais vergonhosa.
A verdade é que, ano após ano, as retrospectivas de dezembro são as mais desalentadoras possíveis. Entristecem os fatos costumeiros, como as mortes, as catástrofes naturais, as guerras dizimando milhões pelo mundo, a pobreza ainda ceifando também milhões de vidas inocentes. Contudo, são determinados aspectos cotidianos que acabam confirmando que o homem pouco tem aprendido com os erros ou com as novas realidades. Fatos que se suporiam cabíveis somente em outras épocas se alastram de tal modo que mais parecem as barbáries renascidas.
No Natal, por exemplo, além do nascimento do menino, deveria também se comemorar o nascimento do homem novo. Mas não. O velho homem, com suas velhas ações, com tudo que lhe envelhece, será o que se tem como novo a cada ano. E não há ferrugem que vença sua feição corrompida.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

O menino (Poesia)


O menino


Não vejo impossibilidade
renego minha idade de agora
minhas rugas e cicatrizes
e sou novamente menino
sim, menino descalço na vida
brincando de bola de gude
e sonhando um dia voar

não estranhe minha afirmação
mas cansei de ser adulto
cansei de apenas envelhecer
e não mais sonhar nem brincar
não mais sorrir nem viver
acordar para a hora e a data
retornar para o mesmo amanhã

chega, pois cansei disso tudo
e não serei mais eu o que sou
e quem quiser me encontrar
terá de caminhar pela mataria
e perguntar ao passarinho
para qual nuvem voou o menino
ou em qual mundo ele se escondeu.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 831


Rangel Alves da Costa*


“Ah, o amor...”.
“Tão misterioso e profundo...”.
“Tão raso e vazio...”.
“Tantas vezes tudo...”.
“Tantas vezes nada...”.
“Eis que em pedestal...”.
“Ornado de honrarias...”.
“Mas também rebaixado...”.
“Ao lamaçal dos sentimentos...”.
“Amor de ouro e diamante...”.
“De jade e rubi...”.
“Reluzente e precioso...”.
“Mas também poeira e pó...”.
“Resto do resto...”.
“Impureza que afeta os sentidos...”.
“Não há quem não o defenda...”.
“Não há quem o alardeie...”.
“Não há quem não diga senti-lo...”.
“Não há quem o ecoe em verso e prosa...”.
“Mas apenas palavras...”.
“Apenas ecos ilusórios...”.
“Fingimentos intencionais...”.
“Pois de repente o dourado...”.
“Acaba sendo transformado em latão...”.
“O tão precioso...”.
“Acaba sendo transformado em lixo...”.
“O tão defendido...”.
“Acaba sendo jogado às traças...”.
“Brinca-se com o amor como um brinquedo qualquer...”.
“Torna-se o amor um objeto de uso...”.
“Dele se aproveita para encantar...”.
“Mas finge-se a verdade maior...”.
“E a verdade maior é reconhecer...”.
“Que o amor é apenas um sentimento...”.
“Frágil e sensível...”.
“Que o amor também padece...”.
“Dos erros humanos...”.
“E não é simplesmente flor...”.
“Não é sempre poesia...”.
“Não é a joia mais preciosa...”.
“É apenas uma construção...”.
“Que precisa ser alimentada com a verdade...”.
“E mantida com a coragem...”.
“De reconhecer seus limites...”.
“Suas fraquezas e carências...”.
“E por isso mesmo...”.
“Precisa ser verdadeiramente amado...”.
“Para que aprenda a ser amor...”.
“E jamais a mera aparência...”.
“Como algo na boca e não no coração...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MINHAS PREFERÊNCIAS TELEVISIVAS


