SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 12 de março de 2016

QUANDO LULA JARARACA MORDEU MEU CALCANHAR


Rangel Alves da Costa*


Somente agora Lula revela que é uma serpente, uma jararaca afoita, furiosa, com veneno nas presas e estas prontas para atacar.
Somente agora revela que não adianta atacar a serpente que há em si se não for logo estraçalhando a cabeça da cobra, acabando com tudo de vez.
Somente agora o ex-presidente revela que coitado daquele que inadvertida ou erroneamente pise no seu rabo de cobra jararaca. Receberá como troco um bote certeiro.
Mas tudo isso que somente agora Lula jararaca revela eu já sabia, e desde que assumiu pela primeira vez a presidência da República, e mesmo antes disso.
Quando todo mundo imaginava que Lula era persistente como formiga, idealista como um joão-de-barro, tenaz como um perdigueiro, eu já sabia ser ele outro animal. E peçonhento.
Assim, não um animal qualquer, mas uma serpente, uma cobra, uma víbora, uma peçonhenta, um réptil frio e escamoso, um ofídio com agulhas venenosas nas presas.
Agora ele se confessa jararaca, mas bem poderia ter se revelado como cascavel, como píton, como mamba-negra, como taipan, como cobra coral. Sempre ferina e mortal.
Mas não por acaso se revelou jararaca. Quem avistá-lo certamente estará na presença de uma velha jararacuçu com seus caninos bifurcados e um faro cheio de espertezas.
Enquanto muitos agora se espantam pela revelação e até um religioso pregou na basílica a expurgação da serpente do meio dos homens de bem, eu já conhecia o seu veneno.
Mas a culpa foi minha. Minha mãe sempre aconselhava para tomar muito cuidado enquanto andasse pelos caminhos perigosos e espinhentos de um lugar chamado Brasil.
Segundo ela, o lugar era conhecido por ter muitos labirintos, feras à espreita e animais sedentos de vítimas por todo lugar, mas principalmente serpentes muito venenosas.
Teimoso que só uma mula, eu acabei dando pouco valor aos bons conselhos e me atrevi pelos perigosos caminhos. E lembro como hoje como ocorreu o primeiro bote.
O ano era 2003. O Lula que eu já pressentia ser jararaca foi escolhido pelo povo como verdadeiro animal de estimação, recebendo dengos e milhões de votos.
Enquanto o povo imaginava que a bondosa jararaca não ia adquirir os mesmos hábitos que outros animais perigosos que viviam a seu lado, eu já pensava muito diferente.
Eu pensava diferente porque tinha a certeza que quem ia morder as outras feras era a bondosa jararaca. Uma vez envenenados, se tornariam completamente manipulados.
Foi a partir daí que o veneno da jararaca começou a surtir efeito naqueles que passaram a servir aos propósitos das espertezas pelos labirintos palacianos e partidários.
Quando, em 2006, o Lula serpente e senhor de toda selva foi novamente escolhido, então tudo já estava dominado e espalhado numa verdadeira rede de falcatruas e roubalheiras.
Mas até aí, mesmo com medo crescente de receber um bote enquanto andava desprevenido, somente quando a jararaca entregou seu reinado é que fui mordido no calcanhar.
E que dor terrível, lancinante, quase mortal. Mas a esperteza da jararaca foi tão grande que passou o primeiro mandato de sua sucessora e só fui sentir depois a extensão da picada.
Quando a sucessora da jararaca assumiu o segundo mandato, então é que o veneno começou a fazer seu terrível efeito. E sem encontrar remédio ou soro que aliviasse a aflição.
Somente depois é que fui percebendo que milhões de pessoas, talvez o país inteiro, também tinham sido envenenadas pela jararaca. E todos agonizando descrentes de tudo.
Colocam a culpa na sucessora da jararaca, mas se não fosse por esta, esta mesma víbora peçonhenta que deixou o mesmo mal no seu lugar, todos os calcanhares estariam livres de seu veneno.
Por isso que a jararaca de hoje não é mais novidade. Ela me mordeu já faz muito tempo. E só não morri porque causa de um soro antiofídico chamado Lava Jato.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: