*Rangel Alves da Costa
De repente a janela é aberta e um vulto
lentamente surge rente as cortinas. O vento sopra festivo. As folhas da
amendoeira lentamente caem. No chão ocre e amarelado, ou talvez entre a
ferrugem e o dourado envelhecido, um tapete se alonga em indescritível beleza.
Da janela, aquele olhar tudo avista. Uma paisagem de todo dia, de todo
entardecer. Mesmo com a beleza derramada sobre o chão adiante, sua feição é de
angústia e de tristeza. Não havia muito tempo que aos seus olhos havia chegado
um poema escrito em ponta de punhal: “Não espere do amor senão o vento, a
ventania, a tempestade. Aquela bela flor matinal, que sempre ilude os que se
imaginam amar, logo cairá sobre o chão como folhas mortas de amendoeira”. Nem a
face nem o olhar se mostraram perante a luz lá fora. Apenas um vulto. Mas era
ela. Era ela a mocinha da solidão na janela. E que não demorou muito para
fechar as cortinas e desaparecer entre as sombras do quarto, para depois reler
o poema e chorar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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