*Rangel Alves da Costa
Não, não suporto mais. Já rasguei mil
cadernos e nenhum poema saiu do papel. Não aguento mais tanto isso: vento,
ventania, vendaval. As garrafas vazias de vinho estão pelos cantos. Os
cinzeiros transbordam de restos e restos. A valsa vienense já não me anima, um
noturno de Chopin só me faz entristecer muito mais. Deixei a janela aberta para
a noite entrar. Mas ela fugiu de mim, também a lua, também o vaga-lume que
vivia dentro de mim. Solidão, solidão, solidão. Por que o amor desamado lanha
corpo e vida, retorce e vira ao avesso, escraviza e faz chorar. Não, já rasguei
as fotografias. Quase corto meus beiços para não recordar mais os beijos. Pra
que quero braços se não tenho abraços? Que tudo escorra e tudo morra. Que tudo
se vá pra bem longe. Não sei se o abismo é muito profundo. Não sei. Mas avisto.
E como eu queria amar. Novamente amar, amar e amar...
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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