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terça-feira, 8 de agosto de 2017

A IMPORTÂNCIA DE MANOEL BELARMINO PARA O CONHECIMENTO DE POÇO REDONDO E DO SERTÃO


*Rangel Alves da Costa


Ou o homem conta a sua História, ou a história do homem será levada pelas ventanias do esquecimento. No contexto de tal enunciado é que se insere o sertanejo e poço-redondense Manoel Belarmino. Este descendente dos Soares, de ancestralidade vinda desde o Território de Maria do Rosário e arredores, chamou para si a difícil, porém prazerosa, incumbência de contar a história do povo sertanejo ao próprio sertanejo.
Daí a importância de Manoel Belarmino para o conhecimento de Poço Redondo e do sertão. Ampliando tal entendimento, pode-se afirmar que dos seus escritos - seja em forma de texto ou de cordel, seja através de palestras ou de curtos proseados - tem-se por revelado o sertão em amplitude, envolvendo a formação da raça sertaneja, os seus aspectos históricos, o ressurgimento de personagens tão importantes mas que restaram no esquecimento de grande parte da população.
Certamente que muitos não gostam de seus escritos. E assim acontece por que Belarmino não cala ante o que deva ser dito, não se faz de cego ante o que precisa ser visto, não negligencia ou omite seu senso de cidadão, de homem politizado e porta-voz de muitos que falam pelos seus escritos. Belarmino é assim: querido ou odiado, mas necessário. E tão necessário que muito do sertão, da realidade social e da realidade quilombola, não seria conhecido sem o que ele traz aos olhos de todos.
Belarmino não precisaria de formações e mais formações acadêmicas, doutoramentos e títulos e honrarias, para se mostrar sábio naquilo que se envolve e faz. Grande parte de seu estudo e de seu conhecimento nasce da realidade social na qual adentra de coração. Num instante está na Serra da Guia, no outro já está na Rua dos Negros, e ainda no outro já pode ser avistado em reuniões e proseados com comunidades distantes. Belarmino gosta do diálogo, de conhecer raízes, de se aprofundar nos percursos históricos, de buscar a palavra naquele que ninguém acredita sequer ter voz.
Seu ativismo político e ideológico produz insatisfações. Mas não seria de se esperar diferente. Ora, Belarmino não é diferente dos demais cidadãos. É homem comum, simples, humilde. O que o diferencia, contudo, é um poder de percepção (talvez) maior da realidade social. E tal percepção logo se transforma em palavra, em escrito, em alerta ou mesmo grito desaforado. Nunca soube avistar, sentir, amargar nas entranhas e doer sobre a pele (não só dele como das desvalidas comunidades) e simplesmente calar, engolir, deixar pra lá. Não é, pois, do seu feito, negligenciar. E tudo diz, e tudo mostra, ao seu modo.
Por outro lado, depois de Alcino Alves Costa, talvez não tenha quem tenha cavoucado mais as entranhas da história de Poço Redondo e do sertão do que Manoel Belarmino. Não só os fatos, as raízes, os surgimentos, as entranhas da história de um povo, mas também os seus mitos, suas lendas e tradições. Neste sentido, o que Belarmino faz é ser cultura, ser história, ser sociologia, ser antropologia, ser geografia e muito mais. De repente, e lê-se um texto seu sobre o Poço Redondo antigo, sobre seus antigos folguedos, sobre personagens agora esquecidos como Augustinho.
Outro dia, ao lado de Ana Bela de Juvenal e Quitéria Gomes de Bonsucesso - pois estes os de Poço Redondo -, Belarmino foi empossado como membro da Academia Sergipana de Cordel. Uma honraria, certamente, um orgulho bom ao mundo sertanejo. Mas isto não é o que lhe causa maior prazer. Seu maior prazer é estar debaixo de um sombreado de pé de pau reunido com pessoas do campo. Seu maior prazer é estar compartilhando com Dona Zefa da Guia as sabedorias do mundo. Seu maior prazer é escrever sobre todo o seu aprendizado em cada situação assim.
Parabéns, Belarmino. O seu amor pela história de Zé de Julião nunca será em vão. O seu amor pela história e pelas lições de Alcino nunca serão em vão. O seu amor pelos negros, pelos quilombolas, pelos desvalidos, nunca será em vão. Nada será em vão se há compartilhamento do que se viveu e aprendeu na estrada. E isso você faz muito bem. E Poço Redondo e o sertão agradecem.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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