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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

NO REINO DO REI MENINO – VII

NO REINO DO REI MENINO – VII

Rangel Alves da Costa*


As hordas hostis, os bandos de invasores a serviço do rei de Acnun, um obscuro e tenebroso reinado dedicado exclusivamente a atacar outros reinos para saquear, roubar mantimentos, destruir lavouras e depósitos de alimentos, destruir o que encontrar pela frente e exigir resgate pelas pessoas da realeza seqüestradas, entraram pelos campos de Oninem e, sem encontrarem qualquer reação, se dirigiram às portas desguarnecidas da cidadela antes inexpugnável, invencível.
A fortaleza parecia nua, com sentinelas abandonadas e vigias com outros afazeres. Apenas um, na mais alta das torres, pôde avistar o tropel se aproximando muito distante. Conheceu o perigo pela volumosa poeira que se formava pelas patas dos animais cortando a terra insegura. Soou a trombeta e logo outros sinais foram sendo espalhados pelo castelo e na povoação ao redor. Começaram os gritos, as correrias, as fugas desordenadas, o salve-se quem puder.
Ao ouvir os primeiros sinais e depois o intenso barulho, o rei preparava-se para sair dos seus aposentos onde tentou descansar por poucos minutos. Bateram à porta e avisaram aos gritos que o castelo a qualquer momento poderia ser atacado; as bandeiras das tropas inimigas já tremulavam ao longe, avisaram.
Como num ímpeto, repentinamente o rei chamou à sua mente um plano que havia traçado há algum tempo, desde que o reino começou a ser ameaçado pelas constantes crises. O plano era uma estratégia de fuga rápida, levando a esposa e o filho. Desse planejamento constava ainda levar as preciosidades da realeza, as jóias, o ouro cuidadosamente escondido e uma fortuna que vinha sendo acumulada às custas da sobrevivência do próprio reino. Seria como o rei em fuga estivesse levando o produto do roubo do seu próprio reino.
Com efeito, há muito que Lucius dividia-se nas tarefas de procurar solucionar as crises existentes, vez que permanecer como soberano era o que mais desejava, e de se precaver acaso o pior pudesse acontecer, que seria a invasão do reino e a sua destituição, prisão ou morte. Assim, por precaução é que começou a arquitetar um plano simples e eficaz: iria armazenando os objetos de valor e a fortuna num lugar onde não precisasse de mais de cinco minutos para prender a carga à carruagem real, que estava continuamente preparada num depósito aos fundos do castelo. No momento da fuga bastaria atrelar os cavalos e partir a toda velocidade.
A esposa real não comungava em nada com a estratégia do rei, porém concordava silenciosamente para não criar problemas entre os dois nem colocar em risco as suas vidas, principalmente a do seu filho. A sua inconformação, contudo, residia no fato de o rei desviar as economias do reino para objetivos pessoais e deixar que o restante ficasse desestabilizado, com o povo achando que realmente o reino estava com graves dificuldades financeiras, sem poder arcar com os custos da manutenção de sua segurança. Além da rainha, somente Bernal conhecia as maquinações de Lucius.
Assim, enquanto a agitação se expandia lá fora com a aproximação dos terríveis cavaleiros com suas bandeiras, lanças, espadas e outras armas, o rei preparava sua fuga. Ordenou que a esposa se apressasse e trouxesse rapidamente o menino, pois não podiam esperar mais nem um minuto sequer. A rainha, contudo, correu para próximo do esposo e, chorando e aflita, avisou que não conseguia encontrar o menino, que o mesmo havia desaparecido do quarto onde sua ama lhe prestava cuidados; nem a criada conseguia encontrar.
O surgimento desse inesperado fato causou no rei espasmos indescritíveis. Contorceu a feição, enrubesceu rapidamente, correu de um lado para o outro, gritou pelos criados, mas somente um apareceu para dizer que se pretendesse fugir o momento era aquele, pois o povo já havia adentrado as florestas em correria. Sem saber o que fazer mais, o rei puxou violentamente a rainha pelo braço e, levando-a consigo, disse:
- Temos que deixar nosso filho e partir. A sorte dele certamente será melhor que a nossa se ficarmos aqui mais um instante. Ele será salvo minha rainha. Vamos. – E saiu apressadamente puxando pelo braço a esposa que se debatia, gritando aos prantos, pedindo para ficar.
As tropas já estavam a uns cinqüenta metros das portas do castelo.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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