SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 21 de maio de 2019

Lá no meu sertão...



Abri o caderno e me encontrei. E logo abaixo escrevi: Empresta-me teu pouco sorriso!




Pobre também ama (Poesia)



Pobre também ama


Conheço a pobreza
que ama na riqueza

tem honestidade
por cima da mesa

tem respeito
por sobremesa

tem na simplicidade
a boniteza

tem no coração
toda pureza

pobre demais
com certeza

mas não amor
maior realeza.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - tristeza de passarinho



*Rangel Alves da Costa


O pássaro tem asas. Adiante há um céu azul, bonito, sempre chamando ao voo. Horizontes encantadores, leves sopros de brisas, espaços perfeitos para o voo. Mas o passarinho não quer voar. Deve possuir suas razões. Aliás, ultimamente esse passarinho anda muito estranho. Quase não sai do ninho. Ninguém ouve mais o seu canto. O único percurso que faz é entre o ninho e a copa mais alta da árvore. E lá em cima, em silêncio absoluto, em feição tristemente melancólica, apenas avista as distâncias com seus olhos miúdos. Eu queria saber o que há com o passarinho. Eu queria compreender os motivos e as razões de estar assim. Tudo isso apenas sei pelos outros, pois quase não abro a porta e a janela. Tenho vivido momentos de tristeza e angústia, de solitude e solidão. Não saio mais para caminhar pelos arredores, não dialogo com quase ninguém, até evito pessoas. O desamor faz assim, bem sei. O luto pelo desamor faz esquecer sorrisos e chamar aflições. Será que o passarinho sofre assim também?


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

segunda-feira, 20 de maio de 2019

POÇO REDONDO COITEIRO E CANGACEIRO



*Rangel Alves da Costa


Não há que duvidar: Poço Redondo é coiteiro e cangaceiro. Que isso cause orgulho ou não, que isso seja motivo de regozijo ou de acanhamento, mas o que não se pode negar é que ainda hoje grande parte da população traz na veia, no sangue, no parentesco ou no sobrenome, resquícios daquele cangaço que teve vida vistosa nos seus quadrantes.
Ainda hoje, pelas ruas e esquinas, pelas avenidas e calçadas, nos portais ou nos umbrais de janelas, a presença é constante de filhos e parentes de coiteiros do quilate de Mané Félix, de Adauto Félix, de Messias Caduda e tantos outros sertanejos que no passado serviram como emissários entre cangaceiros e o mundo exterior, além do coito ou dos escondidos das matas.
Sim, o coiteiro agia assim. Como o bando cangaceiro não podia se expor pelas cidades, como os cangaceiros não podiam ir atrás de apetrechos e mantimentos, como a cabroeira não podia levar bilhetes aos coronéis e endinheirados nem devia providenciar carregamentos de armas e munições, então todo esse trabalho era feito pelo coiteiro. Daí o nome: aquele que serve ao coito. E coito sendo o local onde o bando ficava arranchado.
A carne de bode era levada pelo coiteiro, o queijo fresco era levado pelo coiteiro, a máquina de costurar e a linha, bem como o pano e tudo o mais que se precisasse, tudo era missão do coiteiro. Leal amigo do cangaceiro, a ele era confiada a própria vida do bando, pois sabedor de cada passo e de cada local onde a cangaceirama estava. Por isso mesmo que era sempre perseguido e ameaçado pela volante. Muito coiteiro morreu torturado sem nada revelar.
Mas Poço Redondo é essencialmente cangaceiro. Muito mais que coiteiro, é cangaceiro de monta e de multidão. E assim continua, pois por todo lugar é possível encontrar uma raiz daqueles destemidos sertanejos de antigamente. Filhos de Adília, como Nicinha e Paulo. Filhos de Cajazeira (Zé de Julião), como Elício e Inácio. Sobrinhos dos irmãos cangaceiros Sila, Novo Tempo, Mergulhão e Marinheiro, como Mazé de Abdias, Gilaene, Veinho, Silvestre e todos aqueles da família Braz São Mateus, bem como a maioria dos moradores do Alto de João Paulo.
Também por todo lugar é possível encontrar e prosear com parentes do cangaceiro Delicado (irmão de Adília), que são todos aqueles da família Mulatinho, do Alto de João Paulo e da cidade. Muitos são os parentes, principalmente sobrinhos do cangaceiro Zabelê, a exemplo de Tânia Maria, Vera de Emeliana, Vandinha, Bastião de Timbé e Dedé de Rosinha, dentre muitos outros. A família Soares de Poço Redondo, principalmente aquele tronco originário da região do Maranduba, possui parentesco forte com as cangaceiras Adelaide, Rosinha e Áurea. Seu João Capoeira, já na altura de seus mais de cem anos, é irmão da cangaceira Enedina.
Apenas alguns exemplos foram citados, vez que muito mais sangue cangaceiro ainda corre nas veias dos filhos de Poço Redondo. E não há como fugir desse parentesco nem negar as raízes fincadas na história. Ademais, não somente parentes de coiteiros e cangaceiros como de todos aqueles personagens que deram forma e vida ao cangaço na região. Mesmo não fazendo parte do bando ou servindo como emissário de coito, a verdade é que naquele período quase todos os filhos de Poço Redondo se envolveram na dura trama de vida e morte.
Teotônio Alves China, o China do Poço, por exemplo, teve participação destacada na história do cangaço, pois foi na sua residência que houve o célebre encontro entre Lampião e o padre Arthur Passos, entre a cruz e o mosquetão. Tonho Bioto, os da família Joaquim, Zé Cirilo, Zé Vicente, os Lameu, e muito mais, todos tiveram alguma participação perante o cangaço nestes rincões. Assim, não seria demasiado dizer que, mesmo hoje, todo aquele natural de Poço Redondo traz consigo alguma reminiscência, algum vestígio de parentagem, do coiteiro, do cangaceiro e demais personagens que fizeram parte do enredo e trama. Coiteiros que serviram ao cangaço foram mais de dez. Cangaceiros foram trinta e quatro. E toda a povoação servindo, de modo ou outro, ao cangaço. Mas eis a lista dos filhos de Poço Redondo que seguiram os passos do Capitão.
Os homens, num total de vinte e cinco, segundo seus apelidos e nomes: Sabiá (João Preto), Canário (Rocha), Diferente (Nascimento), Zabelê (Manoel Marques da Silva), Delicado (João Mulatinho), Demudado (Zé Neco), Coidado (Augusto), Cajazeira (José Francisco do Nascimento – Zé de Julião), Novo Tempo (Du), Mergulhão (Gumercindo), Marinheiro (Antonio), Elétrico, Penedinho (Teodomiro), Bom de Vera (Luis Caibreiro), Beija Flor (Alfredo Quirino), Moeda (João), Alecrim (Zé Rosa), Sabonete (Manoel), Borboleta (João Rosa), Quina-Quina (Jonas), Ponto Fino (José da Guia), Zumbi (Angelino), Cravo Roxo (Serapião), Cajarana (Francisco Inácio dos Santos – Chico Inácio) e Azulão (Luis Maurício da Silva).
Por sua vez, as mulheres, num total de sete, foram: Sila (mulher de Zé Sereno e irmã de Novo Tempo, Mergulhão e Marinheiro), Adília (mulher de Canário e irmã de Delicado), Enedina (mulher de Cajazeira, o Zé de Julião), Dinda (mulher de Delicado), Rosinha (mulher de Mariano), Áurea (mulher de Mané Moreno) e Adelaide (mulher de Criança, irmã de Rosinha e prima de Áurea).


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Lá no meu sertão...


Poço Redondo é cangaceiro e coiteiro, sim sinhô! A de blusa escura é Nicinha, filha da cangaceira Adília de Canário. A de blusa amarela é Juliene, filha de Mané Félix, coiteiro maior. E Rangel um sobrinho-neto do cangaceiro Zabelê.



Para uma menina que é o meu amor (Poesia)



Para uma menina que é o meu amor


Uma flor
para uma menina
que é o meu amor

um doce louvor
para uma menina
que é o meu amor

poesia de cantador
versos menina
para o meu amor

fruta de pomar e sabor
para o lábio mel
do tão doce amor

e quando o sol se por
serei estrela e lua
no céu do meu amor.

Rangel Alves da Costa


Palavra Solta - sem ilusões



*Rangel Alves da Costa


Melhor viver sem ilusões. O banco é branco, o vermelho é vermelho, o negro é negro. Nada de fingir que o sal é doce ou que a melancia da em pé de mangueira. O mar é no mar, a terra é na terra. Se só posso comer uma farofa de ovo, então que seja a melhor farofa. Não vou dizer a ninguém que me fartei de ostras e camarões. Como não posso fugir da solidão, vez que ela é quem me deixa viver ao lado dela, então não há outro jeito de não ser sua amiga. Ora, se Nietzsche me diz tanta verdade, por que chamá-lo de pessimista? O mundo é pessimista, o homem é pessimista, e Nietzsche apenas mostra suas entranhas. Só aceito ficção por que sei que é ficção, mas sem lágrimas ou sofrimentos. Se a pele sangre é porque foi ferida. Nunca duvidei que a ponta do punhal fura, corta, sangra, faz doer. Quando ela me disse que me amava, apenas disfarcei que acreditava, mas apenas por uma questão de insistência do coração. Quando ela disse não, então eu ouvi apenas o que já esperava. Tudo é assim. O ser humano se engana por desejo próprio. Vive de ilusões para alimentar suas fraquezas. E fraqueja mais ainda. Acostuma com o nada e finge a felicidade.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com