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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 101


Rangel Alves da Costa*


“Estava lendo sobre o expressionismo na pintura...”.
“A arte na sua força máxima...”.
“Gosto de sentir os sentimentos repassados na tela...”.
“Ao contrário do impressionismo, o artista busca retratar subjetivamente...”.
“Quer dizer, não a realidade dada, mas as suas consequências...”.
“Daí as emoções, o uso de instrumentos que dimensionem o que está além daquela realidade...”.
“No expressionismo, a tristeza não é a face triste, mas o contexto geral transmitido na tela...”.
“Em muitos artistas percebe-se bem a força da conotação, da expressão...”.
“Dentre os expressionistas admiro um pintor em especial...”.
“Qual?”.
“O norueguês Edvard Munch...”.
“Aquele mesmo de O Grito?”.
“Sim, este mesmo...”.
“E O Grito poderia ser vista arte menor, pintura sem significação...”.
“Realmente, pois mostra apenas alguém espantado, assustado, passando ao final da tarde por cima de uma ponte...”.
“Com as mãos erguidas, ladeando a cabeça, olhos estarrecidos, boca querendo gritar...”.
“Mas é aí que se demonstra a maestria do artista...”.
“Sem dúvida. Infinitas insinuações podem ser feitas diante da tela...”.
“Mas visivelmente ali está a simbologia da dor, da angústia, do medo, da fuga...”.
“Munch tinha esse dom de dimensionar os sentimentos...”.
“O Grito é sua pintura mais famosa, contudo...”.
“Contudo não reputa como a mais bela?”.
“Sim. Prefiro outras obras do artista...”.
“Quais?”.
“Munch produziu muito, mas sempre se manteve fiel à expressão dos sentimentos...”.
“Onde acha que tais aspectos estão mais demonstrados?”.
“Numa série de pinturas que chamo de trilogia. Sendo mais específico, trilogia da dor...”.
“Quais são as obras que compõem tal trilogia?”.
“A primeira é a que o artista, de forma contrastante, intitulou “Primavera”...”.
“Insinua equívoco do pintor...”.
“Talvez tenha sido proposital, mas a verdade é que a pintura está mais para um triste outono do que mesmo para primavera...”.
“O que mostra a pintura?”.
“Mãe e filhas sentadas diante de uma janela. A mãe com um copo de remédio à mão; a filha, de aspecto gravemente enfermo, parece olhar para o nada. E a janela aberta, com o vento soprando sobre a cortina, num cenário de puro entristecimento...”.
“Realmente, difícil ser primavera. Mas, e a outra pintura...”.
“Chama-se A Menina Doente. Nesta há justificativa entre o nome e o que é repassado na tela...”.
“Lembro bem dessa pintura. É tão triste...”.
“Novamente mãe e filha juntas. Dessa vez a filha está moribunda numa cama, com feição de palidez mortal. A mãe de cabeça baixa, entre as mãos, num gesto de indescritível dor...”.
“Certamente sente que a filha morrerá...”.
“Sim, certamente morrerá...”.
“Se os dois quadros apresentam a enfermidade, o terceiro...”.
“O terceiro apresenta a morte...”.
“A morte da menina...”.
“Menina ou mocinha, mas a morte. Isto representado numa pintura chamada No Leito de Morte...”.
“Será que Munch representa a mesma pessoa?”.
“Ainda que não, a intencionalidade do observador é essa...”.
“Pelo relatado, os motivos em cada tela...”.
“Historiadores da arte afirmam que os quadros representam pessoas reais...”.
“Deve ter sido difícil para o artista...”.
“Principalmente porque tais pessoas eram de sua família...”.
“Que situação!...”.
“Sim. Sua mãe e sua irmã!”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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