*Rangel Alves da Costa
Recebo uma
fotografia e nela encontro toda a história de uma povoação. Digo da comunidade
de Bonsucesso, povoado pertencente ao município de Poço Redondo, no sertão
sergipano, e que nasceu às margens do Rio São Francisco, no seu percurso
interiorano e sertanejo.
Numa
janela lateral da casa ribeirinha de seu irmão Netinho, a amiga Lorenna Carla
clicou sem imaginar que sua fotografia traduziria toda a pujança da povoação
poço-redondense e sergipana de Bonsucesso.
Na foto, a
síntese de tudo: a história, a fé, o Velho Chico, a ribeira das águas e suas
embarcações, as singelas moradias, a vastidão sertaneja subindo e descendo
serras e montes. E o povo ribeirinho, nas entranhas desse singelo mundo,
moldurando o viver.
No
retrato, ao longe se avista o antigo e majestoso Casarão, construído em 1887 e
por muito tempo suntuosa moradia dos Tavares. Edificado em local estratégico,
pois em parte elevada que permite uma ampla visão desde o rio às serras, surgiu
e continua rodeado por uma inigualável paisagem.
Casarão
dos escravos, do coronelismo, das cercas erguidas na pedra, da senzala ao lado
e da chibata sangrando vidas. Mas também da fé que fez tornar Nossa Senhora do
Rosário a padroeira local. A santa, segundo dizem, foi trazida pela matriarca
dos Tavares.
E a feição
da fé e da religiosidade do ribeirinho está logo mais abaixo do Casarão. A
igreja, construída defronte ao rio, abre os seus olhos para avistar o remanso
das águas e suas margens.
Sua
calçada alta, descendo em direção ao rio, faz com que o templo católico se
afeiçoe a uma santidade em cima de andor. Mais abaixo, as canoas parecem
sonolentas, meio adormecidas, enquanto as águas embalam seus sonhos de viagens
e pescarias.
Uma
vastidão de águas espelha a vida do rio. Por caminhos longos, os azuis vão
chegando, vão passando, correndo e escorrendo, como seiva de vida que navega
nas veias do povo do rio.
Como seiva
pulsante de força e fé que percorre as veias do povo do rio...
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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