SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 30 de outubro de 2016

Palavra Solta - comer sem frescuras


*Rangel Alves da Costa


Não faço questão de sentar à sua mesa enfeitada, cheia de etiquetas e formalismos. Também não me interesso pelos pratos que são servidos nem pelas taças e garrafas que são colocadas à disposição. Nunca me acostumei com terrinas, compotas, tigelas, louças, talheres finos. Tenho como abominável que o alimento seja servido como ritual e a alimentação como um protocolo. Aflige-me saber que à mesa há uma grã-finagem faminta, mas que não pode comer nem como deseja nem o que quer. Tudo no tiquinho, na porção, na medida. O olho guloso, a boca faminta, mas tem que mostrar educação. Não me exponho a tais ridículos. Comida é para ser comida sem receios ou frescuras. Comer muito, encher o prato se for preciso, servir-se de mais, repetir e querer mais. Comer com a mão, fazer bolo de feijão, colocar ao lado um pratinho com pimenta. E também lamber os beiços e os dedos, se for preciso. E nada de comida com nome estrangeiro, impronunciável ou desconhecido. E nada que venha pouco. Tudo muito. Muita carne de porco, de gado, de cabrito. Muito feijão, muita feijão, muito sarapatel, muita galinha de capoeira, muito caldo, muito mocotó, muita carne assada, muito lombo e pernil. E a única medida ser a fome que se tem.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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