*Rangel Alves da Costa
Acho que
venho sendo sexualmente assediado por minha namorada. Só pode ser. Cresci
sabendo que namoro é só beijo no rosto, pegar na mão e dizer que ama (sem
chegar o lábio muito perto do ouvido). Se quiser ficar juntinho, tem que se
contentar em sentar numa cadeira separada da que ela estiver sentada. Nada de
mão nas pernas, nas coxas, pelo corpo. Safadeza demais fazer isso! É preciso
respeitar! Namoro é namoro, não é casamento ou amigação não. Quem já viu dizer
que o homem possa ver a mulher nua antes de se “ajuntar”?
Como diz o
outro, ainda é preciso viver como se fosse um tempo de amor e moralidade.
Namoro atrás de muro, de jeito nenhum. Passar a mão pelas coxas, mas nem
pensar. Saber a cor da calcinha da mulher, um verdadeiro absurdo. Tocar nos
bicos dos seios, certamente o pecado dos pecados. Respeitar o limite do abraço,
numa distância segura, aí sim, pois o que se espera de namorados é que se
guardem e resguardem para o futuro, para o depois das núpcias. E se possível
uma lua de mel sem nudez absoluta, com luz apagada e roupas somente um pouco
abaixo dos joelhos.
Não vejo
nenhum mal nisso. De vez em quando até indago o porquê de as pessoas ficarem
totalmente nuas dentro de seus quartos. E mais: um vendo tudo do outro. Certamente
não tem medo de um resfriado, de um vento ruim que passe e entorte tudo.
Conheço gente que é casada desde mais de vinte anos e até hoje só faz vestida
de camisolão suas obrigações sexuais. E ele de ceroulão. Depois de tudo, com
todo o recato de respeitosos, cada um dorme seu sono no lado sua cama e sem se
tocar nenhum instante. Acho até que nem um nem o outro já avistou algum dia a
nudez do outro. Aplaudo que seja assim. Tem que ser assim porque não passa de
pouca vergonha estar avistando as partes dos outros.
Minha
namorada sabe muito bem que penso assim. Ela sabe que sou o mais casto dos
homens, que sou o respeito em pessoa, que jamais iria além do toque na mão e na
carícia um tanto distanciada. Tudo para não despertar desejo nem coisas mais.
Mas o estranho nisso tudo é que mesmo sabendo desse meu jeito tão puritano e
conservador de ser, ainda assim ela – costumeiramente – tenta transgredir meu
jeito imaculado de ser. Imaginem que absurdo: beija-me na boca, lambe meus
beiços, me abraça apertado, me roça em seu corpo, me faz sentir um terrível
calor, chega até mesmo colocar minhas mãos em partes angelicais do seu corpo. Quer
por que quer fazer aquilo. Sinto vergonha só em pensar.
Juro que
fico sem jeito, que fico sem graça. Ora, como uma pessoa séria como eu pode se
comportar decentemente quando de repente avisto sua calcinha descida ao chão,
quando os bicos de seus peitos parecem apontar para mim, quando sua pele nua chega-me
feito um vulcão incendiário? Fico todo sem jeito, rubro, envergonhado. Tento
nada avistar, procuro me afastar um pouco e fechar os olhos para não cair na
tentação, mas quando dou por mim ela já está me arremessando em cima da cama e
depois avançando sobre o meu corpo com uma voracidade felina. Assédio. Só pode
ser assédio.
Mas depois
dos noticiários dando conta que muito famoso está sendo acusado de assédio só
por que chamou a moça sibite de gostosa ou fez qualquer insinuação mais provocante,
passei a desconfiar de que minha namorada está me assediando. Não posso pensar
diferente. Se as acusações contra os famosos são menos picantes que o que ela
anda fazendo comigo, então não posso duvidar de que está passando dos limites
do namoro respeitoso e chegando à esfera da sexualidade.
Ora, ela
beija em minha boca e me faz carinho. Ela me faz dengo e também cafuné, passa a
mão pelo meu peito e roça sua pele macia na minha, chega com seu lábio úmido e
assenta sobre o meu beiço envergonhado. Eu acho isso avançado demais e faço
tudo para evitar, mas acabo com vergonha de dizer não, que pare com isso senão
papai do céu vai brigar. Então fecho os olhos e deixo ela me beijar mais. Sei
que é pecado, até pecado mortal. Mas é tão bom!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Alguns pecados são permitidos. Ou não teriam sido criados!
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