SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 23 de junho de 2017

Palavra Solta – aprender na dor


*Rangel Alves da Costa


Não sei se está frio ou está quente. Não sei se sinto frio ou calor. Não sei se tenho vontade de chorar ou de sorrir. Não sei se estou solidão ou multidão. Nada sei. Triste é saber e nada poder evitar. Também tanto faz saber. A pedra me ensinou muita coisa. Segundo ela, é preciso petrificar para não se espantar tanto com a vida. É preciso enrijecer para não ser levado ao longe, e espatifado nos muros da vida, igual a uma folha qualquer de outono. É preciso ser ferro e diamante para que não imaginem que é apenas pó para ser num instante soprado e pelos caminhos apenas restarem as réstias. Não há ilusões nesse mundo, não há ilusões nessa vida. Quem tem flores com espinhos certamente ficará com as flores, sem compartilhar ao menos uma rosa. Quem tem auroras e sopros perfumados de brisa certamente ofertará ao outro o calor de mais tarde. Quem tem duas mãos para estender certamente estenderá apenas uma, e para logo esta ser recolhida. Não há que se iludir com demasiadas bondades nem com afagos exagerados. Ora, o homem é o lobo do homem e assim o será para a eternidade. Quem não aprendeu no sofrimento jamais haverá de aprender em qualquer outra situação. Somente na dor se aprende a ser forte suficiente para não se deixar levar por canções sem voz. Somente após padecer - e no dia seguinte ainda amanhecer – é que o homem poderá dizer que o seu pó novamente petrificou. Ainda que depois seja novamente feito pó pelas ventanias que sempre chegam.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: