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domingo, 21 de fevereiro de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XV

NO REINO DO REI MENINO – XV

Rangel Alves da Costa*


No instante em que Gustavo e Bernal preparavam-se para abrir o misterioso presente, eis que surge na porta o cambaleante sacerdote, segurando com a mão esquerda uma taça transbordando de vinho.
- Mas o que pensam que vão fazer? Parem, parem imediatamente com isso e deixem esse objeto como ele está. Afinal, vocês não estão vendo que esse presente está embrulhado com as cores e com a fita cravejada da Grande Ordem dos Rebeldes?
- Mas o que significa essa Grande Ordem? – Perguntou Gustavo, assustado com a repentina aparição.
- É uma história muito longa, mas por enquanto posso adiantar que a Grande Ordem dos Rebeldes, como o próprio nome diz, é uma terrível aliança formada por soberanos e poderosos com o objetivo de dividir o País dos Voantes em dois, ou seja, passaria a existir outro país com o nome de Feudantes, e este contando somente com duas classes de pessoas, os reinantes e os escravizados. Assim, neste país só existiria uma classe dos ricos e governantes e outra dos trabalhadores, os escravos. O pior de tudo é que esta outra classe seria totalmente submetida e subjugada, pois teria que trabalhar e sustentar a outra classe recebendo apenas uma esmola que a outra quisesse dar. Aquele que reclamar, não quiser trabalhar ou tentar fugir terá morte certa...
Bernal não se conteve e se aproximou do religioso, indagando-o:
- Mil perdões, mas como o senhor sabe disso tudo, quem são realmente estas pessoas que têm um projeto tão infame e por que eles mandaram este objeto, que ninguém sabe ainda o que é, para cá? Por favor responda, se estiver em condições.
Achando mais seguro sentar um pouco, o sacerdote preparou-se para responder, mas não sem antes pedir que trouxessem mais vinho, mesmo com o cálice cheio.
- Como eu disse há pouco, é uma velha história, mas vamos por parte. Essa tal de Grande Ordem já existe há muito tempo, desde que alguns desses reinados que formam o país começaram a se sentir prejudicados quando os camponeses passaram a ter alguns direitos e não somente deveres. Isso enraiveceu a classe poderosa, que queria fazer da escravidão desse pobre povo um meio fácil para enriquecer ainda mais e com mais facilidade. Assim, foi para fazer com que a escravidão se tornasse permanente nesses reinados que surgiu essa Ordem. Atualmente, quando a maioria dos reinos tende a dar cada vez mais liberdade ao seu povo, respeitá-lo mais e tê-lo como uma classe trabalhadora que merece receber pelo que produz, essa Ordem está fazendo de tudo para buscar adeptos para sua causa, até mesmo intimidando soberanos para que passem a fazer parte do País dos Feudantes, como denominaram essa coisa impossível de ter existência. Porém, o pior é que em muitos casos eles até procuram invadir os reinos que não comungam com as suas nefastas pretensões. Primeiro eles... Mas como foi mesmo a pergunta?
- Boa parte o senhor já respondeu, mas como é que soube disso tudo? – Reiterou o feiticeiro do bem.
- Sim, vamos lá – Tomando um gole de vinho -. Sei de tudo porque homens de Deus como eu sentiram na pele a violência e a crueldade desses chefes da Ordem. Todos os sacerdotes que viviam nos reinos que já aceitaram lutar para formar um novo país foram expulsos de lá, mas não sem antes sofrerem as dores do açoite e de outras crueldades. E por que fizeram isso? È fácil responder, simplesmente porque eles passaram a defender os trabalhadores. Ora, defender o povo pobre e carente de um tudo é uma afronta para eles. Daí que enxotaram de lá, a pau e a pedra, os nossos devotados sacerdotes. Muitos chegaram a morrer por causa disso, outros enlouqueceram, e o que restou com consciência me contou essa história. Aí primeiro eles... Mas como foi mesmo o restante da pergunta?
- Só falta responder duas coisinhas, meu bom senhor: quem são realmente estes homens, estes que estão por trás dessa Ordem e por que eles mandaram este presente para cá? – Bernal insistiu, já impaciente.
- Pelo que eu pude saber, já que todo mundo parece ter medo de falar sobre isso, os cabeças de corja, os que estão arquitetando essa separação e tudo que está por trás disso tudo são os reis de Acnun, um reinado de péssima fama que fica muita adiante dessas montanhas, e os reis de Ojon e Miur, dois ditos soberanos que há muito já deviam ter recebido os merecidos castigos de Deus. Mas os receberá, com certeza. Por favor me passe o vinho meu jovem – Falou para Bernal.
E o feiticeiro, mostrando um leve sorriso, porém demonstrando inquietação, disse:
- O vinho está ao seu lado e o cálice está quase cheio meu senhor, mas procure responder a só mais uma pergunta: o que o senhor queria dizer com mas primeiro, aí primeiro...?
- Ah! foi bom você lembrar porque eu ia esquecendo. Primeiro eles mandam um presente, acompanhado de um convite para fazer parte da Ordem. Mas não é convite coisa nenhuma, pois se o pequeno rei não aceitar corre o risco do seu reino ser atacado. Podem confirmar o que eu estou dizendo, abram a caixa.


continua...


Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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