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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Palavra Solta - e o vento me levou



*Rangel Alves da Costa


E o vento me levou... Tenho certeza que sim. Não estou aqui, não estou em mim, não sei onde estou. Tudo outono, tudo ressequido, tudo tão esmaecida, sem vida, sem vontade de nada. Dias existem que são assim. E hoje está um dia assim, de folhas secas e de solidão, de folhas soltas e desolação, de folhas murchas e de aflição. Já não tenho espelho, mas sei do meu olhar tristonho, de minha feição melancólica, do meu lábio trêmulo. Amante desamado, naufragado num mar de desesperanças. Aquele que fui já não sou. Sim, o vento me levou. Sem destino certo, apenas uma folha pelo ar, quem sabe se n’alguma janela estará o meu destino. Ou quem sabe se apenas uma queda entre as solidões mortas de chãos vazios e tristes desse outono de vida. Não, precisa mais soprar sobre mim sua palavra rancorosa nem seu adeus odioso. Vivemos primaveras demais. Tudo acaba. E chegam os outonos e as tristezas das folhas secas sendo levadas. Assim como sigo agora, assim como estou agora, na mudez desalentada dos que lacrimejam por si cima por cima de suas próprias folhas secas.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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