SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 10 de maio de 2015

MÃE SERTANEJA


Rangel Alves da Costa*


Quando a Bíblia fala numa mulher vestida de sol está também se referindo à mãe sertaneja. Diz em Apocalipse, 12: 1,2: E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz.
Maria, mãe de Jesus, é a mulher vestida de sol. E sol como a luz do Espírito Santo. A lua como seu poder de estar acima de tudo. E a coroa com estrelas representando a força dessa mulher que tem o destino de tantos sobre sua cabeça. E prestes a dar a luz ao poder divino sobre a terra.
Eis, portanto, uma clara descrição da mulher, da mãe sertaneja: uma Maria, mãe de tantos Jesus sertanejos, revestida de seu sol todo dia e incansável na sua luta pela sobrevivência, mas adornada de um prazer maternal que transforma todos os sacrifícios numa inigualável e singela beleza de lua cheia. Uma Maria sertaneja, uma mãe que gesta na dor a permanência da vida, a continuidade do mundo sertão.
Mãe sertaneja Maria, Josefa, Lurdes, Conceição, Joana, Sebastiana, todos os nomes singelos adornando vidas de tantas vidas. De seu ventre nasceu um, muitos Jesus, Pedro, Antônio, João, Manoel, Luiz, Timóteo, e tantos outros que povoam a terra sertaneja. E esta terra que também é berço de nascimento e cama de vida, pois nela gerado o fruto primeiro para alentar a fome e todos os frutos da existência.
Uma mãe sertaneja reinando num céu de barro e cipó, num telhado de estrelas caindo sobre o seu chão, e ainda assim de riqueza infinita. Eis que o amor de mãe sobrepuja a tudo, vai muito além de qualquer materialidade da vida, para envolver cada filho com o que de melhor possa oferecer, e o que primeiro oferece é o cuidado, o zelo, a devoção.
O amor de mãe da mãe sertaneja a torna sempre envolvida num misto de prazer e sofrimento, de alegria e padecimento, de contentamento e angústia. Quanto mais empobrecida for a mãe sertaneja mais tais aspectos se evidenciam, quanto menos puder oferecer mais doloroso se torna o caboclo coração maternal. E a realidade exemplifica com precisão.
Nada mais triste para uma mãe que ouvir o choro do filho e não ter papa ou mingau para oferecer. Nada mais aflitivo ao coração de uma mãe que avistar a fome nos olhos, na barriga e na tristeza dos filhos, e revirar mundo e nada encontrar para remediar o tormento. Nada mais desafiador ao sentimento de mãe que ter dizer não ou mesmo desconversar quando o seu menino ou sua menina pede um brinquedo, um chinelo, um caderno com lápis.
Quanto sofrimento recai sobre a mãe sertaneja, e assim quando sabe que o filho doente precisa de um remédio e o esposo não tem como adquirir, pois já se submeteu demais aos interesses políticos. Quanta amargura no coração maternal ao ter de esconder os seus quando chega visita. Ora, tem vergonha de mostrar o filho descalço, barrigudinho de verminose, todo sujo do barro da parede.
E quanta dor quando o seu rapazinho revela que vai embora, vai tentar a sorte na cidade grande. Sem trabalho, sem terra molhada para plantar, sem nada que ajude na subsistência numa idade sonhadora e tão cheia de planos, então só resta se despedir da família e entregar a sorte a Deus noutro lugar. E a mãe, com um lenço à mão acenando da porta de casa, sempre teme que aquele adeus seja uma despedida maior.
Mãe que silenciosamente sofre, mas que também ecoa a cantiga do coração. Seus olhos brilham ao sentir que o seu está indo à escola e não para o mato carregar feixe de lenha ou para o roçado juntar garrancho de coivara. Mãe de contentamento maior ao poder oferecer o pão de cada dia, a não deixar que o seu sofra desde criança os padecimentos do mundo adulto. Mãe que desde a primeira oração do dia busca a proteção de Deus para o seu menino, a sua menina, para todos os filhos de todas as idades.
Minha mãe era também sertaneja: Dona Peta. E para ela – mesmo já vivendo nos jardins do céu - e todas as mães sertanejas a mesma flor: a bela flor do mandacaru. Amarela flor ornando a mulher vestida de sol.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é caro Poeta Rangel: Às 8 da manhã (como sempre), fui ao seu blog, tendo certeza que você postaria uma mensagem em homenagem ao dia das MÃES. Não a encontrei. Mais tarde um pouco, retornei ao mesmo porque sei que nunca você deixaria a data passar em branco. Portanto, parabéns por sempre lembrar-se das datas importantes, e SEMPRE LEMBRANDO DE TUDO QUE DIZ RESPEITO AOS NOSSOS SERTÕES NORDESTINOS.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha desta nossa Bahia.