SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 24 de maio de 2018

FRASES SEM EFEITO



*Rangel Alves da Costa


Graças a Deus que não sou um Paulo Coelho, um Dalai Lama, um Padre Fábio de Melo, um escritor qualquer de autoajuda. Graças a Deus por que odeio suas frases de efeito e que nada dizem senão o mesmo açucaramento derramado em mel.
Qual o efeito de uma frase de efeito, vinda de reconhecida personalidade, mas que expressa o nada, sim, apenas o nada? Tanta frase de feito sem efeito eu tenho lida, que juntei abaixo minhas próprias frases. E todas sem efeito.
Leiam - acaso desejem - e imediatamente esqueçam, pois, como dito, não surtirá efeito nenhum. Aquelas frases adocicadas não possuem efeito alguma, quem dirá estas que surgiram apenas como lacuna ao ócio ou por não ter mesmo o que fazer. Mas vamos a elas:
Os pés não são as mãos. Uns caminham, outras seguram. Mas há quem segure com os pés e caminhe com as mãos. Tudo depende da arte ou do cansaço.
As pessoas só não esqueceriam que possuem família se nos seus sobrenomes fossem grafados até quinta geração. Algum dia elas iriam querer saber o porquê daquele Santos, daquele Silva, daquele Costa, daquele Sacramento.
Não ter dinheiro nem na conta nem no bolso possui suas vantagens. De vez em quando a pessoa tem de deixar a ilusão de riqueza para sentir a pobreza na pele, no desejo, no querer ter e não poder.
Não troco um proseado com um velho sertanejo por dez livros técnicos ou acadêmicos. Prefiro a palavra da sabedoria ao linguajar mofo e incompreensível. Preciso de lição viva e não daquilo que eu só entenderia se perdesse meu tempo procurando cada termo no dicionário.
A juventude é um livro aberto. Eis aí o perigoso. Por isso mesmo a existência de tantas páginas rasgadas, ao sabor das ventanias e dos desatinos, em outonos perdidos e sem esperança de alcançar outras estações na vida.
Perguntaram-me o que era o amor e então respondi que é o desamor. Perguntaram-me se eu estava enlouquecendo por responder assim, então respondi que sim. Enlouquecido por um amor tronado em desamor.
Não há retrato mais fiel que o trazido e exposto pela saudade. Na saudade, o amor é amor, a dor é a dor, o sofrimento é o sofrimento, a morte é a morte. Não será saudade acaso chegue com outra face ou outra feição.
Não tem fome quem não come outra coisa que não seja o prato de nome esquisito. Tripa assada mata a fome, ovos com salsicha mata a fome, farinha com rapadura mata a fome, resto de panela mata a fome, qualquer comida mata a fome. É preciso mostrar que não abre mão do strogonoff depois de dois dias sem fome. Duvido que não implore uma batata podre.
Quem beija na boca e se lambuza não sabe beijar, já dizia a menina que um dia voou. E como ela subiu aos céus, passeou entre as nuvens e depois suavemente pousou? Quando beijou leve, suave, doce e levemente enamorada.
O verdadeiro Deus não é o Deus do acaso, da igreja ou das escrituras. O verdadeiro Deus está no templo do coração. Não é um Deus de todos, pois um Deus próprio. Não é um Deus que está no céu, mas que vive dentro e na presença daquele que o reconhece como o Deus de sua vida.
Falar sozinho e pensar em silêncio fazem o mesmo efeito. As palavras são as mesmas, os diálogos são os mesmos. A única diferença está no poder de voo. Elas só podem voar quando a boca as solta de qualquer modo e pede que vão, ao longe, buscar sua significação.
Mais que correto o ditado dizendo que nem um dia sem uma linha. Isso mesmo. Escrever, escrever, escrever. Ainda que só se consiga escrever coisas sem importância como as avistadas acima.


Escritor
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Lá no meu sertão...


E com todo o meu apoio!



