SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Maluquice ou Filosofia

MALUQUICE OU FILOSOFIA

Rangel Alves da Costa*



Verdade é que, dentre as muitas possibilidades de alegria e de tristeza que temos na vida, nenhuma é capaz de, sozinha, nos trazer a felicidade ou aumentar o pranto. Estou feliz porque estava triste; estou deprimido porque nenhuma alegria me alenta no momento. E nesse vão das coisas, choramos porque estamos infelizes ou por que nos falta os motivos do sorriso?
Verdade é que não adormecemos nem acordamos. Deitar, fechar os olhos e viajar em sonhos ou ter assombrações é revirar a noite de olhos bem abertos para as realidades que surgem. E quando ao amanhecer os olhos passam a enxergar essa outra realidade, nada mais é do que dar continuidade ao que já estava sendo visto, pois procuramos sempre conjugar o presente com o significado do sonhado, numa forma de explicar a vida e planejar o futuro. Daí jamais acordar porque adormecemos, mas sim levantar para continuar tecendo o fio da existência.
Verdade é que não há idade, não fomos mais jovens ontem e nem somos mais velhos hoje. Quantos anos tem a vida? A vida é nova ou a vida é velha? Se todos querem sempre recomeçar do presente, como poderíamos pretender construir naquilo que já está envelhecida, que é a vida? Neste sentido, ser jovem significaria simplesmente nada, vez que é na velhice que se sabe o que é a vida. E dizem: morreu cedo demais, morreu quando tinha a vida inteira pela frente, morreu nessa idade com um espírito de menino. Ou seja, morreu como nada, pois não há idade na vida e nem para os homens que vivem nessa vida. O que existem são momentos. Simplesmente isto, momentos. E cada momento pode trazer consigo, na mesma pessoa, a criança ou velho, pois todos somos tudo isso ao mesmo tempo.
Verdade é que não existe amor, paixão ou entrega de coração. As pessoas esquecem que suas vidas são feitas de momento e esquecem mais ainda que nesses momentos é que surgem os desejos, as ansiedades, os quereres, as excitações, as tendências, os gostos, as vontades. Tudo isso é passageiro, e disso também esquecem. Quando insistem em preservar aquilo que satisfaz num momento e chamam isso de amor, paixão ou entrega, simplesmente procuram perpetuar um momento que não existirá mais, pois tudo muda, esfria, vai apagando, e nessa neblina da realidade vai surgindo a insuportabilidade. E isso talvez exista.
Verdade é que não há família. Alguém lembra de algum conceito de família? Quais os deveres e obrigações de uma família? Existe esse ideário chamado união familiar? O pai brigou com a mãe porque os filhos estavam brigando e esta não encheu os menores de porrada. O pai morreu e depois outro filho, morto este por outro irmão que não aceitava as condições da partilha da herança. Este é irmão daquele e daquele outro, mas nenhum se fala desde pequeno. Cada um é por si, e foi isto que pensou a viúva quando trouxe pra dentro de casa o estranho que tornou-se algoz de seus filhos. Com este, a viúva teve outros filhos e assim passou a ter praticamente duas famílias. Mas existe família?
Verdade é que não há justiça, não há lei nem magistrados. O próprio conceito de justiça diz isso: dar a cada um o que é seu. Ora, significa que a justiça está à disposição dos magistrados segundo a leitura e aplicação da lei que queiram fazer. Por isso é que, dando a cada um o que é seu, dão ao pobre, fraco e desprotegido aquilo que merece e ao rico, influente e apadrinhado aquilo que não merece. Só que um merece os rigores da lei e o outro não. Aplicam simplesmente o princípio da isonomia: todos são iguais perante suas desigualdades.
Verdade é que não há riqueza nem tampouco pobreza. Aos olhos dos outros, o que pode haver é uma falsa noção de que o outro possa ter mais ou menos alguma coisa. Ninguém possui algo a mais ou a menos; ninguém tem mais do que o outro nem ninguém terá mais do que tem hoje. Simplesmente um possui uma coisa que o outro não possui, como, por exemplo, as noções de saúde, de felicidade, de amizade. Digo noções porque isto também não existe. Se tais bens ou noções pudessem ser verdadeiramente adquiridas ou compradas, aí sim, existiria riqueza.
Verdade é que não há nenhuma verdade, não há nenhuma mentira, não há absolutamente nada. Ora, se há uma força maior que comanda tudo, por que não direcionar o mundo para a paz, acabando com a violência, a miséria e as doenças? Dizei-me: se todos são filhos de um mesmo pai, todos não deveriam ser irmãos na mãe terra? Pelo contrário, sei que vou matar parte de minha família e mesmo assim construo a bomba, faça a guerra,deixo que vítimas inocentes morram.
Só há uma explicação para tudo isso:...


Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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