*Rangel Alves da Costa
José Mauro de Vasconcelos, saudoso e extraordinário escritor brasileiro (autor de Meu Pé de Laranja Lima), deixou-nos um doce e maravilhoso romance chamado “Rosinha, minha canoa”. Sem adentrar em detalhes, a história trata da relação do homem com a natureza, e também da natureza do homem com sua intrincada natureza. Faz muito tempo que o li, ainda rapazote e cheio de encorajamento para leituras. Hoje mais tomado de calendários, de folhas soltas dos anos passados, eis que me lembrei do título do livro de Zé Mauro. Saí do romance e passei a romancear minha própria vida no beiral de um rio, onde silenciosa e melancólica adormece uma canoa: Rosinha. E uma vontade danada de soltar suas cordas, segurar nos seus remos, de soprar vento bom pela boca, e sair por aí, vagueando margem a margem, sentindo a brisa e o balançar das águas solenes. Uma viagem sem destino, sem pressa, sem endereço. Como é bom viver assim, sem pressa e sem endereço. Eu e minha Rosinha. Minha Rosinha seguindo e eu recostado na madeira e envolto em pensamentos. E chegando as saudades, as melancolias, os desejos de reencontrar. “Como foi ardoroso aquele abraço, como foi doce aquele beijo, como navegamos pelas águas felizes do amor...”. Não, não quero lançar lágrimas nas águas mansas de agora. Quero apenas seguir. Seguir nos braços dolentes de minha Rosinha. Rosinha, minha canoa...
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