*Rangel Alves da Costa
Certa feita, após descer do alto de uma
montanha, um sábio se viu perante uma pergunta intrigante de seu discípulo. “Senhor,
por que os filhos nunca envelhecem para os pais?”.
Reflexivo por alguns instantes, mas logo o
sábio respondeu: “Qualquer entendimento sobre isso, deverá sempre partir da
certeza de que o filho nunca desaparta do seu ventre paterno e nem se afasta
completamente do cordão umbilical. O ventre é a junção materna. O cordão
umbilical é a junção paterna. Por isso mesmo, por mais que os filhos cresçam,
tornem-se adultos ou mesmo envelheçam, sempre continuarão como raízes fincadas
no solo de seus pais. Se minha mãe ainda estivesse entre nós, mesmo na minha
velhice eu ainda seria o seu menino. Do mesmo modo seria com meu pai. E com
você é igual. Jamais deixará de ser o menino, senão a criança, dos seus”.
De pleno sentido as palavras do sábio. Os
filhos, por mais idade que alcancem, jamais estarão completamente emancipados
perante os pais. É como tivessem de viver sempre sob a proteção dos seus. É
como se os pais não confiassem ao mundo ser dono daquilo que procriaram e gestaram
como filho eterno, e não como pessoa que possa mudar com a idade.
De vez em quando eu ouço pais já envelhecidos
tratando seus filhos como se fossem meninos. Não no cuidado em si, mas na forma
de expressar um sentimento de apossamento daquele ser como eternamente seu.
Perguntados onde os filhos estão, dizem que seus meninos estão viajando,
trabalhando ou coisa parecida.
As mães possuem uma abnegação ainda mais
forte. Mesmo que os filhos já tenham casado ou saído do lar familiar desde
muito, mas basta uma visita de reencontro para que a mãe comece a trata-los
como verdadeiras crianças. E pergunta se está bem, se está se alimento direito,
se está sentindo alguma enfermidade, se está se cuidando.
Passa a fazer sentido a expressão segundo a
qual o amor dos pais é eterno. Faz mais sentido ainda pela constatação de que
os filhos nunca são vistos como pessoas adultas, emancipadas, já donas de seu
próprios destinos, mas apenas como filhos. Aquele mesmo menino cuidado no
passado será o mesmo menino em qualquer idade que tiver.
A verdade é que os pais simplesmente não
aceitam abdicar de sua cria, muito menos para o mundo. Situações existem onde
as esposas ou esposos dos filhos casados se tornam verdadeiros estorvos aos
pais. Cria-se uma espécie de ciúme ou de proteção que acaba interferindo na
relação entre os casais.
Neste sentido, os pais sempre imaginam que
nada do que o mundo lá fora ofereça será melhor do que o encontrado em casa. A
mãe prepara uma comidinha especial por que o seu filho vai chegar. O pai caça
antigos brinquedos para trazer relembranças. O filho, já na idade adulta,
sempre fica meio sem jeito, ou mesmo sem entender. Mas não pode fugir dessa
proteção especial que lhe é dedicada.
Do mesmo modo que os pais toda hora saem à
porta quando suas crianças estão brincando na rua, logo adiante da casa, assim
também quando seus adolescentes ou de mais idade saem para a rua ao anoitecer.
Os pais até que deitam, até que tentam dormir, mas não há jeito. Sempre cheios
de preocupação, só conseguem dormir com a certeza de que já houve retorno.
Talvez até que os pais sintam vontade de que
seus filhos jamais saiam de casa, jamais se afastem de suas presenças, jamais
tenham um próprio destino. Parece absurdo, mas não é. Perante as ameaças do
mundo e a fragilidade do ser, os pais se acham no dever de ser escudo e proteção.
Daí tanto cuidarem de seus meninos, de suas meninas, de suas ternas crias.
Também um gesto de amor, de eterno e infinito
amor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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