Rangel Alves da
Costa*
Venho de
um sertão distante. Sou filho da terra queimada de sol e da seca maior. Nossa
Senhora da Conceição de Poço Redondo, no sertão sergipano do São Francisco,
convive com contrastes impressionantes: imensa riqueza histórica e cultural e
alarmante pobreza na maioria de sua população. Mas um povo que mesmo sofrido
faz da esperança e da incontida fé o alento de luta e de caminhada.
É deste
sertão que sou filho, e desde os idos de 1963. Mas considerando que a linhagem
consanguínea se alonga no tempo, então posso afirmar que sou de raízes bem mais
distantes e mais profundas. Hoje de família imensa, num parentesco que se
espalha além sertões, tenho o lar sertanejo como primeiro berço e a capital
sergipana como temporário abrigo. Ora, o calango não se acostuma com o asfalto,
o preá não vive bem atrás de portões. Assim sou eu, um filho do mato, da terra
e do chão, que anseia por reencontrar as noites de lua maior e veredas tão
sertanejas.
Saí do
sertão aos onze anos. Já se faz tempo demais de exílio forçado. Forçado, porém
necessário, pois precisava plantar sonhos maiores através do estudo. Então fui
daqueles poucos meninos sertanejos que teve a oportunidade de arribar em busca
de uma educação mais aprimorada na cidade grande. Hoje, já aos cinquenta e dois
anos, ainda continuo na capital sergipana, porém sempre arrumando o aió e o
embornal pelo desejo de voltar de vez. Apenas um filho que a casa retorna. Apenas
um filho que necessita sempre conviver com sua terra, com o seu povo, com o seu
sertão.
Em Aracaju,
através do estudo, juro que consegui muito mais do que imaginaria possível. Não
apenas aprendi o básico da aprendizagem como me formei, e fiz muito mais. Não
apenas um banco universitário, mas diversos. Não apenas um campo de estudo
superior, mas vários. E de repente me vi poeta, cronista, escritor, articulista
de jornal impresso, colaborador de sites, atuando em diversas frentes.
E de
repente me vi fazendo parte da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE,
publicando o primeiro livro e depois mais outros (uns vinte e tantos outros a
publicar), advogando, exercendo múltiplas atividades. Contudo, as mudanças
somente na idade e na formação, pois o menino sertanejo continuou o mesmo. E
assim continuarei até o final da existência, pois trago comigo uma virtude de
raiz humanista que jamais deixará de existir.
Meu sonho
de menino era ser jornalista, e o de adulto também. Achava bonito ser historiador,
mas não professor de História. Não concluí o curso de Jornalismo na UNIT e
abandonei o curso de História na UFS, este já no último período. Um dia
concluirei os dois. Mas apenas para ter diploma, pois me sinto jornalista e
historiador.
Recordo-me
bem, numa sexta-feira, durante aula no curso de História, levantei e me despedi
dos colegas. O professor Jessé ficou sem entender nada, e a turma também. Antes
de sair, voltei-me e disse que dali em diante iria estudar Direito, pois o
resultado do vestibular sairia naquele dia e eu tinha certeza de ser aprovado.
Ora, naquele tempo a redação equivalia a quase metade da pontuação e eu estava
convicto de que ela seria minha porta de entrada para o curso. Não deu outra,
quase obtive os quinze mil pontos da redação.
Decidi
mudar de ramo de formação não porque História tivesse se mostrado um curso
ruim, mas porque me abria a mente de tal forma que eu queria também enveredar,
ao mesmo tempo, pela Sociologia, Filosofia e Literatura. Daí que eu não me
sentiria bem em sair de lá para uma sala de aula, pois necessitava de um espaço
maior para trabalhar, ou seja, para exercer livremente o ofício de historiador.
Seria muito difícil iniciar a vida profissional desse modo. Então resolvi
adentrar nas letras jurídicas.
O Curso de
Direito diurno começou a me tomar muito tempo, pois acabava tendo aula também à
noite. E tal fato redundaria em prejuízo ao Curso de Jornalismo. Então abdiquei
deste para privilegiar o outro. Mas dessa vez com uma tristeza danada, pois
havia construído grandes amigos nos bancos acadêmicos: Carlos Augusto, Zé
Alves, Jozailto Lima, Ana Fontes, Elenilton Pereira, Eclair Nascimento, Teresa
Cristina, Adelson Barreto, Aélio Argolo e Conceição, dentre tantos outros.
Infelizmente,
dado às vaidades e egocentrismos da área jurídica, nunca me preocupei em tecer
grandes amizades. Tenho apenas alguns bons amigos, e basta. Quando reencontro
aqueles colegas dos cursos de História e Jornalismo, então sinto o bem que faz
o distanciamento das ostentações e imodéstias. Creio que o ser humano deve
estar sempre acima de sua profissão. Deve ser, portanto, humano.
Mas
voltarei à poeira da estrada, aos meus passos pelo caminho.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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