SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 16 de agosto de 2020

Palavra Solta - da solidão na janela



*Rangel Alves da Costa


De repente a janela é aberta e um vulto lentamente surge rente as cortinas. O vento sopra festivo. As folhas da amendoeira lentamente caem. No chão ocre e amarelado, ou talvez entre a ferrugem e o dourado envelhecido, um tapete se alonga em indescritível beleza. Da janela, aquele olhar tudo avista. Uma paisagem de todo dia, de todo entardecer. Mesmo com a beleza derramada sobre o chão adiante, sua feição é de angústia e de tristeza. Não havia muito tempo que aos seus olhos havia chegado um poema escrito em ponta de punhal: “Não espere do amor senão o vento, a ventania, a tempestade. Aquela bela flor matinal, que sempre ilude os que se imaginam amar, logo cairá sobre o chão como folhas mortas de amendoeira”. Nem a face nem o olhar se mostraram perante a luz lá fora. Apenas um vulto. Mas era ela. Era ela a mocinha da solidão na janela. E que não demorou muito para fechar as cortinas e desaparecer entre as sombras do quarto, para depois reler o poema e chorar.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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