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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

FILOSOFANDO A FILOSOFIA


Rangel Alves da Costa*


A filosofia, por mais que tivesse aprofundado seu estudo ao longo dos tempos, jamais alcançou um entendimento pacífico acerca do seu surgimento. Comumente se tem que a mesma nasceu a partir do instante em que os primeiros filósofos - pré-socráticos - procuraram compreender a imensidão do universo não a partir da realidade visível, mas da essência, das causas primeiras para sua existência. O seu conceito também jamais foi consensual. Do mesmo modo, suas bases e fundamentos possuem vertentes diferenciadas segundo o alcance que se pretenda dar ao seu estudo.
Uma coisa parece ser unânime no estudo da filosofia. Sua base de investigação nasceu diante das infindáveis indagações surgidas acerca do universo. A escultura de Rodin, O Pensador, talvez seja a visão mais aproximada do ato filosófico de pensar o mundo. Foi através do pensamento e não da escrita que os primeiros filósofos surgiram tentando compreender e dar explicações sobre o universo e tudo aquilo existente nas sombras de sua imensidão.
Contudo, propor explicações para aspectos surgidos apenas como suposições não era tarefa fácil. Daí o aprofundamento cada vez maior para entender a raiz de tudo e assim, explorando seus aspectos exteriores, possibilitar uma possível explicação sobre a existência dos seres e das coisas. Contudo, tudo envolto em muitas contradições e discordâncias.
Dessa primeira visão acerca do universo, o próprio universo da filosofia foi se expandindo em busca de outras explicações. Nesse passo, tudo ao redor do homem passou a ser objeto de investigação filosófica. Como uma das máximas da filosofia é buscar a compreensão da causa primeira das coisas, os estudiosos passaram a oferecer ao mundo conceitos, ainda que na maioria das vezes inconsistentes, sobre o homem, a natureza, tudo enfim.
Por muito tempo a filosofia se baseou no homem com ser natural e influenciado pelo meio e pela religiosidade. O pensamento filosófico moderno procurou situar o homem como ser universal e estabeleceu uma nova forma de estudá-lo, agora baseada na racionalidade e na comprovação científica. As meras indagações passaram a dar lugar a estudos e experimentos mais aprofundados em busca da máxima certeza.
Contudo, novos pensamentos filosóficos foram surgindo muito além da busca da racionalidade humana. Procurou-se, a partir de então, estender a filosofia para vertentes até então inimagináveis, numa verdadeira ruptura com o tradicional, e assim todas as relações da vida passaram a ser objeto da filosofia. Os novos cenários surgidos e os avanços tecnológicos também não foram esquecidos. O que se tem hoje é uma tentativa de repensar toda a trajetória empreendida e apontando novos limites para o pensamento filosófico.
Contudo, repensar a filosofia e impor novos horizontes não é tarefa fácil, principalmente pelo arcabouço que já foi produzido desde os tempos antigos, desde o seu surgimento. O primeiro desafio da filosofia foi fugir do mito como explicação do universo para impor explicações plausíveis. Os estudiosos gregos debatiam em praça pública e academias suas razões para a existência das coisas.
Tais debates ganhavam força pelos argumentos ali defendidos. Neste momento se deu o surgimento da lógica como forma de argumentar com coerência e racionalidade e permitindo que as explicações praticamente não pudessem ser refutadas. Tais argumentos lógicos foram primeiro utilizados pelos filósofos pré-socráticos ou cosmológicos. Estes, ao se voltar para a compreensão do universo, passaram a estabelecer as questões primeiras da filosofia: O que é o ser? O que é o movimento? Por que a existência assim e não de outro modo? E assim por diante.
Atualmente, a lógica talvez não tivesse força suficiente para explicar e justificar as realidades do mundo e da vida. Seria difícil demais argumentar acerca da regressão humana ao estágio do barbarismo, sobre a prevalência da irracionalidade em todas as situações que exigem o uso da razão, acerca do fanatismo religioso como arma mortal para intimidar e devastar a vida. Não sei se seria possível, por mais que se aprofundasse em possibilidades, dizer o porquê de o homem desumanizar-se cada vez mais.
O pensamento filosófico de hoje é o do espanto, da incompreensão e até do medo. Não há lógica na existência humana que permita compreender como o elevado nível de conhecimento alcançado não consegue fazer com que o homem aprenda a simplesmente viver. Eis o abismo da filosofia. Ou do homem.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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