SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 28 de agosto de 2018

A ESPERTEZA POLÍTICA OU O BOLO MUITO MAL REPARTIDO



*Rangel Alves da Costa


O bolo da política é sempre mal repartido. Na maioria das vezes, nem dividido é, pois sempre há quem se ache no direito de pegar o bolo para dividir e acaba abocanhando tudo sozinho. Talvez seja pela cobertura atraente demais ou pelo recheio apetitoso. A verdade é que uma vez com o bolo à mão, a ninguém mais será dado o direito de também abocanhar um tiquinho. A gula interminável da esperteza.
Assim acontece, por exemplo, nas “ajudas” que os candidatos - erroneamente - repassam àqueles que se dizem donos de votos. O candidato dá o bolo ao que se diz líder político e responsável pela justa divisão, mas nunca se assegura que tal compartilhamento, ou algo parecido com isso, vá ser feita mesmo. Quando se dá conta já é tarde demais. O espertalhão abocanhou o doce sozinho e os demais eleitores ficaram só chupando o dedo. E o dedo não foi lá na urna votar.
Em épocas eleitorais como agora, eis que surgem verdadeiros enxames de líderes políticos, com cada um pregando ter mais voto que o outro. Quem ganhou se arrastando para vereador logo diz que tem mais que o triplo de votos. Quem não teve nem cem votos, logo vende uma soma de mais de quinhentos votos. Até mesmo quem não conta nem com os votos de casa, acaba se achando no direito de vender os votos da rua inteira. Todos eles sempre asseguram de mãos entrecruzadas que o bondoso candidato - pois já lhe recheou os bolsos - sairá dali com uma votação estupenda, senão já eleito. Pura enganação.
O problema é que o candidato acredita, pois aceita ser enganado e vai logo acertando valores de mais “ajudas”. Caiu na lábia, acreditou que o povo presente naquele almoço é seu cativo eleitor. Acreditou que o povo presente apenas para matar a fome ali estava para lhe aplaudir e jurar seu voto na vida e na morte. Ainda assim pouca atenção dá ao eleitor, pois sempre achando que tudo já está acertado entre este e aquele de bolso já recheado. Assim, acreditando no mentiroso, ou seja, na falsa liderança, acaba desvalorizando aquele que é mais importante numa eleição: o eleitor, o simples eleitor, aquele de um voto só.
Tem um voto só, mas é este que vota, e não o espertalhão que abocanhou a “ajuda”. O que o espertalhão faz é o que a gente está vendo agora, ou seja, abocanhando dinheiro pela mentira, pelo voto do outro que sequer sabe que foi vendido, e a este não ajudando sequer com uma Melhoral. Quanto mais dinheiro é recebido em nome do povo mais o povo é esquecido. Quanto mais coloca dinheiro no bolso mais nega uma ajuda para comprar um remédio, para pagar uma conta de energia, para qualquer coisa que surja numa hora de dificuldade.
Está cheio de gente assim. Gente que pega dinheiro pelo voto do outro, mas depois banana para o eleitor, para aquele que fez parte do acerto sem saber. Ou será que as ditas lideranças políticas, tais como vereadores, prefeitos e outros, dão apoio de graça aos candidatos? De jeito nenhum. Todos eles recebem pelo voto dos outros. Quanto será que vale dois mil votos garantidos por um prefeito a um candidato ou quinhentos votos prometidos por um vereador? Sempre vale alguma coisa, e não é pouca coisa não.
Por mais que a compra e a venda de votos sejam crimes perante a legislação eleitoral, o que se tem é um mercado aberto. Político compra voto e político vende voto. Candidato compra voto e o povo vende voto. A negociata nunca acabou. Só que o candidato está comprando voto daquele que não tem os votos prometidos e deixando de lado o próprio votante. O dinheiro vai para o bolso do espertalhão e nada para aquele que não tem sequer um pão para o jantar. Não reclamaria se recebesse o pão, mas o problema é que não recebe nada. Tudo fica no bolso do político mercador.
Infelizmente, ainda existe a velha política dos currais. Gente é tratada como bicho votante e vendida apenas como parte da boiada. Até quando isso? Ora, até quando cada um quiser. Basta dizer que não aceita que seu voto seja vendido por liderança alguma, pois nem na dita liderança vota. E deixar isso bem claro: Não votar em candidato daquele que se diz líder político, não votar em candidato de vereador e não votar em candidato nem de prefeito nem de vice. Fazendo isso, depois seria bom saber como eles vão justificar os votos garantidos e não conseguidos.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: