SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Palavra Solta - meu sertão


*Rangel Alves da Costa


Não sei se choro ou lamento o sertão que eu queria e não posso ter. Esteiras estendidas pelas calçadas para o noturno adormecer. Café batido em pilão e tão doce aroma no seu ferver. Cuscuz ralado em quintal e manteiga da terra pra fome espairecer. Não sei se entristeço ou pranteio pelo sertão de antigamente e agora tão diferente, tudo mudou de repente causando aflição na gente. Porta e janela aberta e caqueiro no batente. Rede na varanda balançando e o sertanejo contente. A paz do quintal atrás era paz da porta da frente. Não sei se silencio ou emudeço o sertão que foi um dia e de tudo hoje só restam saudade e nostalgia. Araçá madurinho, a fruta que eu mais queria. Menino solto no mundo, um viver de arrelia. A chuvarada caindo e a meninada na alegria. Não sei se enraiveço ou embruteço pelo sertão do passado e agora ter de suportar o viver amargurado. Vaqueiro correndo boi, vaqueiro correndo gado. Carro-de-boi gemedor e o arado no roçado. E hoje o que se ouve é o motor mais endiabrado, na moto e no veículo, deixando o sertão fumaçado. Não sei se agonizo ou aflijo pelo sertão que vivi, perante este sertão que cabisbaixo sofri. Sem amigas na calçada, sem compadres na proseada, sem o brincar da meninada. Ninguém conhece ninguém, tudo de cara amarrada, sem bom dia ou boa noite, cada um na sua estrada. E assim vai o sertão me afligindo o coração, pois lembrar os tempos passados é dor na recordação, e viver este presente é padecer de aflição.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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