SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 33


Rangel Alves da Costa*


“Outro dia conversamos alguma coisa sobre a paixão...”.
“O diálogo sobre a paixão é infinito...”.
“E talvez sem consenso...”.
“Apenas na vertente de suas consequências”.
“Existem algumas que só não enxerga o apaixonado”.
“Pela cegueira causada...”.
“E talvez seja a consequência maior, a mais grave...”.
“Sem dúvida. Ao cegar, toda ação é impulsiva...”.
“Realmente, não há mais discernimento sobre a realidade...”.
“A realidade é apenas com a feição da loucura...”.
“Acha a paixão uma loucura?”.
“Outra coisa não seria...”.
“Então, a insanidade por causa do amor...”.
“Nenhum amor verdadeiro se propõe a isso, mas...”.
“Mas a ilusão se achega do sentimento e transforma a realidade”.
“Isso mesmo. O amor tem limite, razão, prudência. Mas quando envereda para a possessão, então tudo estará fragilizado...”.
“E eis a porta aberta para a paixão entrar...”.
“E entra sem medo, sem pudor, de forma avassaladora e destrutiva...”.
“Principalmente quando é alimentada...”.
“Isso mesmo. Não há paixão que sobreviva sem ser alimentada pela ação do outro...”.
“Então se observa aí duas transgressões: a passiva e a ativa”.
“Na paixão, quem você acha que é o sujeito ativo?”.
“Creio ser aquele que provoca a paixão...”.
“Não haveria de ser outro. Se a suposta vítima, o apaixonado, tende a se comportar assim é porque houve uma ação de alguém, através de condutas e atitudes...”.
“Até porque a paixão não desperta ao acaso...”.
“Tem de haver uma ação que provoque reação...”.
“Como seria essa ação?”.
“Por exemplo, iludir, premeditadamente brincar com os sentimentos do outro, prometer demais e até aquilo que não conseguirá cumprir...”.
“E por que está só fingindo para manter o relacionamento...”.
“Isso mesmo. Daí que o outro, que talvez sinta verdadeiramente amor, passa a acreditar demais nas falsas promessas...”.
“E se entrega tão absolutamente à relação que qualquer empecilho ao cumprimento, por parte do outro, daquelas promessas, provoca reações as mais devastadoras”.
“E os tais empecilhos à concretização das ilusões prometidas...”.
“São os mais variados, e surgem como ameaças. A imaginação que o outro não está demonstrando o amor esperado, o pensamento de que está havendo traição...”.
“E se for verdade mesmo?”.
“Então a paixão dá seu grito mais violento...”.
“E é quando começa a cegueira...”.
“Absoluta, completa...”.
“A irracionalidade, a loucura...”.
“Daí em diante tudo é possível...”.
“A perseguição...”.
“O ódio...”.
“A violência...”.
“As ações mais inusitadas e explosivas...”.
“A utilização de todos os instrumentos e meios para aplacar a fúria, o ódio...”.
“E daí...”.
“Daí as tragédias, as mortes...”.
“Mas como evitar que tudo isso aconteça?”.
“Já disse e vou repetir: procurar apenas amar. Simplesmente amar”.
“Mas o amor é progressivo...”.
“Nos dois. Se tal progressividade acontecer apenas em um é porque alguma coisa anda errada...”.
“O que poderia estar dando errado?”.
“Alguém está fingindo amar enquanto o outro está amando...”.
“E quem fingir amar tem o dom de prometer...”.
“Isso mesmo...”.
“Então vai alimentando...”.
“Enquanto o outro vai apaixonando...”.
“Até que a cera se derreta completamente...”.
“E os rochedos acolham a vítima!”.

  
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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