*Rangel Alves da Costa
Dona Guiomar Vito, já na beirada dos cem
anos, mas ainda em pé e firme na sua trajetória de luta, de tradições, de
cultura. Mora no mato, nos afastados da cidade, mas bastando que um folguedo se
assanhe pra ela chegar pertinho. E brincar, e cantar, e dançar, e rodar. Jamais
terei sabedoria igual a ela. Ela dança samba-de-coco por cima de meus anéis.
Ela dobra e redobra a embolada por cima de meus diplomas. Ela roda na roda,
bate a mão, bate o pé, e eu sem sair do lugar. Ela tem palavra bonita e sorriso
festeiro que faz humilhar minha altivez. Ela abre um livro de vida que nenhum
outro livro jamais me ensinou. Ela silencia e no silêncio diz muito mais que o
meu grito. Ela olha com um espelho tão profundo no olhar que logo se ressente o
medo de ouvir: menino, menino! Ela bate as palmas da mão como eu não sei fazer.
De sua voz ecoa a canção raiz, sai o canto ancestral, sai o retrato pulsante de
terreiros dançantes, de tambores alegres, de poeiras alucinadas pelos
compassos. E este sobrenome que carrega, este Vito de fulgor imemorial, é prova
maior que se eleva em pedestal.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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