SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

UM DIA INESQUECÍVEL


Rangel Alves da Costa*


A dor e a tristeza de um ano atrás fizeram, pelos caminhos da superação e do reconhecimento, que este 1º de novembro se transformasse num dia muito, muitíssimo especial. Eis que os eventos alusivos a um ano de despedida terrena de Alcino Alves Costa, O Caipira de Poço Redondo, acertadamente abdicaram de toda relembrança dolorosa e melancólica para se transformar numa grandiosa comemoração pelos seus grandes feitos.
A ideia surgiu do Padre Mário, um grande amigo de Alcino, que mesmo não estando mais prestando os serviços sacerdotais na Paróquia de Poço Redondo, decidiu que deixaria as distâncias e retornaria à cidade especialmente para tornar a data num evento sem igual em todo o sertão sergipano. Entrou em contato com familiares e disse o que desejava ter nesse dia: uma celebração da vida daquele que foi um verdadeiro guardião da história e da cultura do sertão.
Padre Mário
No dia anterior e o Padre Mário já se fazia presente na cidade, sempre alegre e acolhedor, cheio de luz e encantamento, adorado indistintamente por todos, um jovem pregando os ensinamentos divinos a partir de uma cadeira de rodas, pois acometido de deficiência física que o impede de normalmente caminhar. E para sua imensa satisfação, eis que tudo saiu conforme o combinado.
A partir das cinco da manhã fogos de artifício anunciaram que as comemorações estavam sendo iniciadas. As portas começaram a se abrir e as pessoas foram saindo de suas casas e seguindo em direção à Praça da Matriz. Nesta, uma banda marcial já estava em formação para dar início à alvorada festiva. E daí em diante as caixas, trompetes, tambores, clarinetes e outros instrumentos, começaram a espalhar pelos quadrantes da manhã aquelas músicas sertanejas tão apreciadas por Alcino.
Em seguida, após passar defronte à residência de tantos anos do Caipira de Poço Redondo, todos seguiram rumo ao cemitério local. No campo santo, a visita ao túmulo e outras homenagens emocionantes. Após as dez foram iniciadas as visitas ao memorial provisório, cujo acervo é composto de originais de obras escritas por Alcino, manuscritos, correspondências, fotografias, além de objetos pessoais e placas recebidas como homenagens.
Neste acervo, exposto exclusivamente para as comemorações, destacam-se os discos em vinil de música caipira, os livros publicados, as obras sobre o cangaço que serviam de leitura e pesquisa, e até “bonecas” de livros que ainda não foram publicados. Banners e fotografias enfeitavam as paredes e objetos típicos do sertão, além de plantas cactáceas, deram ao ambiente a rusticidade sertaneja tão admirada por Alcino. Os visitantes foram muitos, mas principalmente uma imensa leva de estudantes que chegavam para conhecer relíquias daquela pessoa tão importante no seu lugar.
Às quatro da tarde a cavalaria sertaneja se reuniu defronte a Igreja Matriz. Cavaleiros enfeitados, com lanças e imponência sem igual, estavam prontos para a cavalhada. Cada aproximação da dupla de cavaleiros à entrada da matriz, com homem e animal se curvando em devoção, formava uma cena de indescritível beleza. E em seguida o aboio entoado do cavaleiro escolhido para cantar os feitos do grande homenageado.
Alcino Alves Costa
Pelas ruas e em todo lugar, o ecoar das canções sertanejas compostas por Alcino. E todos aguardando ansiosamente a hora da missa. E que momento mágico a celebração comandada pelo Padre Mário, acompanhado do igualmente iluminado Padre Murilo. Com a igreja completamente tomada, pessoas em lágrimas e até desmaiando e outras absorvidas pela grandiosidade do momento, eis que surgem as vozes caipiras acompanhadas de violas, eis que surgem as velhas beatas entoando as rezas antigas escolhidas ao gosto do homenageado.
A igreja, ornamentado com banners e motivos sertanejos, proporcionava uma sensação da presença do próprio Alcino. E então Padre Mário se pôs a fazer com que os corações apertassem, as bocas silenciassem trêmulas e os olhos lacrimejassem. Um sermão para ficar eternamente guardado no coração de cada sertanejo, pois o sacerdote parecia mais iluminado do que tudo naquele momento. E depois as palavras de familiares e amigos e outras apresentações tipicamente sertanejas.
Após a missa, já passando das nove da noite, dois eventos defronte a matriz: a apresentação de um grupo de xaxado e o lançamento da biografia do grande mestre sertanejo, além de farta comida típica para os presentes. Uma noite realmente inesquecível. Um dia que foi a verdadeira feição de Alcino. E certamente ele estava por ali todo contente, de sorriso largo e havaiana nos pés.


Poeta e cronista
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O amor verdadeiro (Poesia)


O amor verdadeiro


Eis o mistério
o amor verdadeiro
cadê?
onde está?
eis um mistério
a ser respondido
pelo coração

então responda
sublime coração
desvende o mistério
diga-me se existe
o amor verdadeiro
e onde ele está

ouvi a resposta:
o amor verdadeiro
está naquele que
verdadeiramente ama
e que sempre ame
mesmo a mentira
do amor desejado.


Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 424


Rangel Alves da Costa*


“Ciranda de roda...”.
“Ciranda de rua...”.
“Cantiga da noite...”.
“Cantiga da lua...”.
“Menina faceira...”.
“Sai pra cirandar...”.
“Mas seu coração...”.
“Só quer namorar...”.
“Uma mão noutra mão...”.
“Um passo e um giro...”.
“Ciranda na boca...”.
“Ciranda no pé...”.
“Ciranda na roda...”.
“A roda girando...”.
“Que belo cirandar...”.
“Mas o coração da menina...”.
“Só quer namorar...”.
“A lua ilumina...”.
“O olhar da menina...”.
“A face rosada...”.
“E toda perfumada...”.
“Vestido de chita...”.
“Coisa mais bonita...”.
“Uma flor no cabelo...”.
“O vestido rodando...”.
“Lá vem o menino...”.
“O menino chegando...”.
“Enxerga a menina...”.
“E fica rodando...”.
“O coração não para...”.
“Na roda girando...”.
“Acompanhando a menina...”.
“Assim vai amando...”.
“E a roda gira...”.
“Na cirandeira da lua...”.
“Tanta canção...”.
“Tanto amor...”.
“Na noite que é sua...”.
“A menina rodando...”.
“E o menino feliz...”.
“A menina cantando...”.
“Tudo que ele quis...”.
“Uma bela canção...”.
“Um luar do sertão...”.
“A roda entontece...”.
“Qualquer coração...”.
“Todo dia assim...”.
“Na ciranda de roda...”.
“A menina rodando...”.
“O menino amando...”.
“Até que a ciranda...”.
“Acaba um dia...”.
“Pra ciranda da vida...”.
“Trazer cortesia...”.
“Cirandando os dias...”.
“Pra toda alegria...”.


Poeta e cronista
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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A IMPRENSA NOTICIA O LANÇAMENTO DA BIOGRAFIA DE ALCINO




BIOGRAFIAS E RETRATOS AVESSOS


Rangel Alves da Costa*


O problema se alastrou agora, mas o conceito de biografia desde muito que vem sendo desvirtuado. Não é difícil saber que o termo biografia corresponde à história de vida de alguém. Os livros unissonamente repetem que biografia é a história escrita da vida de uma determinada pessoa. É, pois, um documento que consta a trajetória de vida de alguém, com dados precisos, incluindo nomes, locais e datas dos principais acontecimentos.
Ao longo dos anos, contudo, a comercialização da imagem de personalidades foi transformando a descrição biográfica num relato de fatos geralmente extravagantes ou que despertem a curiosidade. A intencionalidade maior passou a ser não a descrição o mais fidedigna possível da vida e dos feitos da pessoa biografada, mas quase que exclusivamente acerca daquilo que poucos tinham conhecimento.
Desse modo, não mais interessa a determinado tipo de biógrafo se ater à realidade, a relatar cronologicamente uma vida, a detalhar fatos importantes no percurso da existência, mas tão somente revelar situações e segredos até então desconhecidos pela população. Nesse passo, o que seria uma história de vida se transforma num recorte de situações íntimas e pessoais, até mesmo invadindo a privacidade, num emaranhado de fofocas.
Atualmente, são pouquíssimos os relatos biográficos que não extrapolam a verdade para adentrar no mundo da bisbilhotice e do mexerico, da inverdade e do maldoso boato. Realmente ainda persistem alguns escritos dignos de espelhar com fidelidade o biografado, fazendo constar os fatos mais marcantes de uma vida, ou mesmo um apanhado geral da existência, passo a passo.
Em situações tais, afirma-se que houve compromisso do biógrafo com a verdade, ainda que em muitos ecoem laivos de descrença, raiva ou indignação. Mas eis que ali está descrita a vida de uma pessoa comum, ainda que famosa, e não de uma divindade, um santo ou mártir. E toda biografia séria de pessoa comum há de ser entremeada de realizações e frustrações, de conquistas e derrotas, pois assim é a vida.
Biografias surgem que são desejos pessoais do biografado em ter sua vida descrita para a posteridade. Alguns providenciam para que alguém apenas desenvolva literariamente os seus relatos e os ordene perante suas versões e os recortes. E haveria de ser assim, pois dificilmente alguém vai relatar para as páginas de um livro aquilo que tanto se arrepende de ter feito ou que macule a sua imagem. Daí que toda biografia encomendada geralmente descreve uma infância pobre, uma vida de lutas e conquistas sacrificantes.
Contudo, outras biografias existem - as chamadas não autorizadas - que são mistas de realidade, de possibilidade e de invencionice. Como estas se voltam para famosos e boa parte da vida destes já é do conhecimento comum, então o biógrafo entra no perigoso caminho de descrever fatos ainda não conhecidos e situações que envolvem a intimidade. Contudo, o perigoso mesmo é ir além da possibilidade e descrever como verdade aquilo que jamais existiu. Ou ainda dar ao conhecimento fatos que o biografado deseja ter preservados, ainda que verdadeiros.
Mas ainda há um tipo de biografia que nem deveria ser reconhecida como tal, mas sim como livreto sensacionalista e aproveitador, voltada que é exclusivamente para descrever ou inventar fatos relacionados à intimidade de famosos. E não apenas esmiuçam as intimidades como criam situações inverídicas envolvendo sexo, drogas, fracassos. Estas não possuem compromisso nenhum nem com o biografado nem com a verdade, mas apenas com a lucratividade.
Estas duas últimas espécies de biografias são as que mais fazem parte dos atuais e acalorados debates. Meu ponto de vista é a mesma concepção de muitos. Não comungo com a ideia segundo a qual os podres não devam ser conhecidos, as intimidades não possam ser reveladas e cada um pode dispor de sua imagem ao bel-prazer. E não porque a própria fama já retira essa privacidade que muitos desejam manter contra tudo e todos.
E aos descontentes repito que há os caminhos da lei. Ora, se a biografia não passa de um lamaçal ou de uma junção de mentiras e aleivosias, que se busque o judiciário para ter a honra respeitada. Mas somente depois que for comprovada a desonra, e não através de censura prévia como grande parte deseja fazer.
Que os famosos também desçam dos pedestais e lancem os olhos nas letras da lei. Logicamente que o Código Civil, no art. 20, abre brechas para que as personalidades procurem censurar previamente as biografias. Contudo, a permissão ou autorização está contida na Constituição Federal, ao afirmar que é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; é assegurado a todos o acesso à informação (CF, art. 5º IV, IX e XIV).
O biógrafo, pois, não pode ser previamente impedido de publicar sua obra pelo simples fato de que poderá causar dano a alguém. A não ser que o conteúdo ou parte deste já seja do conhecimento. Censurar previamente é tentar que o judiciário antecipe o julgamento sobre suposta violação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem. Ora, o dano deve ser provado e não presumido.


Poeta e cronista
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Para sempre (Poesia)


Para sempre


Era tempo de sonhar
e sonhei amar
tempo de querer
e encontrei você
um tempo de paixão
e quanta devoção
você me disse sim
e veio pra mim
e nunca mais espinho
no meu caminho
nem dor e aflição
na velha solidão
um tempo de você
um tempo de mim
amor por merecer
e amar sem fim

deixemos que o tempo
seja de sonhar
adormecer no outro
e quando acordar
querer novo sonho
para sempre amar.



Rangel Alves da Costa

PALAVRAS SILENCIOSAS – 423


Rangel Alves da Costa*


“O que é a poesia?”.
“O que é ser poeta?”.
“O poeta escreve o que sente?”.
“Ou a poesia está além do autor?”.
“O escrito é o sentido?”.
“O poeta ama o amor da poesia?”.
“Ou apenas solta palavras?”.
“A poesia é descompromissada?”.
“Ela possui várias feições...”.
“Ou apenas a feição proposta pelo poeta?”.
“Afinal, onde o poeta na poesia?”.
“O que a poesia reflete do poeta?”.
“Situações corriqueiras no pensamento...”.
“Mas vejo tudo de forma muito simples...”.
“O poeta é um artista da escrita...”.
“Daí ser apenas alguém que representa...”.
“Que não está necessariamente envolvido...”.
“Com o que escreve...”.
“Ora, a poesia pessimista não é fruto...”.
“Apenas de autores pessimistas ou suicidas...”.
“Verdade que o momento inspira...”.
“E o momento de angústia...”.
“Inspira uma poesia angustiada...”.
“Mas são exceções na regra geral...”.
“Shakespeare era um ator romântico...”.
“Também era ator dramático...”.
“E sua poesia também é uma representação...”.
“Não do ser humano...”.
“Mas da arte poética que está exteriorizada...”.
“E não enraizada no artista...”.
“Daí que uma poesia...”.
“È tanta verdade e tanta mentira...”.
“Que ninguém imagine...”.
“Estar ali o coração do poeta...”.
“Mas a pena e a propensão do momento...”.
“E quem escreve o amor pode escrever a descrença...”.
“Um verso de dor de um poeta...”.
“Não o exime de escrever alegorias...”.
“Contudo, tudo modifica na perspectiva do leitor...”.
“Este sim, está vinculado à escrita...”.
“Ainda que interprete ao seu modo...”.
“Colherá das palavras o seu pensamento...”.
“Haverá um amor maior ou menor...”.
“Uma dor maior ou menor...”.
“E tantas vezes foge da intenção do autor...”.
“Para ver no verso algo novo...”.
“Uma situação jamais pensada...”.
“Há quem se alegre num verso de dor...”.
“Há quem graceje num verso de amor...”.
“Ou mesmo não tenha nenhuma reação...”.
“Pois maior que seja o esmero do poeta...”.
“Sua lírica e perfeição métrica...”.
“A poesia pode não significar nada...”.
“É lida e relida sem provocar qualquer reação...”.
“Daí que qualquer palavra pode alcançar seu objetivo...”.
“E uma epopéia não dizer nada...”.
“Tudo depende não do poeta...”.
“Mas do leitor...”.


Poeta e cronista
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