SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 6 de junho de 2010

SERMÃO DO AMOR QUE VIRÁ (Crônica)

SERMÃO DO AMOR QUE VIRÁ

Rangel Alves da Costa*


Talvez o amor precise do mesmo sal da terra que Jesus cita no Sermão da Montanha: "Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens". Talvez o amor precise ser vivenciado segundo os preceitos budistas e as palavras do grande Mestre: "Um amor do passado é somente uma lembrança. Um futuro amor é somente uma fantasia. O amor verdadeiro vive aqui e agora". Talvez o amor se alimente das lições do hinduismo: "Quando duas pessoas resolvem viver juntas e caminhar num mesmo caminho é preciso encontrar o ritmo e o destino de cada uma e transformar isto numa bela melodia que possa ser ouvida sem enjoar, sem cansar".
Talvez o amor esteja na doce palavra do Pequeno Príncipe: "O amor verdadeiro não se consome, quanto mais dás, mais te ficas", "O amor é a única coisa que cresce à medida que se reparte", "O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção". Talvez esteja nas palavras de Fernão Capelo Gaivota: "Subiu a seiscentos metros sobre o mar negro e, sem pensar no fracasso ou na morte, apertou as asas contra o corpo, deixando apenas que as pontas cortassem o vento, como lâminas de punhais, e mergulhou na vertical. O vento era o rugido de um monstro acima da sua cabeça. Cem quilômetros à hora, cento e trinta, cento e oitenta, e ainda mais depressa". Talvez o amor tenha essa persistência, essa pressa, essa coragem e essa vontade de vencer os desafios.
Talvez o amor esteja no chamado gritante dos sinos das catedrais, nos sons das folhagens que esvoaçam fortemente com o vento norte, no silêncio dos campos semeados pelo horizonte, no barulho das águas que desabam na cachoeira, no passarinho que canta, na criança que chora, naquele que pede, na voz da noite, no chamado do medo, no zunido de qualquer coisa, no soluço da pedra, no bater e abrir a porta, no som gostoso da chuva que cai, no barulho ameaçador da tempestade, no gemido do sexo.
O amor está em tudo. O amor do passado está na recordação, na lembrança, na saudade, na dor sofrida, nas tantas alegrias, nas ilusões que se contentaram no iludir, nas promessas cumpridas e nas impossíveis, na união que se fez, naquilo que Deus uniu e depois separou. Dizem que o amor do passado se transforma em lição vida afora, mesmo que o aprendizado tenha sido de dor e sofrimento. Quando tudo foi alegria e prazer, além de se tornar lição é também espelho.
O amor do presente está aqui e agora, ao lado, adiante, esperando para ser amado. É amor que pede, se contenta e se alimenta do verdadeiro querer do outro, do respeito, na tomada das decisões de amor, pois em meio às indecisas banalidades há que se saber decidir sobre o que se vai construir para a posteridade. Assim, o amor de hoje, além de dar sentido à vida, deve ser o cimento para a solidificação do amanhã.
Foi dito do amor em tudo, do amor de ontem e de hoje, mas o que poderá ser dito do amor de amanhã, do amor que virá? Quem terá olhos para enxergar o que virá e ouvidos para ouvir o amanhã, senão o destino?
E o destino por onde expressa sua sabedoria procura deixar bem claro: O amor de amanhã somente existirá se o homem não deixar que pereça hoje os bons sentimentos do coração; o amor de amanhã será a adolescência do amor que deverá nascer agora; o amor que virá só poderá chegar se for chamado por vozes verdadeiras que levem nos seus sons palavras como perdão, compartilhamento e afeto, e só poderá subsistir onde seja chamado se encontrar corações que amem, e nisso tudo outro amor para dialogar a vida e viver a existência.



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Neto Macedo disse...

Sertão

http://www.youtube.com/watch?v=LXd1_aFUmMk