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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Palavra Solta - meu pai era amigo e inimigo de Lampião


*Rangel Alves da Costa


Meu pai nasceu em 1940, dois anos após a chacina de Angico e a morte de Lampião, sua Maria Bonita e mais nove cangaceiros (também um soldado da polícia volante). Contudo, mesmo tendo nascido após tal acontecimento tido como o fim do cangaço (ainda que o remanescente Corisco só tenha sido emboscado em 40), meu pai começou, alguns anos depois, a ter um relacionamento profundo e intenso não só com Lampião mas também o seu bando e todo o cangaço. É que começou a pesquisar a história daqueles homens das caatingas nordestinas e logo se transformou em grande conhecedor do fenômeno, prestigiado estudioso do tema e autor de obras essenciais (Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico, Lampião em Sergipe, e O Sertão de Lampião, dentre outros). E se aprofundou tanto na análise do homem e do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que não media palavras ora para difamá-lo ora para endeusá-lo. Mas o fazia com pertinência. Segundo ele, como estrategista não havia general melhor que o capitão do sertão, mas também um covarde ao aceitar que homens de seu bando - e até ele próprio - promovesse desmedida violência contra inocentes e humildes sertanejos. Assim, de um lado era amigo do cangaceiro inteligente, perspicaz, diplomata no âmbito coronelista e sem igual no ataque e na defesa, e de outro um declarado inimigo daquele perverso e cruel Lampião.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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