SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 19 de junho de 2018

Palavra Solta - sertanejo



*Rangel Alves da Costa


Deus meu, Deus meu, cuma é bom ser sertanejo assim cuma eu sou. Me avexo não, visse. Num me aperreio nem um tiquinho se vem o outo e diz que sou matuto, mateiro, um catingueiro quarqué. Sou mermo, apois sou sertanejo. E tanto sou que tomem sou preá, sou macambira, sou bonome, sou calango, sou siriema do costado. Sou candiero e placa de luz, sou vela de oração e rosaro de tanta fé. Sou casinha e sou casebe, sou quintá e tufo de mato. Sou a lua e sou o sol, sou a secura da terra e a pranta verdosa que vinga do chão. Sou José e sou Maria, sou Zefinha e Bastião. Sou caçador e sou vaqueiro, sou lavrador e toadero. Sou prato de estanho e pote de barro. Sou caneca de alumino e arguidar de cozinha. Sou Alcino e sou Zé de Julião. Sou Zefa da Guia e Metre Tonho, sou Dona Guiomar e sou taboca de pife. Pru mode que tá rindo deu? Ria não seu moço. Aió, embornal e canti é tudo de uso, desna um tempo de caçada grande. Pru mode de que tá rindo deu, seu moço? Mai num avexo não. Fi da gota serena se eu me importar um tantim assim. Num me importo não pruquê sei o valor que tenho e não o valor que me dá. De ouro é meu chapéu de couro, pranteado é meu peitoral. Meu cavalo tem nome de santo: Jó. O mermo sofredor que nem eu, mai o mermo lutador que nem todo sertanejo. Pode vim e vortá, se quiser. Fico aqui. O cabra que nega sua terra num merece nem nascer, munto meno dizer que é dessa pátria chamada sertão, dum reinado benzido por Padim Ciço do Sermão e Virgulino Lampião.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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