*Rangel Alves da Costa
A arte da escrita é uma das mais belas que
possa existir. Contudo, até que o livro saia da editora ou da gráfica para ser
levado ao público, um imenso percurso é suportado pelo escritor, até mesmo
aqueles de nomes já conhecidos. A inventividade em si é uma das mais
sacrificantes, pois a criação da trama ou do texto coloca o escrevinhador numa
camisa-de-força. Não é fácil dar sentido aos fatos e aos entrelaçamentos. E não
é qualquer história que surja com o poder de agradar.
De qualquer sorte, os sacrifícios se tornam
em recompensas quando o livro é publicado, para ter boa aceitação ou não, vez
que o próprio escritor sempre valoriza mais sua obra do que qualquer outra
pessoa ou crítica. Mas e os livros, aqueles mesmos que poderiam ter alcançado
sucesso e permaneceram em gavetas, entregues à voracidade do tempo, por que
seus autores não puderam sequer publicar uns poucos exemplares? É uma situação
deveras desanimadora, senão impeditiva do prazer da escrita.
No mesmo sentido, e quando escritores
permanecem ocultos, nas incógnitas de seus quartos e escrivaninhas, pelo
simples fato de não poderem dar visibilidade aos seus escritos? Até nos dias
atuais, a publicação de qualquer livro exige vultosos recursos, e nem sempre é
possível encontrar apoio que financie ao menos parte do sonho. Buscar apoio
numa lei é o mesmo que novamente colocar seu livro em gaveta. Enviar projetos
de captação de recursos é o mesmo que esperar a resposta de sempre: não há
recursos.
E depois disso, acaso o livro chegue às
livrarias, ter sua obra colocada num canto dos esquecidos enquanto as vitrines
anunciam os livros escolhidos pelas grandes editoras e seus autores fabricados.
Sim, pois há uma verdadeira fábrica de autores, de pessoas cujos nomes passarão
a ser sinônimos de grandes sucessos literários. Embora forjadamente. Os fatos
constatam isso. De repente e um artista ou pessoa famosa é alçada ao topo da
arte literária por cria e obra das grandes editoras. E não é de espantar se
muitos sequer tenham escrito uma linha.
No Brasil, foi o jornal que praticamente
lançou o renome de grandes escritores. Numa época em que não haviam editoras
especializadas em literatura, apenas os periódicos publicavam em capítulos o
que atualmente se tem como marcos da literatura brasileira. Assim ocorreu com
escritores renomados como José de Alencar, Machado de Assis, Raul Pompéia, Lima
Barreto e tantos outros.
Todos estes, tendo como os exemplos vindos da
literatura francesa desde os Dumas, tanto o pai como o filho, publicavam seus
romances em folhetins, nas páginas dos jornais que circulavam nos principais
centos urbanos. Mas o interesse do público era tamanho pelo desfecho dos
episódios que mais tarde, ao final, inevitavelmente que tais enredos e tramas
eram transformados em livros, como o publicado ou com ligeiras modificações.
Como observado, eram escassos os meios e as
publicações eram bastante reduzidas. Por consequência, os autores saídos das
páginas dos jornais alcançavam fama rapidamente, vez que com escritos já
conhecidos e acessíveis aos leitores dos periódicos. E a situação não mudou
quando começaram a surgir editoras especializadas em literatura nacional.
Publicava-se mais pela fama do autor que pelo conteúdo da obra, abrindo pouco
espaço para novos autores. E tal situação teve continuidade e possui a mesma
feição nos dias atuais.
Certamente que muitos escritos de qualidade
sequer ganharam espaços nos jornais. As gavetas antigas como as de hoje amargam
a certeza que somente as traças serão assíduas leitoras e devoradoras. E assim
acontece porque mais de oitenta por cento dos escritos têm de amargar a triste
sina do esquecimento das gavetas. Somente uma pequena parcela das criações
literárias ganha sobrevida através das editoras. E é neste aspecto que exsurgem
algumas considerações importantes.
Como dito, nem sempre o que é publicado
possui melhor qualidade do que foi rejeitado pelas editoras, não obteve
recursos suficientes para publicação ou simplesmente ficou esquecido nas gavetas.
Autores existem que precisariam apenas de uma oportunidade e seus nomes logo
seriam reconhecidos. Outros, mesmo cientes que produzem escritos de qualidade,
acabam desistindo diante da falta de apoio cultural, de incentivos para
publicação e dos infindáveis meandros burocráticos. Já outros fazem pequenas
tiragens por conta própria na esperança que seu achado caia nas graças de algum
editor.
Por mais que seja difícil de aceitar, mas a
verdade é que as editoras praticamente criam autores. Para elas, tanto faz que
um autor nordestino ou nortista seja verdadeiramente bom, que seja de grande
criatividade literária, se não querem tê-lo no seu catálogo nem em qualquer
lista dos mais vendidos. Mas diferentemente ocorre quando desejam fabricar
celebridades literárias. Por mais que os escritos sejam medíocres, ainda assim
o trabalho de marketing será tão intenso que a crítica passará a reconhecer
alguma qualidade na obra.
Por consequência, se a qualidade da produção
literária do Brasil não é das melhores, a culpa deve recair exclusivamente nas
editoras, pois são estas que não dão oportunidade aos autores novos,
privilegiam alguns nomes socialmente famosos e procuram a todo custo
proporcionar reconhecimento ao que realmente não tem. Objetivando grande
vendagem pelo nome influente do autor, acabam maculando a imagem e a qualidade
da verdadeira literatura nacional.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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