*Rangel Alves da Costa
Ali - pelos campos de meu Deus - e ao redor,
apenas um silêncio envelhecido. Não tanta mudez assim. A ventania sopra, a
folhagem farfalha, um bicho de mato faz barulho entre os tufos catingueiros. Já
não há mais cheiro de café torrado, batido em pilão e coado na velha arupemba.
Não há cheiro do caldo grosso do café se derramando sobre o braseiro no fogo de
chão. Também não há cheiro de cuscuz no fogo nem de tripa de porco chiando na
estaladeira. Mas tudo bem. É um silêncio de paz, de sabedoria, de memória e
reencontro. Não há carro parado com mala aberta e barulho insuportável de tudo
o que não presta. Não há garrafa sendo quebrada nem ameaças de um ao outro. Não
há olhares despertando estranhezas nem os inimigos invisíveis de cada esquina.
Não passa o vergonhoso modismo nem as perdições da cidade. O carro da polícia
não precisa ser chamado nem se ouve a arrogância do motor da moto. Ao
contrário, pois por ali corre um preá, mais adiante o cachorro faz carreira
atrás de qualquer coisa. E, por todo lado, uma natureza solene e majestosa. Um silêncio
cuja voz interior é ouvida em palavras de agradecimentos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário