SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 16 de outubro de 2018

Palavra Solta - canção de grito interior



*Rangel Alves da Costa


Não, não suporto mais. Já rasguei mil cadernos e nenhum poema saiu do papel. Não aguento mais tanto isso: vento, ventania, vendaval. As garrafas vazias de vinho estão pelos cantos. Os cinzeiros transbordam de restos e restos. A valsa vienense já não me anima, um noturno de Chopin só me faz entristecer muito mais. Deixei a janela aberta para a noite entrar. Mas ela fugiu de mim, também a lua, também o vaga-lume que vivia dentro de mim. Solidão, solidão, solidão. Por que o amor desamado lanha corpo e vida, retorce e vira ao avesso, escraviza e faz chorar. Não, já rasguei as fotografias. Quase corto meus beiços para não recordar mais os beijos. Pra que quero braços se não tenho abraços? Que tudo escorra e tudo morra. Que tudo se vá pra bem longe. Não sei se o abismo é muito profundo. Não sei. Mas avisto. E como eu queria amar. Novamente amar, amar e amar...


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: