SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 21 de dezembro de 2013

FELIZ NATAL PRA VOCÊ


Rangel Alves da Costa*


A palavra escrita não tem o poder da voz; a linguagem textual não substitui a presença; as frases e os contextos jamais alcançariam, por exemplo, o poder expressivo de um olhar, de uma aproximação, de uma saudação, de um abraço afetuoso. Mas ainda assim me aproximo o máximo que puder para dizer: Feliz Natal!
Feliz Natal pra você! Tanto gostaria agora que este escrito estivesse perfumado em jasmim, alfazema do campo, uma suave fragrância silvestre; como gostaria que as palavras chegassem acompanhadas de um buquê de flores matinais, de um cestinho de frutas colhidas em pomar, de miçangas de cipó de caroá e com uma concha de mar como pingente.
Ai como eu gostaria de juntar às palavras uns presentinhos que tanto lembram você. Tenho certeza que iria gostar de receber um poema escrito em folha seca, um pedaço rústico de madeira com seu nome talhado, um patuá batizado na correnteza do rio, um segredo guardado de uma garrafa no mar recolhida. A simplicidade não requer o fausto nem o suntuoso, o dourado nem a pedraria, mas a cordial singeleza.
Tantas e tão boas as intenções. Não somente porque o espírito natalino ainda está em mim preservado, nada fruto de um repentino desejo de agraciar, mas sim uma vontade imensa de compartilhar contigo algumas pequenas e essenciais coisas da vida. O que alenta meus dias de sol e lua haverá de ser repartido com quem merece ser recordado.
Um dia, do alto da mais alta montanha, um velho sábio fez ecoar pelo vento: O coração que compartilha torna o espírito multiplicado; o que é partilhado pelo desejo, recompensado será pelo prazer; o que é dividido com quem mereça, faz com que a semente brote e cresça e o seu grão nunca pereça.
Na presença, aí perto de você, tudo seria mais fácil. Sei que gostaria de ouvir Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Mário Quintana, Drummond, Cecília Meireles. Sem livro aberto, mas com as páginas da mente devidamente marcadas, declamaria poema e poesia até que a lua surgisse lá em cima e a aragem da noite chegasse para recolher os restos dos versos ainda ecoando.
Talvez até eu recordasse alguma velha canção de fogueira debaixo da noite. Mas cantarolo agora, baixinho, um tanto entristecido, confesso: “Como vai você? Eu preciso saber da sua vida, peça a alguém pra me contar sobre o seu dia. Anoiteceu e eu preciso só saber. Como vai você?...”
Sim, como vai você? Sei que esta época natalina nos joga diante do espelho das nostalgias infindas. Sei que as recordações chegam mais vivazes, mais angustiantes, quase fazendo sofrer. E faz. Difícil recordar, abrir os baús, reencontrar e não padecer. Ora, não podemos fugir dos sentimentos. Por mais dolorosos que sejam, são os sentimentos que nos tornam melhores e mais humanizados, sensíveis e amorosos.
Muitos agora estão recolhendo as folhas secas que já se avolumam no chão do ano que se finda; outros já começam a abrir as portas e janelas para o novo sol. Mas eu continuo apenas pensando no melhor presente que possa oferecer a você. Talvez jamais encontre a dádiva ideal, mas se compartilho o que para mim desejo, então certamente receberá uma folha em branco. Sim, uma folha em branco!
E nesta folha a possibilidade de escrever o que bem desejar para o instante e o amanhã. Os sonhos, os planos, as aspirações e inspirações, o melhor que deseja conquistar. E também o que deseja esquecer, não mais recordar. Depois arremessá-la ao vento, e melhor ainda na ventania, pois temos pressa de felicidade, precisamos tanto de felicidade.
Na parte da folha que me resta, além de outros desejos do coração, certamente escrito estará: FELIZ NATAL PRA VOCÊ!

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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