No Casarão do Coiteiro Adauto Félix, em Cajueiro, povoação ribeirinha de Poço Redondo/SE
SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...
A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
Amor de fé (Poesia)
Amor de fé
Assim como minha
oração
pede aos céus
proteção
com a mesma
imensa fé
roga a presença
no seu coração
assim como a vela
acesa
faz fulgurar a
face de Deus
a luz que ilumina
fé
reflete o luzir
dos olhos teus
assim como faço
promessas
desejando a paz
em clamor
ajoelhado e
contrito prometo
ter mais e mais
seu amor.
Rangel Alves da
Costa
Palavra Solta – um povo de tanta fé
*Rangel Alves da Costa
E tanta fé mesmo. Na povoação ribeirinha,
sergipana e poço-redondense de Bonsucesso, o povo tem motivos demais para fazer
valer sua fé, pois contando com santo padroeiro, santo co-padroeiro e santo de
admiração. E assim porque tem Nossa Senhora do Rosário como Padroeira, tem São
Sebastião como santo de maior devoção, e tem São Francisco (o santo do rio)
como santo de singela adoração. Na igreja defronte ao rio, os corações
ribeirinhos se enchem e se deixam aflorar em preces, cantos e orações. Pelas
ruas em procissão, os sentimentos ribeirinhos carregam os estandartes da fé e
da abnegação religiosa. Nos oratórios e nos cantos das casas ao cair da noite,
as mãos repassando as contas do rosário em clamores a Nossa Senhora do Rosário,
a São Sebastião, a São Francisco... E os santos, sempre ouvindo as preces,
silenciosamente abençoam e dizem: Que tenham Paz e Vitórias, que tenham Bom
Sucesso!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
sábado, 1 de agosto de 2020
CHEIRANDO A MATO, A SERTÃO, A VIVER...
*Rangel Alves da Costa
Sou de um sertão de raiz, o mais sertão
existente. Não existe outro sertão igual ao que sinto em mim presente. Desde a
terra à semente, desde o bicho à sua gente. Um sertão sem ter igual no que se
tem e no que se sente.
No sertão da minha terra há vereda de pé de
serra, de bicho de pasto que berra, luta que não se encerra. Um caminha na
poeira, um sol queimando em lareira, pouca comida de feira, uma pobreza
avistada como bagaceira.
No sertão da minha terra há menino e pé no
chão, há barriga sem o pão, há prato vazio no chão. Por todo o sertão é sim, o
tudo vira tiquim, o muito vira poquim, o que pouco tem já tá no fim. Um povo
que vive assim.
No sertão da minha terra, um dia um tempo de
dor, na tocaia e na emboscada, na violência o clamor, o sangue jorrando ao
chão, quem já viveu já chorou. Carnicento destripando a vida que a bala levou.
No sertão da minha terra, lá longe e bem
distante, um casebre morro adiante, casinha desfeita em levante. A guerra na minha
terra, a cruz que debaixo enterra os restos de um passado feito bicho que
berra.
No sertão da minha terra, um chão assim tão
espinhento, um viver que é de lamento no seu passo em sofrimento. Na vida feita
de labuta, que somente a fé e a luta desenterram das desentranhas os restos da
terra bruta.
No sertão da minha terra e noutros sertões
mais além, um viver de querer bem, um se entregar ao que tem. E nada tem além
do pão, na fé a vela e o sermão, na parede a imagem do Padim Ciço e Frei
Damião.
No sertão da minha terra há uma igrejinha e
uma prece, há um pedido de benção a todo aquele que padece, religiosidade tão
forte que a esperança não perece. Há um povo em procissão, na crença e
abnegação, rezando pra cair chuva e para salvar o sertão.
No sertão da minha terra há fogão de lenha em
quintal, há roupa estendida em varal, há na nuvem um bom sinal, que amanhã será
melhor, pois nada será pior que o sofrimento ao redor. Uma galinha que cisca,
um gato que vem e belisca.
No sertão da minha terra há bolo de milho e
jabá, há jumento na estrada levando o caçuá, uma carroça passando cheinha de
croatá. Um cavalo esquipador, na vaqueirama um voador, alegria do sertanejo que
um dia já vaqueirou.
No sertão da minha terra tem pirulito de mel,
tem panelada e sarapatel, tem bolinho de chuva e de céu, tem linha no carretel.
De cumbuca é o cantil e de couro cru é o chapéu. E assim vivendo se vai na vida
de déu em déu...
No sertão da minha terra tem chuva grossa e
pinguinho, tem chuvarada e sereninho, tem tempestade e tiquinho do chuvisco já
caído, mas um sol tão atrevido que chega como enxerido e vai se arvorando
escondido e deixa tudo esmaecido.
No sertão da minha terra tem rolinha
fogo-pagô, tem seriema sim sinhô, e de todo bicho que restou. Mas muito existe
não, nem sabiá nem cancão e nem ave de arribação. Pouco é a cantoria onde o
canto existia, no sertão mais a tristeza onde havia alegria.
No sertão da minha terra há cuscuz no
amanhecer e qualquer coisa ao anoitecer. Não se escolhe o que comer nem o prato
que vai ter. Primeiro come a criança, depois vem toda a restança da família em
esperança.
Assim no sertão de minha terra. Assim em todo
o sertão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Aquelas lições (Poesia)
Aquelas lições
Meu avô
e seu livro
aberto
de tantas lições
e até no silêncio
ou no vago olhar
dizia de tudo
dizia do norte
da vida e da
morte
do medo e da dor
e do seu recorte
mas nada igual
ao que minha avó
dizia sem nada
dizer
bastava a
presença
e eu compreendia
o certo e o
errado
o destino
apontado
para eu seguir
e ser ou não
abençoado.
Rangel Alves da
Costa
Palavra Solta – poema sem roupa
*Rangel Alves da Costa
Poema nu, sem roupa, em plena nudez. Mas não
em versos e estrofes. Mas não em métrica ou versificação. Mas não em brancura
ou de rebuscadas e preciosas palavras. Nu, apenas. Tão nu que mostra o sexo,
mostra a vontade, mostra o prazer, mostra a ereção, mostra a excitação. Um
poema que passa a língua entre os lábios, que lambe os lábios carnudos, que
deixa cair pelo canto um veio lânguido de volúpia e prazer. Um poema que pisca
o olho, que acena com a mão, que lambe o dedo, que chupa o sorvete como se
sugasse a êxtase. Um poema sussurrante, gemedor, grunhido, e de grito aterrorizante
querendo ser mais poema. Um poema que se despede sem timidez, que se lança sedento
e faminto sobre o outro poema, que se suja todo pelo sabor que pelo corpo vai
escorrendo. Um poema com mãos que se entrelaçam, com unhas que se movem
afiadas, com fúria tal que até se esquece de que é um poema. Quando volta a si
nem lembra mais que é poema. Sabe apenas que já gozou.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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