SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

FRUTA DO MATO


Rangel Alves da Costa*


Não faz muito tempo que cheguei do mercado. Aqui pertinho, cerca de dois quilômetros, fui andando para aproveitar o belo instante da manhã sem o calor escaldante de logo mais. Aliás, enquanto escrevo já sinto o sol avançando sobre tudo e a fornalha do dia sendo aberta. E nada de chuva.
E saí cedinho, antes mesmo de o mercado abrir, porque é ao redor de sua entrada principal, pela área cimentada de acesso, onde é possível encontrar a fruta quase tirada do pé ou recolhida do chão. Ali a verdadeira fruta do mato. E fruta do mato porque nascida rente aos quintais, em árvores frutíferas crescidas sem ter que a mão do homem lançasse qualquer semente. Por isso fruto somente avistado quando vem a estação.
Felizmente, ainda restam lugares onde as árvores frutíferas despejam suas dádivas a cada período do ano. O homem ainda não conseguiu providenciar a cruel devastação, a mão humana ainda não lançou mão do machado ou da serra elétrica para derrubar aquele alimento e amparo econômico. Na verdade, mesmo o pouco arrecadado com a venda acaba se tornando de suma importância para famílias empobrecidas e relegadas pelos poderes.
Creio que logo após a madrugada aqueles vendedores chegam espalhando seus cestos, latas, baldes e sacos, cheios de mangaba, goiaba, mamão, caju, abacate, graviola, manga, jenipapo e toda fruta que surgir na estação. É preciso aproveitar porque o período é curto e de repente ninguém mais encontra uma manga sequer. Passa algum tempo sem nada ser avistado e de repente aquele amarelado doce, saboroso, perfumado, surge como um sorriso ao olhar.
Como dito, são frutas quase tiradas do pé mesmo, pois chegam bonitas, olorosas, cheirosas, trazendo ainda folhas e outros fiapos de mato. Depois de encobrir o chão com um pedaço de lona, vão espalhando os molhos ou mesmo deixando tudo no cesto para que a pessoa escolha. E os preços são diferenciados por causa disso, vez que se a escolha for pessoal o preço é um pouco maior.
Tais frutas chegam diretamente de pomares, roças e plantações localizados nos arredores da capital sergipana, de sítios e pequenas propriedades em municípios vizinhos como Barra dos Coqueiros, São Cristovão, Santo Amaro, Pirambu e outros. Os vendedores acordam ainda com tempo escuro e na madrugada já estão com seus produtos prontos para a viagem. E logo chegam ao mercado central de Aracaju.
Chegando ao mercado, têm de acomodar suas colheitas do lado de fora. E assim porque chegam cedo demais e não é permitido que adentrem ao local para comercializar seus produtos nem que permaneçam defronte à entrada após as seis, quando os portões são abertos. A partir desse horário os fiscais chegam enxotando para que se afastem. Então vão para o outro lado da rua e continuam vendendo o que ainda resta.
Não podem permanecer defronte ao mercado para não competir com os vendedores do local. E estes, mesmo comercializando frutas já adormecidas, cobram preços verdadeiramente absurdos para um mercado central. O que aqueles ambulantes vendem por dois reais lá dentro não sai por menos de cinco. Mas tem gente que prefere pagar muito caro de banca em banca. Eu não, pois aprecio não só a fruta fresca como o preço acessível. Sem falar que a cada compra uma ajuda importante é repassada àqueles que madrugaram para chegar até ali.
Pena que eles não trazem melancia, minha fruta preferida. Mas nesta manhã fiz a escolha de outra espécie que tenho como adoração: manga. Logo avistei aquelas delícias olorosas espalhadas por cima da lona. Cinco por dois reais, ou mesmo seis, dependendo da quantidade da compra. E saí de lá com uma boa quantidade e já pensando no instante de morder aquela doçura, explorar cada fiapo da casca.
Ao menos durante os três próximos dias terei muita manga para dar outro sabor à vida. Mas fico entristecido só em saber que tão curta é a sua estação. E já está no fim.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: