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terça-feira, 7 de julho de 2015

Palavra Solta: calcinha no varal


Rangel Alves da Costa*


Houve um tempo que avistar uma calcinha era motivo de enrubescimento e de coisas mais. A rapaziada parecia noutro mundo quando uma donzela sentava de modo tal a deixar à mostra um filetizinho da peça mais íntima. Geralmente florida e rendada, pois costume que moça séria usasse calcinha larga e até com babados. Por isso mesmo que de vez em quando aparecia um jardim florido numa sentada mais descuidada. E de boca em boca a notícia ganhava as ruas: vi a calcinha de sicrana, vi a calcinha de beltrana. Mas nada igual a avistar a calcinha estendida no varal. No pensamento mil ilusões, cenas estonteantes, um verdadeiro festim de nudez e prazer. Ora, não havia a sem-vergonhice de hoje nem a mulherada andando praticamente pelada pra cima e pra baixo. Ademais, num tempo de namoros na presença dos pais, de carícias somente nas mãos e alianças de compromisso e de casamento, pensar em ter a mocinha nua era verdadeiramente um sonho sem fim. Daí que muito molecote, rapazote e até gente de mais idade, tudo fazia para avistar a calçolinha estendida no varal do quintal. Era como se estivessem perante o sexo nu da donzela. E muita calcinha foi levada às escondidas. Muito donzelo até casava, com lua de mel e tudo, com a rendadinha e florida. Tudo na volúpia ilusória, mas tão sonhada e desejada.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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