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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O DESMANCHE NAS PREFEITURAS


*Rangel Alves da Costa


Cada prefeito eleito, acaso não tenha sido apoiado pelo atual gestor, dificilmente não encontrará uma prefeitura completamente desconsertada, desmantelada mesmo. É que se tornou uma prática tão comum quanto insidiosa o desmantelamento não só do aparato administrativo como das contas públicas. É o chamado desmanche administrativo com a derrota no pleito e o fim do mandato. Entrega-se somente o prédio, quando muito.
Após o pleito e a consequente derrota, logo se procura algum alvo para lançar as iras, os ódios, os aborrecimentos. Como não pode se rebelar naquele momento contra o prefeito eleito nem contra os seus eleitores nem os eleitores do outro, então articula atacar o próprio cerne da administração municipal: a prefeitura e seu contexto. E começa a sufocar a gestão como se pretendesse esvaziar de vez todo tipo de ação administrativa. Não faz mais nada daí em diante, a não ser providenciar para que ele próprio, o prefeito, não saia no prejuízo. Ele e o seu grupo.
É como se o mundo acabasse após uma eleição não vencida por um apoiado pelo prefeito. Só falta mandar derrubar e jogar sal por cima do prédio da prefeitura. Lança mão da tesoura, do facão, do machado, e vai cortando tudo que seja de direito ao município e à população. Com o ódio fermentado, sempre imagina que agindo assim está dando a resposta aos que não lhe apoiaram ou traíram sua confiança. Então todos, indistintamente (menos logicamente ele próprio e seu grupo), começam a sofrer danosas consequências.
Ao colocar em ação uma vil e mesquinha política de terra arrasada, o gestor vai de encontro ao próprio patrimônio municipal. Na geopolítica, a tática da terra arrasada significa uma retirada onde se deixa para trás apenas escombros, de modo que o inimigo encontre somente restos e frangalhos. Consiste basicamente na retirada civil e militar do território em conflito, destruindo tudo o que existe para que a tropa inimiga que adentra o território encontre um ambiente hostil.
Numa gestão municipal que se finda, a política de terra arrasada vai colocando fim a quase tudo existente. Suspendem-se contratos, deixa-se de pagar fornecedores, interrompem-se obras já iniciadas e engavetam-se aquelas programadas, corta-se a prestação de serviços essenciais, enfim, provoca-se uma paralisia geral na administração. Um fato de graves consequências é a “limpeza” no quadro de pessoal, pois dezenas ou centenas de contratados são forçadas a abandonar os seus postos de trabalho.
E esta é uma realidade que agora se prolifera nas administrações municipais onde os atuais gestores não lograram êxito no recente pleito. As medidas tomadas, sempre por iniciativa pessoal e intimista, acabam provocando um verdadeiro caos entre a população, principalmente quando, de hora pra outra uma leva de gente se vê desempregada e sem perspectiva alguma. E as ações odiosas acabam afetando até mesmo crianças e demais estudantes, pois os servidores contratados para prestar serviços nas escolas são logo mandados embora.
A derrocada eleitoral vai provocando vítimas de todo lado, principalmente naqueles menos favorecidos e que tanto necessitam de um empreguinho para sobreviver, mas que são escolhidos como bodes expiatórios, tidos como culpados pelos acontecidos. Contudo, o discurso do gestor é sempre outro: Necessidade de enxugar a folha de pagamento, conter despesas e gastos, equilibrar as contas, produzir saldo nos cofres públicos para a próxima gestão. E nunca se crê em tais justificativas pelo fato da hora: por que somente ao apagar das luzes há tanta preocupação com as contas e a saúde financeira municipal?
É sempre tudo conversa pra boi dormir e o gestor tomar conta sozinho do pasto. Quando o eleito contrata auditoria e começa a remexer por todo lado, então o que geralmente se encontra é a falência absoluta, é o esvaziamento total dos cofres, é um mundo de pendências e débitos, é o descalabro total. E grande parte disso provocado após os resultados das urnas, depois que o prefeito foi derrotado. Por todo lugar persiste essa velha prática do esvaziamento de um lado e o enchimento de outro, ou seja, a prefeitura quebrada e o gestor na bonança.
Diante destes e outros fatos, não tenho como corretas medidas tomadas por insatisfações políticas. Dispensar contratados, acabar com serviços essenciais, deixar alunos sem aula e merenda, além de outras medidas danosas à população, e logo imediatamente após uma derrota eleitoral, não pode ter outro nome senão perseguição. Sob uma tardia e frágil justificativa de contenção de despesas não se deveria punir pobres contratados, alunos que muitas vezes só tem a merenda como alimento do dia, ou deixar de prestar serviços tão necessários à população.
As despesas devem ser diminuídas a partir daqueles altos salários e de tantas outras benesses existentes, bem como daqueles cargos comissionados por apadrinhamento, e não cortando na carne o osso do já desvalido. Se há real necessidade em tal contenção, que se comece por cima, pelo peixe graúdo, e não por baixo, pelo humilde motorista ou pela carente merendeira. E quem bom seria se as auditorias fossem além da prefeitura para alcançar também o próprio gestor e seus secretários e apadrinhados.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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