*Rangel Alves da Costa
Iniciei este texto já passado das cinco horas
da tarde desta quinta-feira, primeiro de junho. 17h12min precisamente. E
veio-me a inspiração exatamente pelo que acabei de avistar do outro lado do
portão, em direção aos horizontes.
O dia inteiro foi de mais nuvens do que
réstia de sol, num tempo nublado de chover a qualquer momento. Mas agora, na
junção das nebulosas cores do entardecer, sem as chamas do sol nem a
vermelhidão entre as nuvens, o tempo ficou mais entristecido e pesaroso.
Daí estar um fim de tarde assim, assim
sombrio, tristonho, nublado, escurecido, melancólico e até angustiante.
Paisagem de chuva de uma chuva que não vem, horizontes de cores outonais apenas
a espera de mais escuridão da noite que logo vai chegar.
Tudo fica mais triste num fim de tarde assim.
Não há nem por de sol nem nuvem carregada, não há nem as cores avermelhadas e
tão próprias do instante nem a escuridão fechada dos instantes que antecedem os
temporais. Apenas um fim de tarde assim, assim diferente.
Na solidão em que estou agora, onde qualquer
coisa já desperta saudade, tristeza, melancolia, uma nostalgia de perfeita
feição, avistar paisagens assim é o mesmo que ser chamado ao sofrimento sem
dor, às saudades sem retratos avistáveis ao pensamento.
Sim, motivos de saudades eu teria muitos,
pois distante de pessoa que guarnece de amor o meu coração, mas as saudades
perante este fim de tarde são muito diferentes, pois apenas surgidas como se
abrindo velhos baús e buscando reencontrar os caminhos distantes.
Mas creio que não somente eu estou mais
entristecido num fim de tarde assim. As pessoas passam mais cabisbaixas, mais
pensativas, mais silenciosas, mais reflexivas. Não avistei sorrisos nem
palavras, apenas pessoas que passam como se caminhassem distantes de tudo e
alheias a tudo.
Os carros com suas buzinas sequer são
ouvidos. Não há pressa, não há correria. Talvez muitos se esqueçam de passar na
padaria para comprar pão e leite. Talvez outros sequer saibam por que caminham,
para onde vão, e o que vão fazer logo mais.
Os chuviscos não caem. Apenas o tempo
fechado, nublado. O sol escondido nas nuvens, apenas vai sumindo sem deixar
rastros. Os prenúncios de chuva talvez não se confirmem. É mais fácil chover
quando o dia inteiro não se mantem assim carregado.
Será certamente uma noite sem lua, sem
estrelas. Talvez os meninos sequer apareçam para jogar bola por cima do
asfalto. As mulheres sempre temem sentar nas suas portas em noites nubladas e
indefinidas. Será uma noite chegada mais cedo e muito mais alongada.
Levantei por um instante e novamente lancei o
olhar pelos arredores. Ainda são 17h39min, mas é como se a noite já tivesse
chegado inteira, completa e escurecida antes do tempo. As sombras avançam e o
noturno atormenta ainda mais a minha solidão. Até gosto da solidão, mas não quando
ela chega em noite antecipadamente assim.
Já se foi o que era do fim de tarde. Não
houve boca da noite nem partida do sol para a chegada da lua. Os espaços estão
sem lua e as ruas parecem sonolentas e cada vez mais tristes e também
solitárias. Um gato passou sem mio, também cabisbaixo, lento, vagarosamente remansoso.
Talvez chova a qualquer momento. Ou talvez a
noite avance sem um chuvisco sequer. Seria bom que chovesse e os telhados
molhados acalantassem os sonos difíceis de adormecer. Muita gente gosta de
adormecer ouvindo o barulho da chuva, sentindo o mundo molhado ao redor.
Voltarei novamente ao portão. E perante a
noite fechada sentirei tudo que a mim vier como saudade, tristeza ou aflição.
Não vou mais fugir da memória nem do que desejo reencontrar. Que tudo venha na
noite. Já não tenho medo da escuridão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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