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segunda-feira, 14 de maio de 2018

DONA DOMINGAS E A RENDA DE BILROS EM POÇO REDONDO



*Rangel Alves da Costa


Encanta-me e encho o coração de esperança, todo vez que encontro pessoas persistentes e abnegadas pelo resgate e manutenção das raízes mais profundas e belas de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo.
Com Dona Domingas, esta de óculos na foto abaixo, ao lado de Cenira, é assim. Mesmo não sendo nascida em Poço Redondo, a nova terra abraçou como se fosse um berço amado. Chegou com esposo e filhos, mas hoje já trouxe até o pai e a mãe.
E, de igual importância, logo procurou tirar do quase esquecimento a beleza e a tradicionalidade da renda de bilro. Não apenas da renda feita em almofada e cujos traçados envolvem espinhos de mandacaru, bilros, formas e linhas, mas principalmente a maestria das mãos, mas toda forma de arte com linhas e panos.
E que mãos hábeis são as das rendeiras, das artistas da terra. Mas como dito, a cultura da renda de bilros poço-redondense já vinha definhando, já estava perdendo toda a sua pujança. Apenas algumas senhoras, como Conceição de Laura, Cenira e outras, continuavam com seus ofícios de calçadas e silêncios ao entardecer.
Uma arte já parecendo com os dias contados. E muito diferente de outros tempos, quando dificilmente não era avistada uma rendeira pelas salas ou pelas calçadas de Poço Redondo. Assim com Dona Clotilde, com suas irmãs Dom, Araci e Maria de Miguel. Assim com Dona Carmosina e tantas outras.
Entretanto, depois destas, pois somente Dona Clotilde continua entre a gente, até pareceu que a cultura do bilro já não encontraria número suficiente de seguidores assim que as últimas rendeiras abdicassem de vez de seus ofícios.
Mas eis que chegou Dona Domingas e reinventou a arte. Eis que chegou Dona Domingas e reanimou esse fazer antigo, mas tão novo e encantador a cada bilro que é dedilhado. E ela não só pratica como ensina. Chega até gente de muito longe para que ela ensine alguma coisa deste nobre ofício.
A abnegação de Dona Domingas é tamanha que fez florescer em suas jovens filhas o mesmo gosto pelo ofício da renda, da arte, do artesanato, da criatividade tipicamente sertaneja. Suas filhas, assim como a mãe, parecem nascidas com o destino da preservação, da continuidade.
Hoje é uma família rendeira, ainda que as moças se dividam entre os estudos, outros ofícios e as almofadas. E sem elas certamente que Poço Redondo não estaria novamente reencontrando seu amor e sua dedicação pela renda de bilros.
E que as gerações vindouras tomem gosto pelo que é nosso, tenham prazer em cultuar e cultivar o que tão belamente as nossas raízes nos legaram. Na renda bilros, sempre desejada e admirada por todos, a oportunidade maior de expressar os dons artísticos tão próprios do sertanejo.
E fazer ainda, e dedilhar ainda, assim como a mãe fazia, assim como a avô fazia, assim como a bisavô vivia o seu dia.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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