O tempo da saudade (Poesia)



O tempo da saudade


Mais de mil anos
sem dizer te amo
uma eternidade
sem beijar tua boca
o tempo do mundo
sem abraçar teu corpo

e tudo isso em dias
poucos dias sem você
e a saudade faz nascer
a ilusão de nunca mais
poder encontrar você
então eu choro tanto
querendo você.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - o vampiro na encruzilhada



*Rangel Alves da Costa


Temer é um vampiro na encruzilhada. O País está na escuridão, segundo o seu desejo, sem réstia de esperança ou sombra de amanhã, mas também sem qualquer poder de ação para o draculino. Ora, bem feito. Massacrou o povo, sugou o povo, deixou a população na desvalia e a pobreza na sarjeta, mas agora tem que engolir de seu próprio sangue. Mas é um vampiro banguela, desdentado, sem mais força de nada. A prova está aí: quem manda no País são os caminhoneiros e não o governo. Quem faz rodar e girar do País são os dos volante e não o governante. Quem manda agora é o da boleia. Mas nada que seja o fim do mundo. O governo está tendo aquilo que vem plantando desde muito tempo. Tratando a população como verme, fazendo com que todos engolissem calados os aumentos abusivos de combustíveis, esqueceu-se de que pisado todo verme se revira. E não só se revirou como foi para o ataque. Agora o vampiro que se morda. E ainda será que sugue o próprio sangue até se esvair afundado no seu próprio veneno. Vai-te pra lá, coisa ruim!


Escritor
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quarta-feira, 23 de maio de 2018

DA MARANDUBA A JUAZEIRO (UMA INACREDITÁVEL HISTÓRIA CANGACEIRA)



*Rangel Alves da Costa


Naqueles idos de 32, ano do famoso Fogo da Maranduba, em cujo mês de janeiro as volantes comandadas pelo baiano tenente Liberato de Carvalho e pelo pernambucano Manoel Neto, arremeteram contra o bando de Lampião acoitado nos arredores da Fazenda Maranduba, sendo aquelas derrotadas pela astúcia estratégica do Capitão, o até agora pouco conhecido aconteceu. E com consequências realmente inacreditáveis.
Pois bem. Rumbora. Àquela época as terras da Fazenda Maranduba, na povoação sergipana e sertaneja de Poço Redondo (então distrito de Porto da Folha), pertenciam à família Soares, tendo sua matriarca Dona Maria da Invenção Soares o seu comando, ainda que sua residência familiar fosse situada em Curralinho, nas beiradas do Rio São Francisco. Sua residência ficava numa das esquinas da Rua da Frente, defronte ao rio, nas proximidades da capelinha de Santo Antônio.
Era, na verdade, uma vida dividida entre Curralinho e Maranduba, passando temporadas num ou noutro lugar. Mas seus filhos homens, dentre os quais Lé Soares, Pedro Soares, Josias Soares e Antônio Soares, nomes ainda hoje afamados pelo tino vaqueiro e pelas proezas na lida da terra e do gado, geralmente permaneciam mais tempo na propriedade familiar, na Maranduba. Não se sabe muito bem se já eram conhecidos de Lampião e seu bando, mas a verdade é que no dia do famoso fogo, a 9 de janeiro, um dos filhos de Dona Invenção estava no lugar errado e na hora errada. Seu nome: Antônio Soares.
Quando Lampião chegou às terras da Maranduba o sol já estava alto. Depois de pernoitar nos arredores da Fazenda Queimada Grande (sem saber que a volante de Liberato de Carvalho estava por perto, pois o comandante baiano havia passado a noite na casa da fazenda, de propriedade de seu irmão Piduca da Serra Negra), o bando seguiu em direção às terras de Dona Invenção, certamente apenas como passagem rumo aos limites baianos. A parada foi para o descanso e o preparo do regabofe. Os cangaceiros sequer imaginavam que em tão pouco tempo seriam surpreendidos não por uma tropa volante, mas por duas.
Estrategicamente precavidos, espalhados debaixo de umbuzeiros, encobertos por tufos de matos e arvoredos sertanejos, mesmo assim foram surpreendidos com os assombros que começaram a surgir nas sombras distantes: os homens das volantes. Corre e corre, toma posição defensiva e de ataque, protege-se, espera-se um momento ideal para atacar. Só havia um problema: Antônio Soares estava ali. O filho de Dona Invenção estava reunido com um dos grupos cangaceiros debaixo de um umbuzeiro quando as volantes chegaram. Foi quando Maria Bonita gritou: “Corre Tonho Soares!”.
O grito de Maria Bonita e o eco do nome Tonho Soares tiveram consequências devastadoras. Aquele nome seria cobrado muito caro pelas volantes, principalmente pelo ódio escorraçado e derrotado do comandante Liberato de Carvalho. E assim porque, não conseguindo superar e vencer as forças cangaceiras, o comandante baiano prontamente lançou seu ódio sobre a família Soares, dona da Maranduba. Acreditava-se que a presença de Antônio Soares junto ao bando era a comprovação de que a família dava apoio e guarida ao bando do Lampião.
Com efeito, assim que Liberato de Carvalho chegou a Curralinho transportando em redes os feridos da batalha, a primeira providência tomada foi mandar que seus comandados prendessem todos os filhos de Dona Invenção. Mas queria um troféu chamado Antônio Soares. Este, porém, não estava. Fugindo da batalha foi parar nas terras de Canindé. Os irmãos Soares então foram levados presos em canoas até Canindé, mas forçosamente liberados após não terem encontrando a caça maior. Aqueles não interessavam, apenas Antônio, aquele mesmo avisado por Maria Bonita: “Corre Tonho Soares!”.
E daí em diante entra o inacreditável da história. Avisado do ocorrido, Antônio Soares permaneceu escondido na mata por mais de ano. Todo rasgado, faminto, barbudo e cabeludo, parecendo um bicho. Comia do que encontrava no mato e do bicho que conseguia matar. Calçava chinelo feito de couro de boi morto na caatinga e adormecia nos escondidos. Até que um dia recebeu uma inesperada visita. Avistou um pássaro estranho pairando no alto e sentiu algo como uma revelação. Teria que ir urgentemente a Juazeiro do Norte, pois Padre Cícero lhe esperava.
E foi. Andando pelo meio do mato, mas chegou à sagrada terra nordestina já muito entrado o ano de 33. Sem se importar com a aparência que causava espanto às pessoas, postou-se numa praça e ali ficou imaginando o que fazer. De repente viu um padre de batina escura se aproximar e logo percebeu que era o Padre Cícero. As primeiras palavras do padre: “Você é Antônio Soares, não é?”. Espantado com aquele reconhecimento, só tomou prumo de si quando Padre Cícero colocou dinheiro em sua mão e pediu para que providenciasse logo a mudança naquela aparência, comprando roupa, fazendo o cabelo e a barba e se alimentando.
Depois disso, já no encontro marcado para o dia seguinte, ouviu do padre: “Tome aqui esse dinheiro e agora já pode retornar. Tem dinheiro suficiente para que dê esmola a quem precisar até a chegada ao seu destino. Mas não vá para outro lugar. Volte para as terras de onde veio, para a casa de sua família”. Então Antônio Soares retornou a Maranduba e nela viveu sem ser mais incomodado por ninguém.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...



ROBÉRIO SANTOS, escritor e pesquisador da saga cangaceira e outras sagas, também estará no Cariri Cangaço Poço Redondo para lançar seu mais recente livro: AS QUATRO VIDAS DE VOLTA SECA. Uma obra que não pode faltar aos olhos de todos aqueles que desejam se aprofundar pelas veredas do conhecimento e da compreensão do mundo cangaço, através de um de seus personagens mais emblemáticos: Volta Seca (aquele mesmo da dolente canção dizendo que “Se eu soubesse que eu chorando empato a sua viagem, meus olhos eram dois rios que não lhe davam passagem...”).





Flor (Poesia)



Flor


Quando estou assim
com saudade sem fim
afasto o sofrer de mim
e colho do meu jardim
meu doce aroma jasmim

uma flor você
uma flor mulher
uma flor tão bela
uma flor amor
uma flor na flor

quando faço assim
e afasto o sofrer de mim
faço da saudade sem fim
um retrato em meu jardim
fragrância e aroma jasmim

uma flor de lua
uma flor de sol
uma flor de estrela
flor que eu merecer
flor da flor de você.

Rangel Alves da Costa