SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 8 de outubro de 2016

OS NOVOS DONOS DO PODER


*Rangel Alves da Costa


O poder atual é construído ainda na perspectiva defendida por Raymundo Faoro em sua famosa obra “Os Donos do Poder”: um poder corrompido na raiz e que foi se perpetuando pela força econômica dos grupos políticos surgidos a cada período. Na obra de Faoro, remonta ao colonialismo português o patronato político forjado no poder econômico, com suas nefastas consequências.
Aquele poder nascera concentrado nas mãos de poucos e assim continuou. O poderio econômico sempre se orientou na busca do poder político, a partir de grupos com as mesmas características e ambições, renovando-se apenas nos clãs familiares e patronais surgidos, assim como grandes latifundiários, coronéis, oligarcas, senhores de engenho, políticos e governantes.
Como se pode depreender, os retratos antigos ainda estão nas paredes de agora. E novas fotografias surgem com as mesmas feições, vez que nada parece mudar quando se trata do alicerçamento ao poder. As velhas práticas continuam tão usuais quanto a importância dos nomes e sobrenomes, das fortunas e das ambições. Na perspectiva de os fins justificarem os meios, há sempre a leitura numa cartilha onde se ensina somente a utilizar de todos os meios e artifícios para o alcance e a manutenção do poder.
Entretanto, há um fato novo que vem ganhando cada vez mais importância. Como o poder não pode ser totalmente exercido pessoalmente pela classe política, então surgem ramificações, nas pessoas de auxiliares, que se assumem como igualmente poderosos. Não somente poderosos como perigosos, pois tudo serão capazes de fazer para se manterem nos cabides dos mandos e das influências. Estes são, nas medidas de suas ações, os novos donos do poder. E este sempre paralelo e auxiliar ao poder maior.
Há poderes políticos que assim se manifestam por raízes familiares, pelas longevidades nos governos, nas casas legislativas federais, nas assembleias, nas prefeituras e nas câmaras municipais, ou mesmo pelas repentinas vitórias eleitorais. Tais poderes acabam repassando forças de mando e ação a um corpo de pessoas que logo se torna reconhecido. São os auxiliares, ministros, secretários, adjuntos, escolhidos a dedo e que passam a agir por delegação. E estes, mesmo sendo subordinados, logo procuram mostrar suas forças.
Os novos donos do poder, pois, são aqueles que passam a exercer poderes por delegação de governantes e políticos. Além daqueles escolhidos como auxiliares, até mesmo bajuladores e apadrinhados se arvoram de poderio de mando. Em muitas situações, é de fácil percepção onde estão e como agem tais novos donos do poder. Estão pelos arredores dos gabinetes, nas secretarias, nos altos cargos em comissão, bajulando ou endeusando seu comandante.
Tais novos donos do poder são muito mais maquiavélicos do que seus líderes, mesmo que não raro ajam por determinação. São protetores de alguns aliados, partidários e familiares. São perseguidores implacáveis de adversários e opositores. São estrategistas da maldade, da derrocada do outro, da difamação e da desonra. Vivem manipulando fatos e dados, bem como espalhando mentiras e interesses escusos. Transformam realidades em aparências e sempre gostam de serem temidos.
Por abraçarem tão fortemente os meandros do poder e, com isto, também suas facilidades, muitos deles não conseguem fugir das tantas tentações surgidas. E por isso mesmo se envolvem em roubalheiras dos cofres públicos, em fraudes licitatórias, em atos da mais deslavada corrupção. O fato de desejarem nivelar o emergente poder ao status social, bem como aproveitar o máximo da situação para sua ascenderem financeiramente, permite que os escândalos logo apareçam e seus nomes tomem as páginas dos jornais.
Com o recente pleito para prefeitos e vereadores, novos grupos de poder já estão se formando. São estes que irão ditar os destinos dos municípios a partir de janeiro. E também são estes que se acharão os donos do mundo e, principalmente, da vida de cada um. Sem falar na sede desmedida de tirar máximo proveito de tudo, principalmente daquilo que não deveriam.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: