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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A POUPANÇA DE GEDDEL


*Rangel Alves da Costa


Não vejo absolutamente nada de estranho no dinheiro, ou melhor, nos milhões encontrados de Geddel. Como bem disse o delegado da polícia federal baiana responsável pelo caso, não há crime ter dinheiro, guardar dinheiro, reter a quantia que desejar em sua posse.
O problema está na origem dos valores. Aí sim, aí está o problema. Ou Geddel explica que os milhões era uma poupancinha pessoal, guardada na própria casa, ou estará embrulhado. Mas talvez o político baiano não tenha feito nada diferente de um antigo costume do brasileiro, principalmente no passado: guardar dinheiro em casa, escondido, enrolado em panos, debaixo dos colchões.
Tanto o dinheiro era guardado que muitas vezes perdia o seu valor. A pessoa pensava que estava rica quando só tinha papel sem circulação. Certa feita, Ambrosino bateu as botas e no outro dia encontraram dinheiro por todo lugar, desde dentro do colchão aos buracos cavados no chão da própria residência. Dinheiro muito, mas já sem nenhum valor.
E se um menino guardar cofres e mais cofres de moedas haverá algum problema nisso? Claro que não. O dinheiro é dele e ele faz o que quiser. Já pensou se Geddel manda depositar essa dinheirama toda logo na época que Collor bloqueou a conta de todo mundo? Aí uma das hipóteses para que o espertalhão tivesse optado por não depositar, e sim manter tudo em casa, dentro de malas, sacos e pacotes.
Outra hipótese é Geddel não gostar de usar cartão de crédito e ter preferência por pagar tudo em dinheiro vivo. Então aquela reserva estava ali exatamente para ser utilizada em compras pessoais, para não faltar dinheiro no bolso. Baiano como é, sempre gostando de um conforto um tanto preguiçoso no dia a dia, simplesmente deitava na rede ao lado dos milhões e começava a telefonar para a baiana do acarajé, para a pizzaria, para a comida de entrega, e quando tudo chegava simplesmente estendia a mão para pegar uma notinha daquelas.
É uma questão de procurar facilidade na vida. Ademais, Geddel sabe muito bem que a violência na Bahia, principalmente em Salvador, está terrivelmente assustadora, que há assalto por todo lugar e a qualquer hora do dia. Pensando nisso, inteligente como é, simplesmente achou por bem não andar com os bolsos cheios pelas ruas e restaurantes, preferindo deixar o dinheiro em casa, ao lado da rede, bem diante de seus olhos. Como dito, bastava estender uma mão numa daquelas caixas e logo surgiria a nota graúda.
Mas aquele dinheiro todo juntado pode ter sido apenas do muito troco que foi sendo acumulado a cada dia. Estendendo a mão e nela vindo apenas nota graúda, logo a baiana do acarajé, o entregador de pizzaria, o rapaz da farmácia ou do restaurante, repassava o troco que era juntado em outra e mais outras caixas. Daí que nada estranho demais no dinheiro de Geddel.
Há de se ver também que brasileiro é desconfiado com as surpresas da economia. Então Geddel deve ter pensado que de uma hora pra outra o governo poderia usurpar todo o dinheiro das contas bancárias em nome do equilíbrio da inflação, formação de caixa ou de qualquer outra coisa, então seu dinheirinho todo certamente sumiria num passe de mágica. Daí que resolveu não depositar e permanecer com ele ali. O fim do ano se aproxima, a época dos presentes também, e quem sabe o político já estivesse se preparando para os gastos da época.
Tudo, absolutamente tudo pode justificar aquela dinheirama guardada. Como disse o delegado, ter dinheiro em casa, e na quantidade que for, não é crime. O crime, acaso comprovado, está na ilicitude da volumosa poupança do político baiano. Os jornais não dão conta que ele tenha praticado roubo a bancos, que tenha estourado pontos bancários de atendimento ou saqueado carros-fortes. A verdade é que estão falando demais, suspeitando demais, de um político que talvez seja apenas sovina, que não goste de dar esmola nem em porta de igreja, guardando tudo em casa e para sua segurança futura. Ademais, o que são 51 milhões para quem sempre economizou cada moedinha ganha?
Contudo, uma coisa é certa. O erro de Geddel foi ter guardado tanto dinheiro e deixado a população brasileira sem moeda, quase sem tostão algum. E assombro maior ainda será quando outras caixas, malas, sacolas e pastas, forem encontradas pelos apartamentos do poder, dos políticos e seus asseclas. Pois há muito dinheiro escondido nas mãos de poucas pessoas. Explicado, assim, o porquê de o Brasil estar tão pobre e o povo sem vintém nem pra comprar pão.
Uma simples resposta e se chegará à verdade: Como o povo brasileiro vai ter dinheiro se tudo ou está nos bancos ou escondido nas casas desses políticos?


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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