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terça-feira, 20 de agosto de 2013

LENÇO DE ADEUS E OUTROS LENÇOS


Rangel Alves da Costa*


O lenço, este pequeno e quadrangular tecido, geralmente se faz presente e percebido apenas nos momentos angustiantes e dolorosos da vida. Noutros instantes permanece solenemente recolhido. Contudo, seja de qualquer tipo ou cor, conhece intimamente a pessoa que o guarda e é seu único confidente nos momentos de maior solidão.
Símbolo maior do adeus, do aceno à distância, enxuga nos olhos a dores que jorram em torrentes. Sinaliza a chegada e a partida, a indicação da presença, como um marco de alguma coisa que deverá ser conhecida. De seda fina e suave ou de pano grosseiro e ríspido, tanto faz, pois sempre aquele que achega à pessoa para confortar ou servir de vela para evitar o naufrágio da alma.
Os românticos, poetas e sonhadores dizem que lenços são bandeiras demarcando corações solitários, entristecidos, abandonados. Enquanto as bandeiras tremulam ao sabor do vento, os lenços desfraldam ao sopro tempestuoso de sentimentos desvalidos. Seriam também as velas de um barco que navega em busca de outro mar que não seja apenas o do olhar. Eis os lenços, trêmulos quanto as mãos de um ser ao desalento.
Possui muitos significados segundo sua cor, tecido, dobra e forma de uso. Dizem que lenço preto significa luto; colocado dobrado sobre a mesa sinaliza a espera de alguém; envolto ao pescoço indica partidarismo; o lenço amarrado à cabeça do homem significa luta, e pressa se na mulher. Lenço no bolso, dobrado com refino, transmite elegância e imponência.
O lenço esvoaçante remete à liberdade, a tempo propício a realizações; se sujo, logo se faz pensar em abandono, em pobreza e desamparo; quando molhado pelo uso, então logo se pensa na lágrima derramada, no choro incontido ou mesmo num instante de entristecimento. Quem parte acena com o lenço na distância; quem fica leva-o aos olhos para sufocar a dor da despedida.
Nos momentos mais tristes e dolorosos, ali estará o pequeno pano para enxugar as lágrimas, para aliviar a dor, para acenar no último adeus. Impensável acorrer ao leito de uma pessoa enferma para que o lenço não esteja à disposição. Diante da situação, com os olhos e o coração do visitante tomados de dolorosa emoção, logo o pano começa a ser apertado entre as mãos. É uma tentativa de sufocar a dor.
No passo seguinte, quando o sentimento quer expressar-se de qualquer jeito, então o pano amassado é levado ao canto da boca, passa pelo nariz, e se põe em alerta para seguir em direção aos olhos a qualquer momento. E de repente já estará sendo levado, quase imperceptivelmente, ao canto dos olhos. Mas não demorará muito para estar completamente encharcado das lágrimas derramadas diante do inevitável.
Após o apito do trem, quando o olhar ainda se distancia entre as montanhas e trilhos que se alongam infinitamente, as mãos nervosas já começam a procurar, a tatear o lenço. Tanto na partida como na chegada é sempre a mesma ação. Lenços acenando contentes, lenços entristecidos querendo também partir, lenços indo de encontro a rostos, olhos e depois se deixando encharcar pelas motivações.
Na estação, após o reencontro ou a despedida, os bancos empoeirados e vazios se contentam com a companhia dos lenços que despercebidamente caíram, foram esquecidos ou simplesmente jogados. Mas dificilmente ele cai sozinho, pois geralmente uma flor já murcha fica estendida ao seu lado. E a ventania chega arrastando até os trilhos, até o trem apitar e tudo novamente recomeçar, noutros lenços, noutros olhos, noutras mãos.
Todo lenço deveria ser usado apenas uma vez, principalmente aqueles que testemunharam instantes inesquecíveis. O lenço molhado, totalmente encharcado pela dor, jamais deveria ser lavado e colocado em varal. Não haverá sabão que afaste do seu tecido a presença dos olhos tomados pelo espanto e aflição, ou a sinceridade da água lacrimosa envolvendo o seu leito. Se utilizado na despedida de uma pessoa querida, como testemunha perene daquele momento deveria permanecer.
Mais que tudo, lenço lembra o adeus, e no adeus a saudade. E, como diria o poeta J. G. de Araújo Jorge, “Saudade, um lenço branco me acenando... Uma vontade de chorar sorrindo. Uma vontade de sorrir chorando”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr. Rangel: O meu boa-noite
Estive olhando uma foto do saudoso Escritor Alcino, junto com a esposa e os pais e, fui fazer a comparação com outra foto onde ele está junto com você, pense: nunca encontrei um filho tão parecido com o pai como RAGEL e ALCINO. Pode verificar bem as referidas fotos, e constate. Se não lermos a legenda que está sob a foto de Alcino junto com esposa e pais, vamos afirmar que o cidadão da foto é você.
Abraços,
Antonio José de Oliveira - Serrinha-Ba.