Rangel Alves da Costa*


Confesso que desde algum tempo não assisto nada nos canais abertos de televisão. Na verdade, migrei de vez para a tv por assinatura. Tentei acompanhar a nova versão da novela Gabriela – pois apaixonado por tudo que diga respeito à obra de Jorge Amado e suas tramas coronelescas/cacaueiras -, mas logo percebi que nada tinha a ver com a novela de Walter George Durst exibida nos anos 70 e muito menos com a obra amadiana. Desisti.
Tentei, a todo custo, acompanhar alguma coisa de Cordel Encantado, eis que retratando elementos da cultura nordestina, onde me assento com berço e raiz. E igualmente fiz com Meu Pedacinho de Chão, pois logo me interessei pela apresentação visual da trama e o realismo-fantástico no desenvolvimento de grande parte das ações. Contudo, logo fui impedido pelo horário.
A bem dizer, não posso me colocar diante de uma televisão antes das dez da noite, ou a partir do instante que estendo minha rede no quarto para acompanhar os programas daí em diante até adormecer, lá pelas onze horas ou pouco mais. Mas sempre em canais fechados e direcionando o controle para somente alguns. Raramente me vejo despertado para algum filme, pois minhas preferências se voltam para programas que abordem fatos históricos, deuses e mitos, grandes civilizações, religião, arqueologia, teorias conspiratórias, segredos bíblicos e históricos, personagens marcantes, dentre outros contextos pontuais.
Há pelos menos dois programas no canal Globosat que são realmente sensacionais. O primeiro é Mundo Museu, onde o telespectador é conduzido aos grandes museus do mundo e pode apreciar a obra dos grandes mestres da pintura e também de artistas menos conhecidos, porém geniais. O outro chama-se Brasil Místico, com episódios que abordam a religiosidade brasileira a partir das diversas religiões, seitas e cultos disseminados pelo país. É, sem dúvida, de suma importância para se conhecer não só as diversas feições de nossa cultura religiosa como para sentir como o povo escolhe as bases de sua fé.
Mesmo com o fim da temporada, de vez em quando o Discovery reprisa um dos programas mais maravilhosos surgidos recentemente na televisão: O Mundo Visto do Céu. Como bem referendado no nome, trata-se de um passeio a lugares históricos, belos e encantadores, a partir de uma visão panorâmica do alto. As paisagens e cenários mostrados são repletos de castelos, relíquias antigas, construções modernas e medievais que vão se constituindo numa aula deslumbrante de História e Geografia.
O History já se apresentou como canal de melhor qualidade no passado, mas vem perdendo espaço com a escolha de programas que pouco tem a ver com história. Chega a ser enjoativo programas voltados para compra e venda de antiguidades, restauração de carros e objetos e reality shows na vida selvagem. E surgem aos montes. Os programas acerca de avistamento de ovnis e contatos com seres extraterrestres já se tornaram saturados e mentirosos demais. O Alienígenas do Passado, mesmo tentando forjar o impossível, ainda merece ser assistido, mas não pelas teorias apresentadas, e sim pelo cunho histórico que entremeia a narrativa. Mas de vez em quando surgiam programas dignos de nota no History, como Humanidade, Guerras A. C., Confronto dos Deuses, e mais recentemente A Grande História, Continente Nazi, Guerras Mundiais e a Bíblia, esta ainda em exibição.
Também costumo assistir programas nos canais Discovery, National Geographic, e raramente no Animal Planet. Tais canais possuem séries interessantes, principalmente abordando a vida selvagem dos continentes. Há temas instigantes em programas como Tabu, mas outros insuportáveis de assistir, como aqueles com tratadores de cães, gatos e outros animais, bem como de sobrevivência na selva. O Animal Planet reprisou algumas vezes o documentário Sereias, digno de ser sempre assistido. O History2 vem apresentando boas reprises de documentários e até algumas produções originais, mas resta saber se também não vai enveredar para os Trato Feito da vida.
Alguém haveria de perguntar se não assisto TV Justiça, TV Senado e similares. Como afirmado inicialmente, deito para relaxar e me entreter com programas interessantes. Não que as decisões das altas cortes e do parlamento não sejam importantes. Contudo, prefiro mentiras sobre ETs a acreditar em deputados e senadores, também prefiro conhecer as leis do passado aos julgamentos do presente.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Ao mar (Poesia)


Ao mar


Depois de toda solidão
e de toda lágrima
joguei uma carta ao mar
e deixei a água levar

na garrafa entre as ondas
relatos de toda saudade
verdades sobre o amor
que em mim restou

numa praia qualquer
ao caminhar ao entardecer
talvez você me encontre
e leia que ainda existo

e depois da garrafa aberta
depois de lida a cartinha
responda na areia da praia
que a onda me encontrará.


Rangel Alves da Costa