*Rangel Alves da Costa
Uma avó materna e uma avó paterna. Já não
estão na vida terrena, mas as recordo como se ainda estivesse indo aos seus
encontros ou de suas casas eu tivesse saído depois de uma visitinha.
Marieta Alves de Sá, eis o nome de minha avó
materna, porém muito mais conhecida por todos como Mãeta. De estatura mediana,
foi ficando menorzinha com o passar dos anos e a velhice encolhendo tudo.
Mãeta era de fervor religioso, sempre
presente nos ofícios da igreja e tendo santos espalhados por todo lugar de sua
moradia. Quando mais jovem, toda vez que ia até a igreja levava uma espécie de
cadeira onde se ajoelhava para suas rezas e orações.
Não ia a igreja sem levar o véu sobre a
cabeça. Também não se esquecia de seus livros de missa, seus cadernos de cantos
e suas promessas. Ao entardecer, quando o sol já havia aminado o queimor,
colocava uma cadeira na calçada e se punha a abençoar quem passasse.
Já era viúva desde muito, morando sozinha já
envelhecida. Fazia suas compras, tudo preparava no seu dia a dia. Guardava seu
dinheiro debaixo dos colchões e nos escondidos dos móveis. De vez em quando
colocava em minha mão um agrado qualquer. E já velhinha partiu deste mundo.
Já minha avó paterna se chamava Emeliana
Marques da Costa. Dona Meliana, de família numerosa, irmã do ex-cangaceiro
Zabelê, possuía um porte altaneiro, de tez morena, forte e encorajada.
Dona Emeliana era também muito religiosa, mas
menos de igreja do que minha avó materna. Lembro-me bem de seu belo oratório
num canto do quarto, de seus santos e suas imagens sacras. Devota do Padre
Cícero, assim que podia seguia em romaria até o Juazeiro.
Irrequieta, minha avó Emeliana gostava de
ocupações, ao menos enquanto sua saúde permitiu. Teve uma pequena pousada na
própria residência, mas gostava mesmo era de estar na propriedade, fazendo
comida boa na casa de fazenda, ao lado dos bichos de cria e do esposo
Ermerindo, meu avô.
Tanto minha avó materna como a paterna ficou
viúva. Depois da morte do ente amado, a pessoa também muda muito, definha,
entristece, padece pela saudade. Minha avó materna faleceu já desde mais de
vinte anos, enquanto minha avó paterna desde cerca de três anos.
De resto, um poema e muitas saudades.
Minha avó e minha avó
Quero rezar minha avó
cadê aquele oratório?
quero rezar minha avó
cadê a cadeira de missa?
os santos de minha avó
os terços de minha avó
a religião de minha avó
a tanta fé de minha avó
minha avó Emeliana
e minha avó Mãeta
seu neto ainda procura
aquele oratório bonito
seu neto ainda procura
as relíquias do passado
quero rezar minha avó
preciso orar minha avó.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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