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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O SORRISO DA HIENA (Artigo)


Rangel Alves da  Costa*


Os mais antigos reputavam as hienas como espíritos maus, se alimentando de carcaças e restos mortos, no intuito de ganhar forças para fazer ecoar pelos arredores da escuridão aquele grito áspero, mais parecendo uma gargalhada acintosa. Diferentemente do uivo dos lobos avisando sobre sua solitária presença nos montes, a risada da hiena sinaliza a zombaria, o achincalhe daquilo que servirá como seu alimento.
Escarnecer do fraco, do oprimido, daquilo que servirá à sua asquerosa gula, eis o principal objetivo do sorriso da hiena. E não há sorriso mais espalhafatoso, zombeteiro e insuportável que o da hiena. É um verdadeiro escárnio. E também não deixa de ser arrogante, assustador,  intolerável. Se expressa com ironia, sarcasmo, como se pretendesse dizer que ali está para devorar os restos apodrecidos de quem a ouvir.
Isto mesmo, pois a carniça, o resto morto e putrefato é o prato principal da hiena. Também gosta de saborear tudo aquilo que esteja ao seu alcance, principalmente se já não possa esboça qualquer reação, se não mais representar nenhuma ameaça. E é quando ela, através de seu sorriso gritante, começa a dizer o quanto é bom zombar do fraco, do submisso, do já diminuído demais.
A hiena é a metáfora do sarcasmo, do achincalhe com a fraqueza e submissão do ser humano. O seu sorriso também é a metáfora da continuidade da escravização do forte perante o fraco, da sujeição do humilhado perante o poderoso, da manipulação e destruição daquele que não tem mais força para contradizer a realidade. Assim, a hiena representa o poder - e todo tipo e relação de poder. E o seu sorriso representa a força e o meio de ação destruidora.
Bicho sorrateiro, vagaroso, desconfiado, medroso que só, a hiena nunca se aproxima com igual força daquele que mais tarde vai devorar. Sagaz, astuta, faz de tudo para que o outro vá perdendo suas forças, fraqueje de vez e se debruce sem sustança para levantar ou reagir. Então chega sua vez de atacar. Começa a gritar impiedosamente, a sorrir aquela alegria sádica, a festejar aquela presa agora tão fácil.
Eis ali um ser humano. E não precisa estar prostrado de vez, todo alquebrado pelas lutas inglórias, bastando que esteja em situação de fragilidade perante sua presa, seu algoz. E este sempre é o poderoso, a autoridade, o político, o governante, todo aquele que pensa possuir o dispor sobre a vida do próximo. Não é sem motivo que chamam de verdadeiras hienas aqueles que submetem e depois ficam sorrindo das desgraças alheias.
A hiena sorri seu sorriso maquiavélico, destruidor, friamente cruel. E aos poucos vai surgindo de seu esconderijo, dos tufos da mataria, para se encaminhar gracejante na direção de sua vítima. Sente urubus rondando, voando ao redor, mas nada disso lhe será empecilho para se lançar com avidez sobre aquele resto sem vida. E que fartura diante da morte, da presa indefesa que se transformou em carniça. E por sua culpa. Rondou a vítima e a deixou sem saída, até que se tornasse vítima fácil de qualquer outro animal. Também incentivado pela hiena.
E ali ainda o homem. Tantas vezes um ser humano que deseja apenas viver, apenas trabalhar para se manter, apenas sobreviver com dignidade. Por ser assim, lutador, destemido e até sonhador, logo alguém lhe lança um olhar desconfiado, invejoso, carregado de toda maldade do mundo. E o dono desse olhar, verdadeira hiena revestida de gente, guardará dentro de si o objetivo maior de destruição daquele que deseja apenas viver. E vai pensando, maquinando, procurando todos os meios para alcançar destrutivamente o próximo. E se aquele contar com o poder político ou econômico, então será inexoravelmente o seu fim.
Depois de se certificar que seu futuro alimento exauriu suas forças, ou mesmo que sua carniça esteja apetitosa, a hiena, após soltar pelo ar mil sorrisos funestos, vai chegando com a baba caindo pelos cantos da boca, o olhar de uma vermelhidão terrificante, dentes afiados e avidez dos famintos. Em seguida se lança ao corpo estirado com tamanha voracidade que vai devorando tudo, se lambuzando, se empanturrando sem perceber que continua sorrido estridentemente.
Qualquer um ser humano poder ser vítima da hiena. Hienas de iguais estirpes se medem pelas forças e influências; hienas de condições sociais diferentes não cabem num mesmo lugar. E se o mundo é dos mais fortes, então que os fracos se recolham à insignificância e à espera do iminente ataque. E certamente este logo virá, pois é também característico da hiena ter como certa a destruição do outro para que seu sorriso seja alimentado ainda mais.
Verdade é que quanto mais forte a hiena mais ela quer se fortalecer ainda mais se apoderando do frágil, tomando-lhe suas forças para se impor no seu meio. E uma hiena enfraquecida, que nem sorriso tem para mostrar que ainda vive, tem de se contentar em ser manipulada pela grande hiena. Até quando esta deseje que continue vivendo. E só servirá para continuar existindo até quando possa ser usado, manipulado, submetido.
E dizem que há momentos especiais onde a hiena redobra seu sorriso espalhafatoso. Isto se dá quando é votada, eleita e passa a ter o poder como um meio de transformar os outros em presas fáceis, em vítimas fraquejantes, em verdadeiras carniças. E todos os dias a imprensa mostra como as hienas continuam agindo e cada vez mais sorridentes.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois bem cronista RANGEL: Este é o gênero da crônica da minha apreciação:uma metáfora real.
"O SORRISO DA HIENA", estabelecendo a comparação com o PODER, especialmente o PODER de certos políticos, é tão verdadeiro como DOIS E DOIS SÃO QUATRO. Basta lembrar-se do "deputado" JOÃO PLENÁRIO do programa A PRAÇA É NOSSA, de Carlos Alberto de Nóbrega, as astúcias e sagacidade de determinados políticos. O ator demonstra sarcasticamente o que acontece em certos meios políticos.
Então, caro Rangel, esta comparação de políticos com a hiena é correta, e tem origem no tempo do coronelismo, ou talvéz antes, quando o fraco era submetido ao forte. São velhas e contaminantes influências, que embora, com menos força, ainda existem. Não quero com isso afirmar que todos políticos agem assim. Existem bons e maus políticos, como existem bons e maus profissionais. Um desses BONS, creio que sim, Prefeito de um certo Município brasileiro, renunciou o cargo por "não querer roubar", logo que como médico ganharia bem mais que no cargo de prefeito: "ou voltava a trabalhar e ganhava meu dinheiro honestamente ou tirava da prefeitura". "É um caso inédito no Brasil: alguém renunciar para não roubar", disse o Vice-Prefeito". "Voltou a atuar como médico".
Matéria postada pelo BLOG FERRAZ E O POVO EM 04 AGOSTO 2013, onde você poderá conferir. Se todos tivessem essa honestidade, por certo não haveria mais HIENAS-HUMANAS, foi o que respondi ao blogueiro FERRAZ das terras de Serrinha.
Abraços, Antonio José de Oliveira - Bela Vista - Serrinha-Ba.