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segunda-feira, 21 de abril de 2014

INTELECTUAIS E EXTRATERRESTRES


Rangel Alves da Costa*


Tenho uma amiga que de vez em quando afirma preferir encontrar um fantasma que um intelectual. Já outra assevera ser mais fácil entender a letra do canto da sereia ao que pretende dizer o filósofo pedante discorrendo acerca da metafísica do ser enquanto razão do não ser. Jamais comunguei com tais pensamentos, mas também não lhes retiro a razão.
Realmente, coisa difícil de digerir é assistir uma palestra ou mesmo qualquer conversa de alguém que se assume como intelectual, expondo seu pedantismo e com o linguajar expelido para comprovar a qualquer custo sua superioridade mental. Ao invés de facilitar o entendimento, explicando conceitos com uma linguagem usual e inteligível, sempre prefere rebuscar de tal modo que acaba complicando tudo.
“Ora, porque o ser, no seu íntimo abismal que se eleva ao patamar do irreconhecível psicanalítico em si existente, nada mais que a esfera engendrada num dismorfismo plasmódico que lhe sutura a esfera preordenamente concebida para torná-lo inter e exteriorizadamente amorfo. Eis que a discinesia extratemporal que lhe permite disfuncionalizar as funções, carreiam metabolismos inibidores ao ser que não é porque antecedido da vazão de outro ser que já num mesmo ser, ainda que não o seja o mesmo”.
Ou ainda: “A realidade precede a realidades anteriores que, se procedentes historicamente, acaba sendo reconhecível somente no seu instante anterior ou que pretende enquanto posteridade. Por isso o homem, que não é outro ser senão o ser gerado em momentos distintos, continua irreconhecível no hoje, pois ainda naquele momento anterior ao ser presente. Noutras palavras, a realidade é irreal à medida que a irrealidade, negação que é da realidade, nega não só sua existência como todo ser que nela existe, pois o homem não é senão aquele fruto de um momento irreal que se tornou em realidade irreal. Entenderam?”.
Não, claro que não entendi, e nem estou disposto a ouvir todo tipo de coisas só porque vem da boca de quem se acha o suprassumo da sabedoria, a luz mental do mundo, a suprema intelectualidade. Não me sinto nem um pouco à vontade com rebuscamentos desnecessários, com teorias que não se transformam em palavras, com digressões que nem os da mesma academia conseguem entender. Ademais, ser intelectual não significa ter de dizer diferente o que bem poderia ser dito de modo mais inteligível e compreensível.
Contudo, não significa que a sociedade seja ignorante, que não tenha capacidade de entender o significado das palavras, dos conceitos, teorias e seus contextos. Não. O problema reside no linguajar imposto pelos ditos intelectuais e outra coisa não serve senão para delimitar o poder do saber perante a ralé supostamente analfabeta. Desse modo, quanto mais rebuscamento há na palavra, ainda que esta se torne praticamente incompreensível, mais o pretenso intelectual se sente como ser culturalmente superior.
Mas também como forma de manipular aqueles que suportam suas divagações. Sei que muitos não aceitam, mas será preciso afirmar que as realidades da vida, do ser e do mundo, acaso sejam objeto de explanações, podem muito bem ser explicitadas de modo diferente. Não vejo nenhum cabimento em dificultar o entendimento se deseja ser compreendido. Se o objetivo maior é chegar ao entendimento de determinada realidade, então que se procure a superfície e não as profundezas.
Veio-me agora à mente quanta dificuldade deve ter alguns críticos de arte, de teatro ou de literatura, para escrever ou falar as pérolas que acabam forjando. E vão do conteúdo à forma, do contexto à interiorização, do sombrio ao obscuro, num entrelaçamento tal que acabam deixando tudo na obscuridade. E de uma repórter televisiva já ouvi, ao comentar acerca de uma exposição: “O artista conseguiu dar forma ao inatingível, ao inexplicável, com cores que penetram na alma e desvendam a realidade interior de cada um. Não são apenas pinturas, mas pinceladas que caminham pelas veias e chegam ao nosso inconsciente”. Entenderam?
Prefiro, pois, ouvir falar de extraterrestres a escutar um intelectual. Giorgio Tsoukalos vai logo dizendo que foram os seres interplanetários que fizeram tudo que há na terra, e pronto. E tudo mesmo, as pirâmides, os grandes templos, a sua casa, eu e você. Mesmo que suas teorias não sejam aceitas, não é tão insuportável ouvi-lo dizer baboseiras sobre os alienígenas. Diferentemente ocorre com essa gente que pensa que é do outro mundo, a intergaláctica intelectualidade. Que gente mais raeliana.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

Um comentário:

Shirley Brunelli disse...

Pois é, Rangel, de que adianta ter conhecimento sobre um assunto, se não consegue transmitir o que sabe, de forma simples e compreensível.
Quanto aos extraterrestres...Nós somos extraterrestres, sabe-se lá de que planeta viemos e para onde iremos um dia.
Abraços!