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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Palavra Solta: meninice, danadice e traquinagem


Rangel Alves da Costa*


Já se espalhou como verdade que é a infância só é bem vivida quando o menino passou por ela com danadice e traquinagem. Menino tem de ser danado, já dizia o avô entristecido com a retidão do neto. Não sabia, porém, que era tudo sonsice, tudo um falseamento da realidade depois da porta da rua. Já a avó dizia que não se importava com a danadice do neto, pois naquela idade não havia como colocar rédeas em quem vivia na idade da liberdade e da brincadeira. Os pais ficavam meio seu jeito, mas não havia o que fazer. Quanto mais davam palmadas e colocavam de castigo mais as danadices e traquinagens aumentavam. E com mil razões para ser assim. E com mil lugares para ser assim. Ora, menino nunca se importa com roupa no varal ou com janela de vidro. Quando quer jogar bola e dar chutão não adianta gritaria. Menino nasceu para pular cercas, recolher frutas pelos quintais da vizinhança, para caçar passarinho, para jogar bola de gude, para correr em cavalo de pau, para se danar pelo mundo sem que o pai ou mãe saiba onde ele está. Vai apanhar, ser castigado, mas vai repetir, pois está no seu instinto essa liberdade desmedida. Mas que se diga que uma liberdade própria da meninice e não na incorrência das ilicitudes, desmazelos e abusos adultos. E assim porque o menininho deve ser compreendido pela idade, deve ser perdoado em muitas de suas atitudes, deve ser apenas aconselhado quando se aproxima do não permitido. Menino é pra sonhar, para brincar, pra se danar, pra demasiadamente viver. E somente assim mais tarde não se terá um adulto choroso de seu passado e dizendo que passou a infância sem viver.
                                      

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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